Introdução
Quando se trata de uma atividade de transporte aéreo, não se pode prescindir de uma
análise do cenário globalizado, haja vista a quase não existência de fronteiras
limitadoras das atividades desse modal.
Com informações recentes obtidas junto à IATA (International Air Transport Association)
e ICAO (International Civil Aviation Organization), através de uma visita técnica pelo
autor deste trabalho aos seus escritórios-sede em Montreal, Canadá, foi possível
delinear um horizonte que se estenda pelos próximos anos (2002-2005) e que estabeleça as
possíveis tendências das operações aéreas no Brasil, quer de passageiros como de
cargas.
Esta breve análise abordará os seguintes tópicos:
· A Economia Mundial e a Situação do Brasil
· A Aviação e o Mercado Financeiro
· A Estruturação Estratégica da Aviação
· A Roteirização das Cargas Aéreas
· Os Sistemas de Informação
· As "Ameaças" do Cenário Futuro
A Economia Mundial e a Situação do Brasil
É bastante nítida, nos dias atuais, a aceleração da globalização de todo o processo
comercial e da privatização de diversos órgãos públicos que ocorre em inúmeros
países. Isso significa uma facilitação para que empresas adquiram e mantenham seus
próprios bens patrimoniais no exterior, a custos mais suportáveis e, conseqüentemente,
em áreas cada vez mais abrangentes.
A economia mundial, ao que parece, tende a permanecer estável apesar de algumas
"sombras" eventualmente surgirem no horizonte, como é o recente caso da crise
econômica da Argentina e o desaquecimento da economia americana. A inflação brasileira,
mesmo mantida sob algum controle, tenderá ao crescimento, haja vista que serão grandes
as pressões sobre os preços do petróleo no mercado internacional e a conseqüente alta
nos combustíveis, principalmente nos de maior valor agregado, como é o caso do querosene
de aviação.
A indústria aeronáutica, por outro lado, terá um grande crescimento. Essa tendência é
facilmente notada através das intenções de compra, a médio e a longo prazo, de
aeronaves e sistemas que foram lançados nas últimas grandes feiras internacionais de
aviação.
A liberalização do comércio internacional deverá, gradativamente, conquistar o
planeta, apesar dos protestos por parte de alguns países. Os focos principais dessas
mudanças estarão na forma da prestação de serviços e no desenvolvimento dos grandes
blocos regionais de interesse comercial.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) e os grandes bancos de fomento ao desenvolvimento
tenderão a manter uma pressão norteadora das políticas econômicas, principalmente
junto aos mercados emergentes, como o brasileiro.
Finalmente, pode-se afirmar que as políticas relativas ao meio-ambiente serão mais
severas e de maior influência nas operações dos serviços de transporte que sejam
consideradas prejudiciais (a aviação detém alguns elevados índices de poluição
ambiental como níveis de ruído, contaminação das altas camadas da atmosfera e, no caso
de acidentes, contaminação dos locais pelo combustível derramado ou pelos produtos
radioativos de alguns equipamentos de bordo).
Esse quadro, portanto, induz à cautela: as empresas de transporte aéreo devem considerar
seus investimentos nos atributos de capacidade de carga e desempenho das aeronaves, na
conquista de um nicho em um espaço regionalizado das atividades de transporte de cargas
e, principalmente, na captação de recursos e formas de pagamento.
A Aviação e o Mercado Financeiro
Segundo a IATA o movimento de passageiros deverá manter um crescimento anual entre
5 e 6%. Espera-se, também, que alguns países da América do Sul (principalmente o
Brasil) e da Ásia, obtenham índices bem acima dessa previsão de valores.
O mercado de cargas aéreas, influenciado pelo e-commerce e pela conquista de novos
clientes internacionais, deverá ter um crescimento ainda maior: acima de 7% ao ano.
Pode-se, aqui, delinear também que esse cenário será dominado pelas empresas de
transporte aéreo que tenham as condições operacionais que melhor atendam à demanda:
equipamentos, custos e qualidade, assim:
· serão ainda mais necessárias as fusões entre empresas aéreas para a sua
sobrevivência;
· as empresas de menor porte tenderão ao fechamento;
· as empresas aéreas serão envolvidas nos sistemas multimodais de transporte (através
dos chamados "aeroportos industriais");
· novas aeronaves, cujo desempenho seja compatível com os custos operacionais e
imposições ambientais tornarão, de forma rápida, obsoletas a grande
maioria das hoje existentes no mercado.
Assim, pode-se concluir que o controle da agregação de custos aos serviços de
transporte aéreo, reflexo das regulamentações sobre segurança, meio-ambiente,
sindicatos e combustíveis, entre outros, deverá ter alta prioridade do Governo, para que
não seja inviabilizada a conquista e a manutenção dessa atividade comercial que, a cada
dia, se torna a mais disputada ferramenta no cenário do comércio mundial.
A Estruturação Estratégica da Aviação
Já são corriqueiras, nos dias de hoje, as "alianças" entre as grandes
empresas aéreas (como, por exemplo, a Star Alliance da qual a VARIG faz parte).
