Um crescente grupo de empresas
começa descobrir que problemas são coisas que fazem parte do dia-a-dia da cadeia
logística como um todo e que devem ser controlados lá onde eles aparecem, seja no
início, no meio ou no fim da cadeia.
Até agora, muita ênfase tem sido dada a parte "front-office" da aplicação,
isto é, a tudo que diz respeito ao conjunto dos meios físicos, humanos, sistemas de
informações e processos permitindo o gerenciamento das interações diretas com o
cliente (equipe comercial, call-center, pontos de vendas etc). A parte
"back-office" (conjunto de meios permitindo o gerenciamento das operações sem
o contato direto com os clientes da empresa) ainda continua mal cuidada. Curiosamente, é
nesta parte que se concentram o grande número de necessidades das empresas.
A abordagem clássica da logística não favorece a comunicação das informações entre
os diferentes atores da cadeia (empresa, fornecedores, clientes e operadores logísticos),
pois a "ação" (ou melhor , a "reação") só ocorre quando o pedido
já foi desencadeado. Isto é, a empresa "X" pede a seu fornecedor "Y"
e este responde ao pedido sem uma prévia interação sobre a natureza (o que eu prefiro
chamar de "inteligência ou pertinência") do que está sendo solicitado.
Com a logística colaborativa, a empresa-cliente planeja suas necessidades com os
fornecedores gerando inúmeros ganhos: simplificação de procedimentos administrativos,
redução dos custos ( com a otimização dos estoques ) e brutal melhoria da taxa de
serviços.
A logística colaborativa é parte integrante oficial da filosofia da engenharia
simultânea nas empresas . Nesta filosofia, todas as áreas funcionais (agregando valor no
desenvolvimento, fabricação, comercialização e distribuição dos produtos) interagem
com as demais de tal forma que no resultado final nada de verdadeiramente importante seja
esquecido. Ao contrário, tudo é pensado e executado de forma integrada.
A logística colaborativa nada mais é do que praticar a engenharia simultânea quanto as
necessidades ao longo de toda a cadeia. Por esta razão os ganhos estimados com a
implantação da logística colaborativa são naturalmente bem mais importantes que na
abordagem tradicional da logística. Na abordagem tradicional, os ganhos de custos se
limitam praticamente às operações de transportes. Na abordagem colaborativa, com a
logística pensada e definida desde o início do projeto , muitos são os ganhos: além de
melhor controle do custo de transporte, tem-se a eliminação de estoques desnecessários
(pois supérfluos, inadaptados ou obsoletos). A logística colaborativa inverte o
percentual que representa a forma como as encomendas são gerenciadas: na abordagem
clássica, 20% das encomendas são planejadas e 80% são tratadas no "sufoco",
sempre na urgência. Na abordagem colaborativa, 80% das encomendas são planejadas,
reduzindo consideravelmente a margem de improviso.
A colaboração supõe múltiplas parcerias, parcerias estas apoiadas no chamado CPFR (
Collaborative Planning Forecasting and Replenishment), sistema de controle colaborativo
que permite elaborar previsões de vendas, o planejamento da produção e da
distribuição de forma a otimizar o equilíbrio entre o melhor custo e a melhor taxa de
serviço. Neste caso e para ser eficaz, a colaboração supõe extrema confiança entre
parceiros, uma vez que eles partilham informações ao nível estratégico de seus planos
comerciais. Na atualidade, e mesmo nos USA, ainda é tímida a troca de informações
entre parceiros através do canal aberto pela internet ( 28%). Entretanto, já a partir de
2002, existe a previsão de que as empresas (americanas !) estejam trocando 88% das
informações relativas à supply chain pela rede mundial de computadores. Isto significa
que a tendência continua sendo a redução dos ciclos e a aceleração dos fluxos na
cadeia, com fortes repercussões na maneira de se trabalhar na parte de aprovisionamento e
na parte de distribuição.
Neste cenário, a logística colaborativa tem a missão de assegurar a partilha do
crescente volume de informação entre parceiros e o desafio de facilitar todas as
operações de compras e vendas. Isto significa que, por exemplo, os fornecedores
deverão, de forma atualizada, receber instantaneamente as necessidades dos clientes em
seus sistemas informatizados de gestão de encomendas. É desnecessário detalhar aqui as
repercussões de tal prática: haverá um forte impacto nos custos da cadeia em
decorrência da integração inteligente de todas as atividades de planejamento e controle
empresarial. Em sua implantação madura, a logística colaborativa irá consolidar o real
significado do "e-logistics" e, por extensão, a estruturação otimizada da
empresa virtual com o monitoramento de um 4 PL (Fourth Party Logistics). No Brasil, o
atual cenário da logística em termos organizacionais e tecnológicos nos autoriza
afirmar que a implantação da desejada "logística colaborativa" deverá ser
acompanhada de muitas e importantes mudanças no comportamento empresarial.
Darli Rodrigues Vieira,
Ph.D., Professor na UFPR e Consultor, onde coordena o MBA em Gerência de Sistemas
Logísticos. Consultor em Logística & Sistemas de Produção e Gerência de Projetos.
Visiting Professor na Université Sorbonne (FRança) e na Laval University (Canadá).
darli.vieira@mais.sul.com.br
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