O Brasil é mesmo um país de contradições. Em
praticamente todos os setores, a terra descoberta por Cabral é um mar de paradoxos. E na
administração é assim também. Ao contrário da Europa e Estados Unidos, onde a forma
de gestão empresarial é uma verdadeira escola, aqui a inexistência de um modo padrão
é o modo padrão. É um conjunto de características que não chegam a formar uma escola
de administração, mas que interferem nas técnicas de gestão trazidas do exterior. Tais
características influem nos resultados e imprimem uma marca reconhecível nas empresas e
nos profissionais brasileiros. Algo confirmado por empresas e empresários estrangeiros.
Um estudo feito em 1989 por pesquisadores da fundação Dom Cabral, de Belo Horizonte, com
base em mais de dez anos de atuação em empresas no Brasil, destacou características
como: predominância de visão imediatista, carência de planejamento estratégico,
decisões centralizadas, políticas de controle rígidas, dificuldade de discussão de
conflitos, sistema autoritário e tendência de delegação de problemas para os
superiores hierárquicos.
Isto mostra que o administrador brasileiro trabalha sem usar uma forma racional, sem um
planejamento estratégico. Mas, ao mesmo tempo, como são formados em ambientes
instáveis, os brasileiros são reconhecidos internacionalmente por serem ágeis e aptos
para mudanças bruscas.
O que os torna mais pré dispostos à flexibilidade é o ambiente instável em que são
formados. As regras são vistas como mutáveis no Brasil. É a taxa de câmbio, são as
leis que "pegam ou não pegam", são as medidas provisórias. Isso obriga os
executivos a pensar em cenários, fazer planos de contingência, tornarem-se ágeis.
Na cultura administrativa verde e amarela, o que importa é o fato de que o
"jeitinho" faz parte da maneira de como o brasileiro enxerga a si mesmo. No
Brasil, o herói corporativo é o apagador de incêndios, o "resolvedor" de
emergências. O planejador, ao contrário, é tido como enfadonho, burocrático, sonhador,
fora da realidade. Porém, é óbvio que é melhor para uma empresa ter menos
especialistas em resolver problemas e ter mais profissionais capazes de evitar que eles
apareçam.
De acordo com Gabriel Bitran, professor e vice diretor da escola de negócios do Instituto
de Tecnologia de Massachussets (MIT), é a disciplina que faz a diferença em um ambiente
de excelência. Para ele, quando há estabilidade, é preciso ter mais ciência e menos
intuição. Quem não tem paciência para garimpar os dados, analisá-los e desenvolver
serviços vai ficar para trás. Bitran vê outro perigo para quem tem a cultura da
flexibilidade: a auto confiança excessiva e uma tendência a interpretar os movimentos de
mercado como crises que vão passar.
Nas empresas brasileiras, a idéia de hierarquia é muito forte. Existe aqui a ética da
desconfiança e o cidadão é culpado até que se prove o contrário. Isso atravanca a
administração, que se volta para o controle. O cartão de ponto vale mais do que o
resultado. Provando mais uma vez a contradição que é o "método" brasileiro
de administrar, os executivos nacionais estão muito mais atualizados com as mudanças do
mundo de negócios do que os europeus, por exemplo. Outro dado que impressiona os
estrangeiros é a internacionalização dos executivos brasileiros, que são em média
muito mais bem informados sobre o mundo do que os estrangeiros, e costumam falar duas ou
três línguas. Para muitos, o fato de não ter um estilo, ser o estilo é algo até
charmoso. Mas, sinceramente, até que ponto isto é positivo? Qual é o limite entre a
ousadia e o risco ?
julho/2002
Paulo Ribeiro,
Consultor especialista em RH e Planejamento Estratégico da
Qualilog Consultoria. Atua no mercado há 20 anos como consultor.
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