Com resultados
comprovadamente positivos, a tendência dessas colusões será a de tornarem-se uma
ferramenta comum no planejamento de cenários futuros ligados ao desenvolvimento das
atividades de transporte aéreo. Suas características básicas, entretanto, deverão
permanecer as mesmas, ou seja:
· a composição das associações permanecerá volátil, porém algumas empresas
manter-se-ão firmes, direcionando os objetivos e as atividades do grupo
(funcionando como core members );
· os escalões administrativos terão melhor integração e coordenação entre si, com
isso adquirindo uma maior estabilidade, necessária ao desempenho operacional da aliança
como um todo;
· Com essa sinergia adquirida, o foco poderá ser dirigido, de uma forma mais objetiva,
ao processo de redução de custos através de uma mais eficaz aplicação de programas da
qualidade.
A tendência na manutenção das unidades de
negócios (internas) e a
terceirização das atividades não-essenciais poderá induzir as empresas aéreas a se
tornarem grandes conglomerados funcionais (como, por exemplo, a EMBRAER, no município de
São José dos Campos, SP).
Operadoras de transporte aéreo low-cost (utilizando aeronaves de modelos mais
antigos, principalmente nas operações de transporte de carga) continuarão a surgir no
cenário, também induzindo as grandes empresas a constituírem subsidiárias de
semelhante configuração.
A consolidação das grandes empresas hoje existentes no mercado do transporte aéreo
deverá dar-se pelas alternativas possíveis com relação às alianças:
· maior autonomia nas decisões empresariais, a nível regional, face ao relaxamento de
instituições governamentais, responsáveis pelo setor, em processo de privatização (um
exemplo, no Brasil, é a criação da Agência Nacional de Aviação Civil, com as
funções do Departamento de Aviação Civil do Comando da Aeronáutica);
· normas internacionais menos rigorosas com relação ao estabelecimento de linhas
aéreas (não permitindo exclusividades ou prioridades).
O transporte de cargas não deverá seguir as tendências das alianças entre
empresas, à semelhança do transporte exclusivo de passageiros, ou mesmo misto, e
apresentará um crescimento superior a este.
Finalmente, pode-se prever o desaparecimento do tratamento diferenciado entre empresas
regulares e as de charter . Isso se explica pelo crescimento do número de vôos fretados
e, conseqüentemente, à regularização dos seus horários e da adoção das atividades
rotineiras pertinentes, como, por exemplo, o catering .
A Roteirização das Cargas Aéreas
As empresas aéreas, no cenário globalizado, buscarão o equilíbrio entre o
desenvolvimento de novas rotas para o transporte de carga e a maximização dos meios
disponíveis como uma forma de redução dos custos operacionais.
Para que isso ocorra, as empresas aéreas deverão:
· investir pesado no desenvolvimento do transporte de cargas fracionadas (denominado
courier ), provocado pelo e-commerce;
· administrar a coleta, o despacho e a entrega de mercadorias como forma de reduzir os
custos com os agentes de carga e despachantes aduaneiros;
· reduzir a participação, na formação escalar de preços, dos agentes de viagem;
· empregar softwares especiais nos cálculos das malhas aéreas e das malhas de
distribuição em terra, assim obtendo as melhores opções possíveis para o emprego dos
vetores de transporte.
Os Sistemas de Informação
O desenvolvimento acelerado do transporte aéreo de cargas, compondo um sistema,
contribuirá também, de forma direta ou indireta, para com o progresso da
tecnologia das informações, tais como:
· surgimento de novos softwares agilizadores do e-commerce, dos sistemas de reserva de
passagens aéreas e do processamento e acompanhamento das cargas aéreas;
· automação do processo de check-in e do serviço de catering;
· agilização das informações logísticas entre empresas componentes de um aliança
como fator maximizador do aproveitamento de espaços e assentos disponíveis.
As "Ameaças" dos Cenários Futuros
Como uma tendência global, a proteção ao meio-ambiente será o fator que maior terá
influência no planejamento estratégico das empresas de transporte aéreo. Alguns
exemplos:
· aumento das pressões governamentais sobre o controle dos níveis de ruído;
· o controle das emissões de gases poluentes na atmosfera terá maior rigor;
· as hoje diferentes posições adotadas internacionalmente, no que dizem respeito à
proteção ambiental, tenderão a uma legislação padronizada e mais abrangente.
Conclusão
Este trabalho foi direcionado ao levantamento das possíveis tendências do transporte
aéreo internacional, com seus reflexos no cenário brasileiro, fundamentado em uma
pesquisa junto à IATA e analisado à luz da experiência do autor.
O dinamismo e a rapidez na evolução tecnológica da aviação poderá, entretanto,
causar alguma dispersão ou desvio nas tendências apresentadas. Porém, uma certeza é
inquestionável: o significativo crescimento, no período considerado, do transporte
aéreo de cargas e o surgimento de aeroportos específicos para essas atividades, com uma
maior integração do avião nas malhas multimodais de transporte de cargas.