Organização Mundial do Comércio -
Um Estreitamento das Relações Internacionais
Estamos no limiar de um século onde a necessidade de se realizar
esforços positivos para assegurar uma participação mais efetiva dos países em
desenvolvimento no comércio internacional, se põe como a condição básica para que
elevemos os níveis de vida das populações. E neste jogo de interesses e relações cada
vez mais diplomáticas, uma notória autoridade tem sido a estrela maior, a Organização
Mundial do Comércio - OMC.
A OMC, enquanto instituição internacional funciona desde 01.01.1995 e possui as
seguintes funções principais: administrar e aplicar os acordos comerciais multilaterais
e plurilaterais que em conjunto configuram o novo sistema de comércio; servir de foro
para as negociações multilaterais; administrar o entendimento relativo às normas e
procedimentos que regulam as soluções de controvérsias; supervisionar as políticas
comerciais nacionais; e cooperar com as demais instituições internacionais que
participam da fomentação de políticas econômicas em nível mundial, a exemplo do FMI,
BIRD e organismos conexos. A sua estrutura parece ser simples, mas não é, pois há a
necessidade da representação de todos os seus membros e que são atualmente 144. Estes
membros desenvolvem um trabalho cotidiano, através de uma série de órgãos
subsidiários, a saber : O Conselho Geral, que se reúne como órgão de solução de
controvérsias e como órgão de exame das políticas comerciais e que repassa para outros
conselhos a responsabilidade de supervisionar a aplicação e funcionamento dos acordos
internacionais. Complementado o trabalho cotidiano tem-se a Conferência Ministerial, onde
participam todos os membros e que é realizada pelo menos a cada dois anos.
À frente de todo este poderio tem-se uma Secretaria Geral, dirigida por um Diretor Geral,
atualmente o neozelandês Mike Moore que tomou posse em 01/09/1999 e, possui em seu
currículo vários cargos relacionados com o comércio mundial, a exemplo de Ministro do
Comércio Exterior, do Turismo e
Primeiro Ministro da Nova Zelândia. Auxiliam o Mike Moore, quatro secretários adjuntos,
Ablassé Ouedraogo de Burkina Faso, Paul-Henri Ravir da França, Miguel Rodrígues Mendoza
da Venezuela e Andrew Stoler dos Estados Unidos. Cabendo um destaque para o Senhor
Ouedraogo é o primeiro africano e o primeiro representante de um pais menos desenvolvido
a ocupar um cargo de Diretor Adjunto da OMC. O sucessor do Senhor Mike Moore será o
Tailandês Supachai Panitchpakdi. A entidade fica localizada no coração da Europa,
Genebra na Suiça e em muitas decisões é duramente criticada pelas organizações civis.
A OMC tem o encargo de administrar duas categorias de acordos: os acordos multilateriais e
os plurilaterais. Os acordos multilaterias, são acordos e instrumentos conexos que formam
parte do acordo constitutivo da OMC e são vinculantes para todos os membros, a exemplo
de: acordos multilaterais sobre o comércio de bens, incluindo-se o acordo geral sobre
tarifas e comércio de
1994 - GATT-94, o acordo sobre agricultura, o acordo sobre a aplicação de medidas
sanitárias e fitosanitárias, o acordo sobre têxteis e confecções, o acordo sobre
obstáculos técnicos ao comércio, o acordo sobre as medidas em matéria de investimentos
relacionados com o comércio, praticas de dumping, valoração aduaneira, acordo sobre
inspeção prévia à expedição, acordo sobre normas de origem, acordo sobre subsídios
e medidas compensatórias e acordos sobre salvaguardas; o acordo geral sobre o comércio
de serviços e anexos; o acordo sobre os aspectos dos direitos de propriedade intelectual
relacionada com o comércio; entendimento relativo às normas e procedimentos que regem a
solução de controvérsias e mecanismo de exame de políticas comerciais. Os acordo
plutilaterais, são os que abrangem apenas algumas nações e, a exemplo do acordo sobre o
comércio de aeronaves civis, acordo sobre contratação pública, acordo internacional
dos produtos lácteos, acordo internacional de carne bovina. Estes acordos são
voluntários, por isso, o Brasil só aderiu ao acordo internacional de carne bovina.
