De certa maneira, qualquer pessoa sabe como os correios trabalham. O
remetente posta sua carta na agência, esta carta é enviada para o endereço do
destinatário e entregue pelo carteiro. Este é um processo muito simples, se compararmos
com outras atividades, seja de serviço, seja de manufatura. Com o avanço tecnológico,
as operações e os processos tendem a ser cada vez mais complicados. Poder-se-ia dizer
que talvez não fosse o caso da atividade de correios, que aparentemente não apresenta
maiores complicações.
Via de regra, o usuário posta um objeto numa agência, ou o coloca em alguma caixa de
coleta que encontra nos logradouros públicos. Em seguida, esse objeto (junto com todos os
outros objetos que entraram no sistema naquela cidade, naquele dia) é levado para um
local nesta mesma cidade onde foi postado. Esse local separa os objetos por destino (que
pode ser a mesma cidade, cidades do mesmo Estado, cidades do mesmo país ou cidades de
outros países) e os encaminha. Esta carga consolidada então é transportada. No destino,
são separados em objetos destinados à cidades próximas e destinados àquela mesma
cidade. Os objetos destinados à cidades próximas são encaminhados e os destinados à
mesma cidade são por sua vez separados por bairros, por logradouros e, por último, por
residências. O carteiro então distribui os objetos destinados à sua área de trabalho,
seguindo a ordem de seu trajeto.
Ao realizarmos uma rápida análise dos processos acima, concluímos que os fatores
agregados mais importantes para a operação de correios são a coleta, o transporte, a
triagem e a entrega. Concluímos também que estes fatores estão inter-relacionados a
ponto de o equilíbrio entre a coleta e a entrega estar intimamente ligado à triagem e
transporte como causas diretas dos dois últimos elementos. Sendo assim, os valores
ótimos obtidos no problema de coleta e entrega isolados serão, muito provavelmente,
alterados em relação aos sistemas de triagem e transporte.
Desta forma, podemos dizer que é necessário desenvolver nossos processos a fim de
encontrar um volume adequado de triagem e transporte com o objetivo de manter a execução
apropriada de coleta e entrega. Em outras palavras: quando existe apenas um ponto de
coleta (todas a correspondências entram no sistema por um ponto) e um de entrega (todas
saem por outro ponto), a operação de coleta e entrega é mais difícil e a triagem e
transporte são mais fáceis, pois a triagem seria desnecessária e se maximizaria o
transporte consolidado de carga. De forma inversa, se o número de agências, caixas de
coleta e centros de onde saem os carteiros aumenta expressivamente, a coleta e entrega
tornar-se-ão mais fáceis e a triagem e transporte mais difíceis. Prevê-se, entretanto,
que se os pontos de coleta e entrega forem muitos, o processo tenderá a tornar-se
inversamente menos econômico. Portanto, é incorreto considerar que a relação seja
linear. De qualquer maneira, deve haver um ponto de equilíbrio entre os dois fenômenos
acima.
Este seria um pequeno exemplo de um problema do dia-a-dia dos Correios que mostra, em
primeiro lugar, que a operação postal não é tão simples assim e, em segundo, que esta
é uma área muito fértil para a aplicação de técnicas apuradas de pesquisa
operacional. Essa conclusão se torna mais clara se considerarmos outros problemas do
cotidiano dos correios, como por exemplo, problemas de movimentação interna de carga, de
layout de unidades de tratamento, de ergonomia, de transbordo de carga, de
técnicas de transporte, de tempo máximo de espera em fila nas agências, etc.
Em busca da modernidade
Os Correios, como todos sabem, são uma instituição que nasceu com a
sociedade organizada e, desde seus primórdios (época do famoso carteiro grego que
inventou a maratona, passando pela família Tasso na idade média até as operadoras de
correio que conhecemos hoje), sua forma de operar não se afasta muito do descrito no
início deste texto. Levando-se em consideração os conhecimentos e a experiência
acumulada através dos tempos, poder-se-ia concluir que uma empresa como os Correios
serve-se muito mais de sua experiência e heurística para a tomada de decisões
gerenciais. Há todo um patrimônio histórico de conhecimentos acumulados através dos
tempos que suporta a decisão do gerente, seja em nível estratégico, tático ou
operacional. Ou seja, até bem pouco tempo atrás, qualquer inovação no processo
certamente já havia sido tentada antes; assim, bastava ao gerente aprender com a
história.
Desde a sua criação, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) vem procurando
ser uma empresa eficiente. De acordo pesquisas, para a maioria da população brasileira,
este objetivo vem sendo alcançado. Possivelmente, a razão desse sucesso é a contínua
busca do desenvolvimento e a atitude de vanguarda em relação à maioria das empresas
brasileiras.
