A LOGÍSTICA E AS
DIMENSÕES ECONÔMICAS
A necessidade de administrar as diferenças
espaciais entre produção e consumo, gerou o interesse pela educação formal em
logística. Em 1901 foi publicado o primeiro texto sobre custos de distribuição de
produtos agrícolas pois, nos USA, as áreas de produção se tornavam mais distantes dos
grandes mercados de consumo.
Em 1916, Weld discute em Harvard os aspectos estratégicos relativos aos serviços de
transporte de bens industriais para as fronteiras agrícolas do Midwest que por sua vez
forneciam cereais para os centros urbanos da costa Atlântica. Estes fluxos ocorriam em
lugares distantes e em tempos diferentes. Nota-se então que as variáveis de tempo e de
lugar são consideradas em conjunto como instrumentos de marketing e distribuição em
massa. Weld dedicou muita atenção à concepção dos canais de distribuição e também
definiu marketing como um processo que somente se concretiza com a dinâmica dos fluxos
físicos de produtos de um lado e com a troca de informações em sentido contrário
(tempo + lugar + informação).
Em 1960 a Michigan State University, desenvolveu e iniciou os primeiros cursos formais
para treinamento de "logisticians" práticos e acadêmicos. Foi desta iniciativa
é que surgiram os fundadores acadêmicos, que em conjunto com estrategistas do exército
reuniram conhecimentos da logística militar para uma ampla aplicação e utilização em
atividades domésticas. Em 1969, o professor Donald Bowersox sustenta em um artigo no
Journal ou Marketing, o conceito de integração entre marketing e administração
logística (tempo + lugar + forma + posse).
Nesta concepção as transações que legitimam o processo e todas as funções do sistema
de Marketing não são efetivadas sem que exista a coordenação e a conjunção de
atividades de marketing e a dinâmica dos fluxos físicos de produtos e dos fluxos de
comunicação ao longo dos canais de distribuição.
Nas economias de planejamento centralizado onde haja excessiva intervenção associada à
ausência de infra-estrutura que dê suporte às atividades de transporte e armazenagem
pode-se observar varias disfunções no processo de distribuição: enquanto nos grandes
mercados urbanos há escassez, aumento de preços e sonegação, nos pontos de produção
nota-se perda de produtos, queda acentuada de preços de produtos primários e matérias
primas., falta de armazéns adequados, dificuldades de transporte e sistemas de transporte
obsoletos e sucateados. Nestes cenários é fácil detectar que a macro estrutura é o
fator determinante para que não sejam geradas as utilidades de tempo e de lugar. Outro
aspecto primordial da ineficiência do processo distributivo é relacionado com a falta de
conhecimento e inércia de certos agentes econômicos que amparados por um quadro
inflacionário crônico ignoraram a importância das variáveis temporais e espaciais como
complemento indispensável às atividades financeiras e de produção: a preferência
destes agentes permanecia com as diretrizes de margens altas e pequenos volumes, mesmo
porque não sofriam concorrência de outros mercados nacionais, pois os esquemas de
distribuição eram em sua maioria de caráter regional.
A tendência à globalização da economia, bem como a criação e implantação de zonas
de livre comércio como o NAFTA e MERCOSUL fazem óbvia a aderência às técnicas
logísticas que sejam adequadas para efetivação de utilidades de tempo e de lugar como
uma forma racional de criar valor agregado às transações de mercado.
O crescimento dos mercados nacionais e internacionais, a expansão das linhas de produtos
e as possibilidades enormes das telecomunicações, fazem da distribuição e do processo
logístico um conjunto importante das operações gerenciais. As chamadas fronteiras
logísticas em geral são consideradas como as últimas etapas que podem ser exploradas
para aumentar a praticabilidade das empresas de qualquer categoria de obter a manter
"vantagens diferenciais competitivas".
As atividades logísticas afetam os índices de preços, custos financeiros,
produtividade, custos de energia e satisfação dos clientes.
Com o progresso industrial a disponibilidade de ofertas mais amplas por parte de mais
competidores ocorre simultaneamente à agilidade de escolha de fontes de suprimento e de
compra muito mais amplas, desta forma o mercado espera e exige níveis de serviço de
maior eficiência e efetividade.
