Inove ou morra? Ou inove e morra?
Criou-se
uma mentalidade de que a inovação é divertida e desejável (coisa de gente
inteligente), enquanto que o trabalho rotineiro é chato e pouco valioso (trabalho
braçal). Tom Peters, por exemplo, infernizou a vida de todo mundo dizendo que todos nós
devemos inovar o tempo inteiro. Obviamente isso é impossível de fazer, e até
destrutivo, mas mesmo assim tem gente preocupada porque passou 24 horas sem ter uma idéia
genial.
Segundo Robert Sutton, professor de administração em Stanford, ao invés de pensar
Inove ou morra, algumas pessoas deveriam pensar Inove e morra,
porque muitas novas idéias e práticas são simplesmente péssimas, e muitas das idéias
e práticas antigas são muito boas é por isso que sobrevivem até hoje.
Entretanto, também não podemos ficar estacionados no tempo, enquanto os concorrentes
melhoram. O que precisamos, então, é descobrir um jeito de criar novas idéias que sejam
realmente produtivas. Acontece que muitas pessoas falam que querem inovação e
criatividade dentro da empresa, mas não querem mexer nos seus preconceitos nem mudar sua
forma de trabalhar.
Criatividade, já disse um pensador , é olhar o que todo mundo olhou e ver o que ninguém
viu. Para conseguir essa visão diferenciada, precisamos de gente nova ou gente diferente
na empresa. Infelizmente, com grande freqüência encontramos nas empresas pessoas com
perfis muito parecidos e visões parecidas do mundo, da concorrência, do mercado, etc.
Pela minha experiência, pessoas contestadoras duram pouco em empresas brasileiras.
Afinal, somos treinados desde a infância a aceitar o que nos dizem e não questionar
muito.
Mas precisamos de mais gente questionando se quisermos novos conceitos sendo desenvolvidos
internamente afinal, não podemos ficar eternamente atrás da concorrência,
copiando tudo o que os outros fazem, sempre um passo atrás.
Para surgirem boas idéias, precisamos ter muitas idéias - a maioria ruins. Ao analisar o
trabalho de alguns gênios artísticos, Sutton descobriu que essas pessoas não tinham uma
porcentagem maior de sucessos elas simplesmente produziam muito mais, e de formas
diferentes. Ou seja, tinham mais sucessos, mas também mais fracassos. Isso funciona para
empresas também.
Todos odiamos o fracasso, mas a verdade é que até hoje ninguém conseguiu descobrir um
jeito de só ter idéias boas. Não existe bola de cristal que nos ajude a prever se uma
idéia vai realmente decolar ou não. Analise sua própria empresa: quantas vezes um
produto ou serviço que tinha tudo para dar certo acabou com uma performance medíocre?
Quantas vezes somos surpreendidos por um produto ou serviço que alcança resultados
positivos inesperados? Isso acontece o tempo inteiro: é quase impossível prever
resultados concretos, por mais bagagem que sua equipe tenha.
Somos tão ruins em prever sucessos e fracassos que muitas vezes a única forma de
descobrir se alguma coisa vai funcionar ou não é experimentando.
Mas o que fazer se não funcionar? A maioria das empresas castiga de alguma forma as
pessoas envolvidas no projeto, ao invés de aprender com o assunto. Só que a verdadeira
aprendizagem ocorre quando as coisas dão errado. Alguém que só teve sucessos não
aprendeu muita coisa, e possivelmente não saberá o que fazer caso alguma coisa diferente
ocorra.
Logo, as empresas têm que estimular novos projetos, estimular sucessos, dissecar e
aprender com os fracassos e somente castigar a falta de atividade (principalmente mental)
este sim o maior pecado que podemos cometer.
Um dado interessante: de acordo com Sutton, que estudou profundamente o assunto, a melhor
forma de fazer com que uma idéia funcione é acreditando nela de verdade. Mais de 500
estudos realizados até hoje demonstram claramente que a crença no sucesso de uma idéia,
mesmo que sejam necessárias determinação e persistência, ajudam enormemente na sua
realização.
O engraçado é que até mesmo acreditar firmemente em idéias erradas pode fazer com que
elas acabem dando certo, pois mais uma vez a determinação e a persistência fazem com
que as pessoas continuem lutando e se adaptando, transformando o conceito original errado
em algo que no final dá certo.
E é isso o que realmente importa: dar certo. Para Sutton, a chave do sucesso a longo
prazo não é a habilidade de inventar novos produtos ou serviços, mas sim a capacidade
de adaptação, inventando novas formas de pensar e agir.
Existe uma verdade pouco comentada sobre a criatividade lucrativa: muitas vezes, os
melhores resultados são conseguidos simplesmente copiando idéias antigas, adaptando-as
para as novas condições, de novas formas, em novos lugares, novas combinações, etc.
Num mundo em que temos concorrentes cada vez mais agressivos, consumidores cada vez mais
exigentes, e condições de mercado mudando a toda hora, a criatividade é sem dúvida
alguma um grande diferencial competitivo. Entretanto, a criatividade causa desconforto,
pois ela, por definição, muda a forma pela qual vemos o mundo e fazemos as coisas.
Para sobreviver e prosperar um condições cada vez mais complicadas, precisamos aprender
a lidar com esse desconforto. Mais do que isso, temos que fazer todos na empresa
aprenderem a lidar (e aceitar) as mudanças, e até mesmo encorajá-las e estimulá-las,
para não correr o risco de terminarmos rodeados de dinossauros. E quem não conseguir se
adaptar será inexoravelmente extinto.
O segredo então é continuar inovando, sem deixar de lado o que já está funcionando.
Vamos aprender com nossos erros e continuar fazendo o que vem dando certo, adaptando as
novas idéias de sucesso ao que já vem sendo feito. Quem fizer isso com certeza vai
ganhar muito dinheiro.
fevereiro/2002
Raúl Candeloro ( www.raulcandeloro.com.br ),
Autor dos livros Venda Mais e Negócio Fechado,
é palestrante e editor da revista Venda Mais® e responsável pelo site
VendaMais®
www.vendamais.com.br candelo@zaz.com.br
Esta página é parte integrante do www.guiadelogistica.com.br .