Sendo assim, a ECT está consciente de que os seus gerentes não podem mais decidir
consultando a sua experiência: não há mais espaço para desperdício e custos gerados
por operações e processos mal planejados e mal estudados. Cada centavo gasto inutilmente
corresponde a um espaço menor do mercado perdido para a concorrência.
O novo gerente da ECT é aquele que continuamente se atualiza, está aberto à inovação,
tem facilidade de abrir mão de paradigmas e considera que sua experiência simplesmente
é uma ferramenta a mais (dentre outras) que o ajudará a tomar as decisões mais
acertadas. Em conseqüência, o novo profissional da ECT deve conhecer bem as
potencialidades de outras ferramentas de que ele hoje dispõe para melhor decidir, sob
pena de não qualificar-se mais para seu cargo.
A ECT investe pesadamente nestas novas tecnologias, garantindo ao gerente eficiência nas
suas decisões. Ferramentas que usam a tecnologia de geoprocessamento, de otimização, de
roteirização, de planejamento tático e de análise ergonômica são alguns exemplos. É
nesse ambiente que se encaixa também a aquisição da ferramenta que disponibiliza a
tecnologia de simulação computacional.
Simulação computacional nos Correios
Simulação computacional é um meio de realizar experimentos com um
modelo detalhado que reproduza um sistema real a fim de determinar como o sistema responde
à mudanças em sua estrutura, em seu input ou em seu environment. Com a
ferramenta da simulação computacional e um modelo bem construído, o gerente poderá dar
respostas à questões importantes como a conveniência de se fazer ou não um
investimento. Outra utilização importante da simulação na ECT é reavaliar o sistema
atual frente a outras alternativas (cenários) de operação e assim conseguir com maior
rapidez e menor custo respostas sobre a conveniência ou não da implantação de um novo
processo de trabalho.
Na primeira parte da década de noventa, a ECT começou a utilizar a simulação
computacional. No início, se optou pela contratação de consultoria para a realização
de projetos definidos, até que, em 1996, a ECT iniciou o processo de aquisição de onze
licenças de uso de software de simulação computacional. A proposta vencedora foi
a da Belge Engenharia e Sistemas, representante do software ProModel.
A estratégia de disseminação da tecnologia
A disseminação da tecnologia de simulação computacional na ECT pode
ser então dividida em três etapas, sendo que a primeira se encerrou quando da conclusão
do processo de aquisição das licenças de uso do software.
A segunda etapa consiste na realização de uma estratégia de disseminação da
tecnologia, com o intuito de agregar à própria cultura organizacional da ECT o uso
contínuo desta ferramenta de decisão. Essa tarefa ficou a cargo da Diretoria de
Operações, por meio do Departamento de Planejamento Operacional. A estratégia de
disseminação consiste na escolha das Gerências que deverão receber o software,
na seleção dos técnicos que receberão treinamento no ProModel, o treinamento básico e
avançado e finalmente e aplicação prática do que foi aprendido em projetos
operacionais previstos no Plano de Negócios da empresa.
Com a posse da ferramenta e o corpo técnico treinado na utilização do software,
as principais áreas onde a Simulação Computacional pode ser utilizada na ECT são,
dentre outras: Atendimento (dimensionamento de agências, postos de trabalho e efetivo),
Tratamento (estudo da forma de trabalho de todas as unidades operacionais, em função da
carga recebida/expedida), Transporte (auxílio do estudo do dimensionamento da malha de
transporte aeroviário, rodoviário interestadual, rodoviário intermunicipal, etc.),
Distribuição/Coleta de objetos, Contabilidade de Custos (gerenciamento de custos,
supondo carga variável, utilizando método ABC), etc.
A escolha dos projetos em simulação caberá ao gerente regional que possuir licença do software
e tiver técnicos treinados na sua equipe de trabalho. O Departamento de Planejamento
Operacional (órgão central de coordenação) aprovará projetos, dará suporte e apoio
técnico. Este mesmo Departamento poderá também realizar projetos de simulação que
envolvam estudo em âmbito nacional ou para resolver casos específicos de gerências que
não possuem licença do software.
É verdade que a disseminação da tecnologia de simulação possui alguns obstáculos,
como a resistência de gerentes mais antigos ao uso do computador e às ferramentas de
alta tecnologia, o custo do levantamento de dados para a parametrização dos modelos, a
aplicabilidade da simulação para apoiar decisões que devem ser tomadas rapidamente
(devido ao tempo necessário para a construção do modelo), etc.
No momento atual, existem dezoito projetos - piloto em construção. A título de exemplo,
citamos alguns projetos:
O desafio está lançado.
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