O aumento das atividades nos setores de agricultura, indústria, comércio e exportação
propiciou o surgimento de mercados regionais, nacionais e internacionais. Nestes mercados
as funções e atividades de distribuição tornam-se ao mesmo tempo mais complexas e
relevantes, pois o ponto de produção distancia-se significativamente dos pontos de
demanda e consumo. Como requisito fundamental a gestão destas operações não podem ser
mais executadas de modo empírico, sob pena das empresas que operam desta forma não
apresentarem condições de competir ou de perderem rapidamente suas posições de
mercado. Neste contexto há danos de natureza macroeconômica para economia como um todo
mas também para os consumidores que comprar menos com maior dificuldade de oferta, com
qualidade inferior, a preços inflados pela ineficiência de funções logísticas.
O período atual da economia brasileira apresenta desafios e oportunidades no que tange
às práticas de administração logística. Entre os fatores desfavoráveis ou
limitativos devem ser citados: as péssimas condições das redes ferroviárias -
limitadas, obsoletas e sucateadas: a
malha rodoviária em condições precárias, sem investimentos em expansão e manutenção
nos últimos 20 anos: e portos de capacidade e calado reduzidos, sem equipamentos atuais
que permitam conexões inter-modais e rotinas de embarque e desembarque rápidas e de
custo razoável, legislação tarifária e trabalhista incompatíveis com sistemas
similares nos USA, Leste Europeu e Franja Asiática. No setor internacional, quer para
importar quer para exportar as empresas enfrentam leis e estruturas alfandegárias ainda
de perfil colonial e as operações de comércio internacional sofrem ônus
desnecessários originado de tarifas abusivas, processo burocrático hipertrofiado e
armazéns sem dispositivos modernos para processamento, remessa e desembaraço de cargas.
Entre os fatores favoráveis podem ser ressaltados a oferta de produtos primários que
ainda apresentam custos comparativos positivos, o custo de mão-de-obra agrícola e
industrial, estabilidade recente do nível de preços dos combustíveis, oferta ampliada
de unidades de transporte rodoviário com características modernas e redução da
tributação das importações.
A gestão eficiente do fluxo de bens e serviços do ponto de origem ao ponto de consumo ou
uso ao nível micro requer de, maneira seqüencial, o planejamento, a programação e o
controle de um conjunto amplo de atividades que reúnem:
1 - matérias-primas
2 - estoques em processamento
3 - produtos acabados
4 - serviços e informações disponíveis
Como resultado da administração destas atividades gera-se o movimento de produtos e
serviços aos consumidores e usuários, havendo como decorrência a geração das chamadas
utilidades de tempo ou de lugar, que por sua vez são fatores fundamentais para as
atividades de marketing.
Marketing e logística em conjunto representam um papel fundamental na satisfação dos
consumidores e na lucratividade das empresas.
A integração entre marketing e logística gera os seguintes fatores positivos para a
empresa no que tange a sua sobrevivência ou lucratividade a longo prazo:
1 - níveis de serviços ótimos e competitivos
2 - vendas efetivas - com menor falta de estoque
3 - redução dos custos totais
4 - controles e gestão de estoques nos diversos escalões do processo de produção e
distribuição.
5 - geração, difusão e controle dos fluxos de informações.
6 - pesquisa e desenvolvimento de fornecedores (sourcing)
Como resultado das ações de marketing e logística são efetivadas as utilidades de
forma e de posse que completam o processo de marketing. Um exemplo típico deste processo
são as remessas rápidas de peças de reposição para equipamentos pesados e entrega
imediata de artigos de moda cuja demanda varia em função da estação e dos estilos.
Para movimentação de bens perecíveis as atividades logísticas de transporte e
armazenagem são um pressuposto essencial relacionado com qualidade da oferta,
abastecimento, nível de preços ao consumidor e lucratividade na cadeia produtiva.
Saumíneo da Silva Nascimento,
Economista, Mestre em Geografia, Agente de
Exportações do Banco do Nordeste em Sergipe e Instrutor de Comércio Exterior pela
Secretaria de Comércio Exterior.
saumineo@banconordeste.gov.br
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