Uma revolução silenciosa está acontecendo hoje,
em todo o mundo, seja nos negócios, na política e até mesmo na família.
Vivenciamos na era da informação digital uma era da grande revolução na
negociação.
Conforme constata William Ury, de Harvard, atualmente as grandes maiorias
das decisões são horizontais: dependem de equipes de trabalho, forças-tarefas,
joint-ventures, alianças estratégias, fusões e aquisições de empresas.
Também na família muitas decisões são conjuntas.
A chamada globalização traz mais interdependência não obstante
tentativas de isolamento por parte de algumas sociedades, como os Estados Unidos de hoje.
Vejamos alguns aspectos da negociação com suas estratégias e
planejamento no ambiente da informação digital disseminada principalmente pela Internet.
Ury nos informa que na medida em que as pessoas precisam desincumbir-se de
suas tarefas nas organizações elas estão na dependência de uma rede de indivíduos e
outras organizações sobre as quais não possuem qualquer controle direto.
Não se pode mais impor uma estratégia, uma política ou uma decisão:
tudo necessita, direta ou indiretamente, da ferramenta negociação para a obtenção de
um resultado positivo.
Logo podemos verificar que a interdependência é uma realidade tão global
quanto empresarial e esta realidade depende de ações negociadas para fazer girar a roda
dos negócios e fazer a empresa lucrativa.
Como se vê as interações organizacionais exigem contínua negociação e
renegociação em um ambiente de constantes mudanças impostas pela realidade dos
negócios.
As decisões têm que ser tomadas em conjunto. Não há mais espaço para o
centralismo. E para tomar decisões em conjunto, ouvindo a todos os interessados, tem-se
que negociar e cada vez mais rapidamente seja onde, quando ou como for.
É aí que a era da informação digital entra no cenário, alimentando a
necessidade do processamento e gerenciamento dos dados e informações pertinentes a cada
situação a fim de permitir tomada de decisão coerente com o objetivo empresarial.
É preciso negociar não apenas localmente, intramuros, mas regionalmente,
nacionalmente e mundialmente, em fantástica interdependência, mesmo sabendo que
existem hoje, no mundo, cerca de seis mil culturas diferentes!
O desafio é este: como nos comunicar eficazmente para poder trabalhar em
uma causa comum e negociar produtivamente com a velocidade que a nossa era exige?
Convém lembrar que maior interdependência se traduz em mais conflito.
Como na família, quanto mais interdependência entre seus membros maiores as chances de
posições conflituosas.
O mesmo acontece nos negócios e na política.
Basta ver, como exemplo, fusões como a da HP com a Compaq ou os sérios
problemas entre palestinos e israelenses ou entre os separatistas espanhóis do país
Basco e da Catalunha.
Maior interdependência nos negócios ou na política, por exemplo, gera
maiores vulnerabilidades. Em 1998 por falha de negociação a fábrica da GM em Michigan,
Estados Unidos, iniciou uma greve que se espalhou por toda a empresa.
Com toda a disponibilidade de gerenciamento da informação e de Internet a
GM não foi competente para negociar eficazmente superando a barreira do impasse. O preço
disto? 110.000 demissões em seis meses!
Portanto não basta negociar. É preciso suportar as estratégias de
negociação com modos operativos de tratamento e gerenciamento da informação utilizando
os meios mais globais como a internet.
Isto conduz a mais velocidade nos eventos negociais e resulta em um
processo mais cooperativo.
O tempo é hoje um importante parâmetro na negociação. Negociação
produtiva leva tempo. A consolidação de confiança mútua leva tempo, como lembra o
citado Ury, em Getting to Yes!. E para negociar rápido será preciso investir tempo
anterior em uma relação de ética e confiança.
As grandes corporações já descobriram isto: a mesma GM do exemplo
anterior mudou sua postura de negociação e há pouco fez uma aliança estratégica com a
sua concorrente japonesa Toyota. O mesmo aconteceu com a alemã Mercedes-Benz e a
norte-americana Chrysler, superando barreiras não só comerciais como culturais.
No Brasil o grupo Pão de Açúcar negociou aliança estratégica com os
franceses da Sonafe para vencer seu concorrente também francês Carrefour.
Não estou falando de simples aquisições mas de verdadeiras alianças
negociadas em prol dos objetivos comuns e da superação da concorrência.
A revolução digital também gerou alguns sinais de alerta: com a internet
há muito menos contato pessoal. O endereço eletrônico (e-mail, ICQ, etc.) substitui
muitos encontros pessoais Não se pode medir reações do tipo LNV (linguagem não-verbal)
nem gestual. Não existe o olhar nos olhos do outro negociador.
A apresentação de produtos via home-pages, banners ou outros meios
típicos da internet pode levar a dúvidas ou busca de detalhamento.
A negociação de uma venda pela internet demanda um perfeito controle
logístico e estas ações são geralmente terceirizadas para o Sedex, Fedex, UPC e
outros, gerando a possibilidade de falta de controle sobre o final do processo.
Isto nos remete ao alerta de John Nasbitt (Megatendências): high tech=high
touch alta tecnologia = alto contato, ou seja, quanto mais usamos os meios digitais
para negociar mais necessitamos de relacionamentos pessoais e procurar identificar e
traçar o perfil negociador da pessoa da outra ponta da comunicação eletrônica.
Pode-se procurar informação com outras pessoas que tenha se relacionado
com aquele negociador com o qual no momento estamos atuando. A boa reputação tem a mesma
velocidade da má. Não se pode considerar apenas a posição hierárquica. Será
interessante buscar-se um perfil completo já que na negociação digital a distância
dificulta a análise pessoal.
A revolução da informação está aí para ficar. Mas as pessoas
continuarão e serão sempre os componentes mais importantes da negociação ainda que se
valendo dos meios digitais para negociar mais rápida e globalmente. As novas tecnologias
acenam com grandes possibilidades de troca de informações negociais e o próximo passo
será a maior integração e treinamento dos negociadores envolvidos.
julho/2002
Fernando Silveira,
Consultor de Negociação Empresarial
fsilveira10@msn.com ; fersiv@terra.com.br
Fonte: Prof. C. Monte Alto em Estratégia Moderna de Compras, FGV © CFMA 2002
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