É sabido que os "marketeiros", quando gostam
de uma expressão ou acham-na interessante, passam a usá-la em tudo. É o que ocorre com
o termo automação. Embora seja uma palavra descoberta e largamente aplicada na
indústria - automação industrial, da manufatura, de processos etc. - hoje vemos o termo
sendo empregado indiscriminadamente, tal como "automação comercial",
"contábil", "bancária" etc.
Será que é automação mesmo? Ou seja, basta eliminar o contato com um ser humano e tudo
vira automação ou robotização? E a mecanização?
O grau de contato com o cliente ou ser humano se reduz à medida que nos movemos dos
sistemas manuais para os mecanizados e destes para os automatizados. E o que acontece
quando um sistema automatizado está "fora do ar"? Por mais automático que
seja, é o ser humano que fará a interface e solucionará tal demanda.
Assim, se automação é o controle direto do equipamento sem a necessidade de operadores,
na prática isso significa que o equipamento realizará uma tarefa sob controle de vários
sistemas informatizados, sem operadores humanos diretos ou com a mínima interação
quando um operador inicia um processo digitando os dados de identificação.
Níveis de automação
A automação pode envolver vários níveis de aplicação tecnológica. Por exemplo:
Automação da informação
Automação das operações
Completa automação de todas as operações e fluxos de informações. Este é o
conceito de "caixa preta" - sem qualquer intervenção humana.
Na logística, entendemos por automação um sistema de movimentação interna de
materiais que caracteriza a integração de múltiplas tecnologias, por exemplo: AS/RS -
sistemas automatizados de estocagem e recuperação, AGVS - sistemas de veículos
automaticamente guiados, tranportadores contínuos etc., com o processamento de
informações sem papel.
Proliferação da automação
Foi-se o tempo em que a principal vantagem da automação era a economia de custo de
mão-de-obra. A busca de baixos custos de mão-de-obra em muitos países, inclusive o
Brasil, foi algo passageiro, enquanto o dólar apresentava uma taxa favorável.
Hoje, muitos projetos de automação visam não somente obter economias de custos de
mão-de-obra, mas também melhor qualidade dos produtos, produção e entrega mais rápida
-- e quando é empregada a automação flexível, um aumento na flexibilidade de mudar de
produtos ou volume de produção.
O enorme crescimento no campo da automação industrial trouxe uma grande quantidade de
equipamentos automáticos com recursos diversos. Alguns desses tipos de automação são
especialmente dignos de nota: dispositivos que automatizam processos, máquinas de
controle numérico, robôs, sistemas automáticos de identificação, controles
automáticos etc.
Alguns dos sistemas mais automatizados são as linhas automatizadas -
"transfer". Tendo em vista seu elevado investimento inicial e a dificuldade de
modificação para outras peças, esses sistemas são empregados quando a demanda é
elevada, estável e se estende por um longo período. Se essas condições forem
satisfeitas, o custo de produção será muito baixo. Porém, em virtude dos curtos ciclos
de vida de certos produtos e das mudanças de tecnologia de produção, o emprego dessa
automação rígida ou dedicada vem declinando tendo em vista os sistemas flexíveis.
Computador
A capacidade de armazenamento de dados de um processo, bem como de ativar funções num
equipamento, contribuiu para a invasão do termo automação. Desde a criação do CAD,
CAM e mais tarde do CIM, as empresas viam no computador que todas as operações
relacionadas com a função de produção poderiam ser incorporadas num sistema
computadorizado integrado para auxiliar, aumentar e/ou automatizar as operações. O
sistema de computador abrange toda a empresa, alcançando todas as atividades que dão
sustentação à fabricação. Nesse sistema integrado de computador, a saída de uma
atividade serve como entrada para a atividade seguinte ao longo da cadeia de eventos que
se inicia com o pedido do cliente e culmina com o recebimento do produto, além de incluir
o contas a receber, recolhimento de impostos etc. Quando esses softwares computacionais se
tornaram mais sofisticados durante a década de 1990, os abrangentes pacotes de software
mais recentes passaram a ser chamados de ERP - Planejamento de Recursos Empresariais. Os
sistemas ERP automatizam processos, organizam livros contábeis, modernizam os
departamentos etc.
Por que investir em automação?
Existem dois aspectos para responder essa questão. Aspectos operacionais e de processo.
Os aspectos operacionais incluem:
redução da ação do homem;
aumento do uso do equipamento, sem aumento da mão-de-obra;
minimiza os atrasos e interrupções provocados pelos operadores;
eliminação de erros de digitação, papéis etc.;
maior grau de eficiência e flexibilidade.
Quanto aos aspectos de processo temos:
redução de perdas de materiais;
eliminação da variabilidade nos processos;
mudar as formulações, parâmetros, acrescentar ou alterar "receitas";
redução dos esforços de validação.
Tendências para a automação:
Alinhar a estratégia da automação com as estratégias dos negócios.
Atingir objetivos de desempenho, tais como:
-- melhor qualidade;
-- maior velocidade;
-- melhor confiabilidade;
-- maior flexibilidade;
-- menores custos.
Criar uma vantagem competitiva, por exemplo:
-- criar um diferencial - algo novo que seu concorrente tenha dificuldade de introduzir.
Como justificar o investimento?
Freqüentemente a automação é desconsiderada tendo em vista que a relação custo vs.
benefício não traz retorno ao investimento, ou é inviável etc.
Todo investimento em automação trará benefícios tangíveis e intangíveis?
1 - Tangíveis (quantitativos)
· Redução do tempo de resposta.
· Operações mais rápidas e baratas.
· Melhor utilização dos recursos.
· Redução de erros operacionais
- Melhor qualidade.
- Mais consistência dos lotes.
- Menos refugos e retrabalho.
- Maior produtividade.
2 - Intangíveis (qualitativos)
· Integrações proporcionam maior agilidade.
· Maior funcionalidade.
· Menor custo e risco de obsolescência.
· Maior capacitação de mão-de-obra.
· Base única de dados.
Mas não devemos concluir precipitadamente que a automação só traz
vantagens. Uma cuidadosa reflexão leva-nos a estas considerações:
Nem todos os projetos de automação foram bem-sucedidos.
A automação não pode compensar um mau gerenciamento.
Pode não ser economicamente viável automatizar algumas operações.
Reconheça os riscos de automatizar.
Reserve bastante tempo para a implementação de projetos de automação.
Não tente automatizar tudo de uma só vez.
Tenha um plano-mestre para a automação.
Pessoas são chaves para tornar bem-sucedido os projetos de automação.
Dessa forma, a análise de viabilidade da automação será adequadamente desenvolvida.
julho/2002
Reinaldo A. Moura,
Engenheiro com pós graduação em Engenharia da
Produção. Fundador e Diretor do Instituto IMAM, Chefe das Missões Técnicas do IMAM à
Ásia. Consultor e Instrutor da IMAM Consultoria, com especialização em Logística,
Engenharia Industrial, Movimentação de Materiais, Produtividade e Qualidade. Autor de
diversos livros publicados pelo IMAM.
Tel. (0--11) 5575 1400 imam@imam.com.br
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