Após quase 5 anos voltamos a analisar o
transporte rodoviário, para vermos o que está acontecendo com ele.
Temos acompanhado o que está ocorrendo no transporte de carga brasileira, principalmente
o decréscimo de importância do transporte rodoviário, lentamente até o momento, mas
que tende a acentuar-se num futuro próximo.
Essa redução de importância quantitativa não deverá levar mais do que alguns poucos
anos para concretizar-se, em virtude de diversos fatores e pressões sofridas por esse
versátil e fantástico modal.
O rodoviário é e sempre foi (condição que provavelmente não será alterada), um caro
modal a deslocar nossas cargas de um ponto a outro, com algumas exceções. Naturalmente,
tal situação não deverá mais ser sustentada pela nossa economia, agora estável e mais
globalizada, da forma com tem ocorrido nas últimas décadas.
Este modal, além do custo em si, tem ainda o inconveniente de apresentar a toda a
sociedade brasileira outras contas, embutidas dentro daquilo que costumamos chamar de
custo social, pago por toda a sociedade e não cobrada no frete, qual seja, construção e
manutenção da malha rodoviária, alto grau de poluição, congestionamentos, etc.,
afetando o nível de vida da sociedade como um todo.
Aliados a esta situação de desconforto, podemos relacionar também outros fatores que
levarão à exaustão de parte do volume de carga direcionado ao transporte rodoviário,
levando-o a patamares mais coerentes com as nossas necessidades.
Quais são estes fatores que pretendem golpear o transporte rodoviário?
Podemos citar o transporte ferroviário, devidamente privatizado, e que com o nível de
investimentos que vem recebendo, deverá constituir-se numa alternativa a ser fortemente
considerada como nunca dantes em virtude da prioridade dada ao modal rodoviário. Este
modal tem amplas condições de transformar-se em modal interessante, principalmente em
face de seu menor custo de frete e grande quantidade de espaço para carga.
Para quem tem acompanhado a cabotagem, é de fácil percepção a sua fantástica
recuperação nos últimos poucos anos, com crescimentos não imagináveis até há pouco
tempo, tornando-se um concorrente de peso extraordinário. Isto não surpreende,
considerando-se a costa navegável brasileira, de mais de 7.000 quilômetros e que não se
deve menosprezar. Estranho era justamente a sua não utilização intensiva.
Ainda deixando dúvidas, mas que também deverá apresentar um papel melhor que o atual,
temos a hidrovia, cujo investimento por parte dos armadores de cabotagem e longo curso
não deve ser descartado, funcionando como um complemento de suas operações. Este é um
modal de baixo custo, e que não precisa de muito para tornar-se viável, principalmente a
navegação na hidrovia do Mercosul, formada pelos rios Tietê, Paraná e Paraguai, cujas
maiores virtudes são a sua extensão, quase comparada à costa brasileira, e a sua
localização, situada na principal região econômica do país e do Continente.
Sem contarmos um provável promissor futuro das hidrovias do centro-oeste e norte do
país, região de grande produção agrícola, e cujo transporte para o mundo apresenta
mais vantagens quando levado por esse modal para o Rio Amazonas, se comparado a seu
transporte por rodovia para os portos do sul e sudeste do país.
O ponto fraco deste modal, em especial na hidrovia do Mercosul, pode ser a falta de chuvas
e o problema energético.
Assim sendo, a pergunta torna-se inevitável, ou seja, qual o real futuro do transporte
rodoviário de carga no país? A sua tendência é a extinção?
Não, de modo algum. Ao transporte rodoviário estará destinada uma missão única e mais
nobre, que é a de integrar-se, finalmente, aos demais modais e ajudar a transformar o
transporte de carga brasileiro em um item de competitividade, dando mais um impulso à
ciência da logística. Isto será realizado dando-se ao rodoviário a missão de
transporte eficiente de ponta, fazendo de um lado a ligação da produção com o modal de
transporte final, e de outro a entrega final do produto recebido de outro modal, isto é,
realizando a importante operação multimodal e intermodal.
Com uma atuação assim o transporte rodoviário poderá assumir um lugar de destaque na
economia brasileira como um excelente braço dos demais modais, já que todos temos
consciência de que os demais modais não existem sem ele.
Com esta nova situação, o transporte rodoviário ficará livre da pecha de vilão dos
custos e, portanto, trocará a importância da quantidade pela da utilidade e da
qualidade. É pouco? Sem dúvida que não.
Além da união dos demais modais, ainda continuará reinando, sem dúvidas, no transporte
de pequenas distâncias e naqueles peculiares, onde os demais modais não apresentam
qualquer chance de abocanhar alguma fatia de sua carga.
junho/2002
Samir Keedi,
Professor de graduação e pós-graduação,
autor dos livros "Transportes, unitização e seguros internacionais de
carga-prática e exercícios", "Logística de Transporte Internacional" e
"Transportes e Seguros no Comércio Exterior", e tradutor do Incoterms 2000.
samir@aduaneiras.com
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