O valor financeiro da confiança
A maioria dos problemas dentro de uma empresa pode ser definida
com falta de compromisso de algumas pessoas que fizeram promessas e depois não cumpriram.
Simples atrasos para reuniões, por exemplo, já evidenciam a falta de comprometimento.
Afinal, que tipo de exemplo dá o diretor que marca uma reunião para as 10 da manhã, e
depois chega às 11? Como esperar confiança da equipe depois, se ele mesmo não respeita
os pequenos detalhes que sinalizam comprometimento?
Para Arthur Ciancutti e Thomas Steding, autores de Built on Trust: gaining competitive
advantage in any organization (ainda sem tradução no Brasil), numa empresa onde
existem falsos compromissos, as pessoas simplesmente param de confiar umas nas outras,
muitas vezes começando elas mesmas a mentir naturalmente. O resultado é um círculo
vicioso desastroso, onde as pessoas não fazem o que disseram que iam fazer, e depois
inventam desculpas para se justificar. Seja qual for a área problemática dentro da
empresa, isso acaba sempre atingindo o cliente.
Embora possa não parecer à primeira vista, quase todo mundo quer ser produtivo, sabendo
que sua empresa é um lugar melhor para trabalhar por causa do que fazem. Os problemas
começam a surgir quando as pessoas pensam que sua oportunidade para contribuir foi
cortada. O que elas mais queriam já não está disponível, ou pelo menos é o que lhes
parece, e as pessoas desistem: tornam-se defensivas, fofocam, começam a
causar problemas, ou entram no piloto automático.
Nossa paixão por contribuir está sempre em equilíbrio delicado com nossos instintos de
proteção, causando importantes conseqüências emocionais (positivas ou negativas),
todas as vezes que nos arriscamos a contribuir.
Numa empresa normal, as pessoas às vezes podem contribuir e sentir-se o máximo. Em
outras vezes, vão querer morrer, achando que nunca deveriam ter aberto a boca. Ninguém
tem muita certeza do que vai acontecer, porque na verdade ninguém assumiu o controle da
direção emocional da empresa. Ninguém cria conscientemente um ambiente de confiança e
respeito.
Uma empresa na qual os funcionários confiam faz a balança do medo pender para o lado da
contribuição. Quando trabalhamos em ambiente confiável, sentimo-nos reforçados,
validados e suportados, mesmo que nossas idéias não sejam aceitas.
A confiança é um conceito duplo. Ela tem tanto um componente emocional quanto o
intelectual. A parte intelectual está baseada num histórico passado de performance que
confirma a confiança, ou a garantia assegurada da integridade, veracidade e justiça da
outra parte. Por já ter sido honesto e confiável antes, imaginamos que uma pessoa vá
ser honesta e confiável novamente.
O resultado ativo da confiança é acreditar na honestidade e integridade da liderança da
empresa. O resultado passivo é a ausência de preocupações e suspeitas, canalizando de
forma produtiva energias que de outra forma -, seriam dispersas negativamente.
Somos uma sociedade em busca de confiança. E quanto mais sua falta sentimos no
governo, nos negócios, em nossas relações pessoais -, mais preciosa ela se torna. A
organização que faz com que seus membros confiem uns nos outros, e que conquista a
confiança do público, cria uma vantagem competitiva poderosa.
Francis Fukuyama no seu livro Trust: The Social Virtues and the Creation of Prosperity
(Confiança: As Virtudes Sociais e a Criação de Prosperidade), examinou as
diferenças na prosperidade econômica de diferentes culturas e concluiu: "O bem
estar de uma nação, bem como sua habilidade em competir, está condicionada por uma
única e abrangente característica cultural: o nível de confiança inerente à
sociedade. Assim, ele acredita que o capital social representado pela
confiança será tão importante quanto capital físico.
Robert Putnam, autor de "The Prosperous Community: Social Capital and Public Life"
(A Comunidade Próspera: Capital Social e Vida Pública) cita "a confiança
que facilita a coordenação e a cooperação". Ele também relaciona as
possibilidades de sucesso com a abundância ou falta de capital social.
Quando as pessoas sentem-se livres para contribuir, uma rede maior de inteligência acaba
sendo criada, permitindo a criatividade e a inovação. Num ambiente baseado no medo,
somente revelamos o que consideramos seguro geralmente um pequena parte de nós. As
frustrações do dia acabam transformando-se em interações de Nós contra
eles. É uma energia imensa desperdiçada em suspeitas, problemas mal-resolvidos,
promessas quebradas, acordos pouco claros, não cumprimento de prazos e a propensão
generalizada em achar bodes expiatórios, fofocas, ressentimentos e frustração.
O Nós contra eles ocorre internamente todos os dias: Marketing contra Vendas,
Vendas contra Financeiro, Financeiro contra Compras, e assim por diante. Mas por que isso
acontece? Primeiro, porque existem acordos pouco claros, expectativas quebradas e
promessas (reais ou não) que não foram cumpridas. A segunda é que as pessoas realmente
se importam com seu trabalho se não, nem estariam discutindo ou tentando achar
culpados. O fato da mentalidade do Nós contra Eles existir internamente
significa que pelo menos as pessoas estão comprometidas o problema é que essa
energia não está sendo canalizada corretamente.
O compromisso é um envolvimento, uma intenção incondicional. Não significa que você
garanta o resultado prometido, mas sim que você assume o compromisso com toda a
intenção de garanti-lo. E, se por acaso descobrir que não vai conseguir, avisar
imediatamente.
Para aumentar o grau de confiança dentro de qualquer instituição, é preciso que
primeiro suas lideranças, e depois todo o conjunto de pessoas envolvidas, transforme-se
em terminadores ou completadores. Temos no Brasil a síndrome de iniciar
nossos planos impetuosamente e depois abandonar por falta de persistência, planejamento
e/ou dedicação.
Ser um terminador significa comunicar-se de maneira completa, chegando sempre a um acordo
específico sobre o que será feito, por quem, com uma data específica de término.
"Eu farei o relatório" não é completo porque não tem uma data de entrega.
"Farei o possível" não é completo porque não existe um acordo específico
sobre o que será feito. É fácil de ver como uma sucessão de coisas incompletas cria um
ambiente de incertezas, hesitação, dúvidas, desperdício de tempo e energia,
ressentimentos e falta de confiança. Para estimular a confiança, a liderança da empresa
deve estimular que a comunicação interna, independente da sua forma (verbal ou escrita),
seja 100% completa sempre. É a única forma de impedir que pequenos mal entendidos
acabem transformando-se em grandes problemas.
Raúl Candeloro,
Autor dos livros Venda Mais e Negócio Fechado,
é palestrante, editor da revista Técnicas de Venda e
responsável pelo site VendaMais
www.vendamais.com.br
candelo@zaz.com.br
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