A FUNÇÃO COMPRAS COMO POTENCIAL FONTE DE COMPETITIVIDADE
"As empresas deveriam comprar
para vender e não somente com foco em produzir".
Notar a real importância da função Compras como potencial fonte de competitividade,
é fundamental para a empresa que deseja estar participando eficazmente de seu mercado no
presente e no futuro.
Considerando a totalidade do valor econômico de seu produto, as Compras devem ser
devidamente focadas dentro de sua estratégia de competitividade, considerando o real peso
do que está a montante dela.
Na estrutura de custos de uma empresa, economizar 5% na função Compras pode representar
um acréscimo de até 30% do resultado líquido, de acordo com o segmento (e de acordo com
a margem de contribuição do produto).
Para uma indústria de bens de consumo, por exemplo: comparativamente, um esforço de 5%
em Compras equivale a economizar em torno de 15% com gastos gerais administrativos ou em
até 20% com gastos de mão-de-obra produtiva.
Ainda hoje se foca a produtividade interna da empresa como principal fonte de ganhos
econômicos. Mesmo organizações que levaram à exaustão seus processos produtivos e
administrativos ainda permanecem com grande atenção nessas áreas.
No entanto, existem sérias razões para integrar a função de Compras na concepção da
competitividade.
Na Nova Economia, ser competitivo não é, predominantemente, somente uma questão de
preço dos produtos no ponto de venda. São fatores tão importantes quanto preço e
serviços agregados ao produto: a capacidade de diferenciação dos produtos e a
velocidade em que ocorre a inovação.
Avanços decisivos em qualidade e novos meios de comercialização também são fatores
mais percebidos hoje do que no passado.
Mesmo nos setores de "commodities" básicas, o achatamento de preço exigido
pelo mercado contribui para colocar para a função Compras, a missão de manter ou, até
mesmo, restaurar a margem de rentabilidade.
Uma empresa que busca melhorar sua performance de mercado tem na sua cadeia de
fornecimento, um importante aliado que pode favorecer, acelerar ou, ao contrário, vir a
representar obstáculos ao sucesso de sua estratégia.
Nos setores de consumo (alimentos, bebidas e cosméticos, por exemplo), criatividade e
inovação tecnológica têm sido bastante usados para trazer maior competitividade às
empresas.
Recentemente, atendendo um novo projeto para uma grande indústria multinacional do
mercado de consumo, que encontrava-se em franca renovação de seus processos produtivos,
pudemos colocar em prática duas interessantes oportunidades que trouxeram resultados
econômicos positivos não só para a empresa em si mas para outras empresas participantes
de seu "supply chain":
Ambos contratos, de longo prazo e prevendo aumento de volumes a serem fornecidos, foram vantajosos também para os provedores, que assim passam a crescer junto ao negócio de seu cliente (Cliente? Parceiro parece ser o termo mais adequado...).
Estratégia Efetiva de Suprimentos
A visão de concentrar as Compras em poucos fornecedores, buscando sua otimização
em termos de preço e serviço, deve ser expandida para a concepção de efetiva
estratégia de suprimentos como importante alavanca para a competitividade da empresa.
Fornecedor e Cliente devem buscar mais do que somente boas negociações econômicas para
ambos. Os fornecedores podem trazer para seu cliente reais vantagens e diferenciação,
como:
A direção de Compras deve ter um ponto de vista
realista em relação às possibilidades de se obter uma ou mais dessas vantagens.
Na fase de definição da estratégia, deve-se considerar a evolução dos recursos e
organização interna da empresa, visando tornar a parceria com o mercado provedor
realmente mais eficaz.
Deve-se considerar as possibilidades para subcontratações amplas, concentrando-se sobre
os elos da cadeia onde o valor acrescido possa ser diferenciado.
Visando tornar-se cada vez mais competitiva, a empresa tende a se concentrar em suas
competências essenciais e externalizar o restante. Nos últimos anos, as empresas têm
usado o recurso de "outsourcing" de uma forma mais ampliada e na maioria dos
casos têm obtido ótimos resultados.