A última rodada de Negociações Multilaterais, realizou-se em Doha, no Qatar, no
período de 9 a 14 de novembro de 2001, constituindo-se parte da IV Conferência
Ministerial da OMC. De Doha, saíram as seguintes principais documentos: uma declaração
ministerial, lançando uma nova rodada multilateral e estabelecendo um programa de
trabalho; uma declaração de TRIPS e acesso a medicamentos e saúde pública e uma
decisão sobre questões de implementação. Também cabe destacar que os ministros
acordaram conduzir negociações com o objetivo de clarificar e melhorar as disciplinas
dos
acordos sobre antidumping, subsídios e medidas compensatórias, preservando os conceitos
básicos destes acordos e levando em consideração os interesses dos países em
desenvolvimento.
Para fazer parte da Organização Mundial do Comércio, o país pleiteante necessita, em
primeiro lugar, adequar sua legislação interna aos diversos acordos existentes no
âmbito da OMC. Depois vem a fase das concessões tarifárias, em cada país-membro da OMC
faz uma lista de pedidos de redução tarifária para produtos de seu interesse
exportador. Estas listas são entregues ao país solicitante, que estudará e concederá
rebaixamentos tarifários naqueles produtos que julgue não prejudiciais à estabilidade
de sua economia. Finalmente, se houver consenso entre todos os países-membros da OMC de
que a quantidade e o nível de concessão é satisfatório, o país pleiteante será
aceito como novo membro do órgão.
Até os parágrafos anteriores, fiz apenas uma breve apresentação da OMC, buscando
demonstrar a sua importância para o estreitamento das relações internacionais. A partir
daqui cabe instigar algumas questões que são levantadas no mundo inteiro:
A OMC é um instrumento imposto pelos países ricos e poderosos?
É uma organização destruidora de empregos e acentua a pobreza?
Realmente a OMC se preocupa com a saúde, o meio ambiente e o desenvolvimento dos países
menos favorecidos?
A OMC dita as políticas comerciais do Mundo?
A OMC é um instrumento poderoso para os países usarem como pressão nas relações
comerciais?
Os países mais frágeis comercialmente são obrigados a aderir à OMC?
A OMC é antidemocrática?
Muitos acham que as indagações anteriores farão parte de um debate que irá durar
eternamente. Existem opiniões diferenciadas sobre os prós e os contras do sistema
multilateral de comércio da OMC. Uma das principais razões para que existam tantas
indagações é que este é hoje, o principal foro de discussão das questões comerciais,
onde ficam evidenciadas as diferenças entre ricos e pobres.
Para amenizar as críticas e as constantes indagações mundiais sobre o seu papel na
economia mundial, a OMC elaborou uma publicação bem simples que aborda os seus
princípios de atuação, denominado de "Os dez mal entendidos mais freqüentes sobre
a OMC". Na publicação a OMC busca apresentar a sua transparência de atuação e
explicar alguns contornos das suas decisões. A primeira justificativa apresentada pelo
organismo dá conta de que as normas da OMC são provenientes de acordos resultantes de
negociações celebradas entre os governos dos países-membros e além disso, tais normas
são ratificadas pelos parlamentos de todos os membros, havendo finalmente um consenso
entre todos os membros da OMC.
Finalmente, julgamos que é um órgão que precisa ser melhor acompanhado pela comunidade
mundial, buscando saber seus resultados de negociações e como efetivamente ele tem
estreitado as relações internacionais entre as nações, pois necessitamos acompanhar o
futuro dos sistemas multilaterais de
comércio, certamente dele depende o futuro das nações de menor desenvolvimento
econômico e social.
julho/2002
Saumíneo da Silva Nascimento,
Especialista em Comércio Exterior,
Economista, Pós-Graduado em Comércio Exterior pela Universidade Católica de Brasília,
Doutor em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe, pós-Doutorando em Comércio
Exterior pela American World University - AWU e Diretor de Planejamento e Articulação de
Políticas da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste - SUDENE.
ssn@sudene.gov.br
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