No meu artigo "Roubo de carga - uma
situação preocupante", abordei sobre o grande problema que as empresas e
transportadoras vivem, com as seguidas investidas de quadrilhas especializadas neste tipo
de delito. Nele comentei também sobre as alternativas encontradas pelos profissionais de
logística para tentar amenizar/resolver o problema. Agora neste artigo estarei detalhando
mais sobre uma das opções mencionadas, que é a escolta para o transporte de cargas.
É um segmento que cresceu muito nos últimos anos, devido a grande procura por parte das
empresas, que tem seus produtos mais visados para roubo, como jóias, dinheiro, ticket de
alimentação, passes de transporte, eletro-eletrônicos, cigarros e remédios.
A grande maioria das empresas que atua neste setor, é de empresas de vigilância e
segurança patrimonial, que criaram esta nova divisão, justamente para aproveitar a
grande procura do mercado e por já terem know-how de segurança, autorização dos
órgãos competentes e conhecimento do meio.
Como consultor em logística fiz projetos para várias empresas que transportavam cargas
de valor, o que fez com que pudesse acompanhar mais de perto as operações práticas de
ação. As cargas foram as mais diversas, dentre as citadas acima.
Para se ter idéia das operações, descreverei mais detalhes a seguir, o que
evidentemente não comprometerá o mecanismo de atuação vigente, a segurança dos
participantes e o êxito das mesmas.
Nestas empresas, o projeto não era exclusivamente para abordar este assunto, mas era
parte integrante do mesmo, já que dependia do transporte para entregar seus produtos aos
clientes.
Tudo começa com a própria segurança do depósito/armazém, tipos de cofre, sistemas
infra-vermelho, sistemas de senhas, sistemas de abertura de tempo, sistemas de
identificação, câmeras, alarmes, etc. Tudo no mais completo sigilo absoluto, inclusive
para os próprios funcionários. Nunca a informação chave fica concentrada em somente
uma pessoa e sim em um conjunto delas, formando assim um quebra-cabeças.
Conhecendo mais de perto o trabalho dos líderes/gerentes responsáveis pela segurança e
escolta (geralmente ex-militares), pude ver o detalhamento das informações que possuem.
São as mais variadas em termos de subsídio para suas operações, contando inclusive com
estudo de fichas de procurados e quadrilhas especializadas em cada tipo de atuação de
roubo de carga.
A operação de transporte é impressionante, pois nos faz ver a que ponto chegamos em
termos de violência a que temos que combater. São vários veículos de segurança
espalhados pelo percurso, idêntico a uma operação de guerra mesmo. São batedores, que
vão checando o caminho com boa antecedência a passagem da carga, o(s) carros(s) de
frente, o(s) carro(s) que acompanham a carga e o(s) carro(s) de apoio/retaguarda. Tudo
muito bem disfarçado e que passa desapercebido pelos transeuntes e população em geral.
São profissionais altamente qualificados e treinados, motivo que faz com que seja o tipo
de saída mais onerosa para as empresas protegerem suas cargas.
Existem também os não tão profissionais. Costumo ver pelas ruas um carro civil
acompanhando outro carro ou um carro-forte, e na sua porta tem um nome de empresa de
segurança e está escrito no carro "escolta". Estes, com certeza trabalham
errado, pois chamam muito à atenção de todos e principalmente das quadrilhas que podem
identificar facilmente quem está participando da operação. De elemento-surpresa para o
inimigo, podem virar presas fáceis e o que é pior, expondo mais suas vidas. Só é
válido ou justificável este tipo de procedimento, quando é um blefe esta operação, ou
seja, todos pensam que a carga valiosa está sendo escoltada ali, e na verdade saiu
camuflada por outro caminho.
Para cada operação é montada uma estratégia e explicada/discutida exaustivamente com
toda equipe participante. Para cada situação prevista que possa ocorrer, são
programados planos alternativos de atuação e procedimentos.
Se a carga vai ser embarcada em transporte aéreo, toda a escolta fica até o embarque,
uma segue junto com o vôo e outra já está esperando a carga no destino.
Estes líderes/gerentes de segurança, juntamente com o gerente de operações da empresa
formam uma cúpula, semelhante as altas cúpulas dos exércitos, que na história
traçavam todas as estratégias logísticas nos campos de batalha.
Mesmo se assemelhando muito estes dois tipos de situação, não era até bem pouco tempo
atrás motivo de fazer parte da logística empresarial, já que haviam poucos casos.
Inclusive quase nenhum livro de logística até hoje dedicou capítulo para falar a
respeito ou mencionou algo.
Mas agora na prática já faz parte integrante da logística empresarial e até criamos em
2.000 no Guia Log, uma seção exclusiva de fornecedores de serviços de escolta.
Quando vemos nos noticiários sobre as guerras e guerrilhas pelo mundo ficamos chocados,
mas às vezes não nos damos conta que vivemos também todos os dias um outro tipo de
guerra, e o que é pior estamos bem no meio dela.
julho/2001
Marcos Valle Verlangieri,
Diretor da Vitrine Serviços de Informações S/C Ltda.,
empresa que criou e mantém o www.guiadelogistica.com.br
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