Enquanto no passado os contratos "terceirizados" eram restritos às atividades
de restaurante, informática e segurança patrimonial, hoje, vemos um mercado de serviços
suficientemente maduro para atender as funções de "procurement",
contabilidade, almoxarifado, projetos "turn-key", manutenção e administração
de recursos humanos.
Distorções na função Compras
Pode-se observar as distorções ou disfunções que as Compras ainda sofrem, devido
aos seu posicionamento estratégico inadequado em algumas empresas, infelizmente não
poucas. As mais freqüentes são:
Exemplificando, não é suficiente ter obtido um ótimo contrato de aluguel de tanques de um terminal marítimo, se a tributação naquele local é mais alta, ou a produtividade daquela área portuária é baixa. A reflexão sobre as Compras deve levar em conta a cadeia de valor como um todo: no caso das matérias-primas, o transporte, a estocagem, o comportamento no processo de fabricação e os controles de qualidade são importantíssimos para todo o negócio comercial da empresa.
...levando a uma perda do efeito volume, o que limita a eficácia das negociações, além de promover uma diversidade técnica e de qualidade dos processos produtivos, dentro da mesma empresa. É, por exemplo, o caso de plantas industriais e centros de distribuição de um mesmo grupo, que compram separadamente os materiais e serviços. Os departamentos de Compras acham-se reduzidos ao nível de regularizadores dos pedidos passados pelos outros departamentos da empresa, sem possibilidade de contribuir para um verdadeiro valor acrescido.
Entende-se pela Compra, o processo que busca condições
de custo (e não somente de preço) e de serviço de uma despesa, quer se trate de um
gasto ou de um investimento. Quanto ao Aprovisionamento, trata-se do processo pelo qual um
dado bem ou serviço é encaminhado fisicamente para a empresa, em geral sob condições
de um contrato ou de um acordo pré-existente.
Ao confundir estes dois processos, corre-se o risco de se perder escala junto aos
provedores, visto que se aumenta o número de compras em pequenas quantidades realizadas
sem maior visão de negócio, geradas devido a necessidades pontuais e sem busca por uma
otimização global.
Falta de informações de gestão adequadas.
É o caso quando as informações tornadas disponíveis são somente de natureza
financeira ou administrativa, servindo apenas à finalidade de análise requerida pela
função Compras. Os indicadores de performance costumam enxergar a empresa de frente para
trás, por exemplo: volume de compras por fornecedor/ família de compras, conta de
suprimentos por comprador, velocidade de realização de um pedido de compra, peso da
empresa junto a seus fornecedores, etc.
Conclusão
Em muitos casos, pela falta de definição funcional do bem ou do serviço a
ser comprado, toda a responsabilidade da expressão das necessidades é deixada para os
serviços técnicos e para os usuários, privando, assim, o processo de Compras de toda
sua capacidade de arbitragem, limitando sua eficácia e impossibilitando soluções
alternativas mais adequadas.
As organizações que desejam otimizar o potencial de contribuição de sua função
Compras para que seus resultados de negócios sejam realmente muito positivos, devem
basear seus esforços no conceito de Transversalidade, tendo os Compradores como
Agentes de Contribuição na Cadeia Operativa.
O conceito é integrar naturalmente a função Compras à montante, ou seja, evoluindo
no vetor "clientefornecedor" para o posto de "contribuidores",
atuando diretamente sobre os potenciais de ganhos transversais comuns.
Com efeito, a experiência mostra as vantagens em integrar a função Compras na
definição das necessidades do negócio, desde a sua fase de concepção, permitindo,
assim, ganhos quantitativos de mais de 20% no valor da cadeia operativa, e ganhos
intangíveis de enorme valor agregado para seus clientes.
novembro/2001
Rafael Herrera,
Consultor
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