Nos projetos das novas plantas apresentados
por algumas montadoras, nota-se a presença não somente das instalações das montadoras,
mas também de instalações de alguns de seus fornecedores. Assim, o projeto da GM em
Gravataí (RS), com 17 sistemistas e Ford (BA) com mais de dez fornecedores, reforçam a
tendência das novas configurações junto à montadora, entregando sub-conjuntos ou
módulos completos just in time na linha de montagem final dos veículos. Esquemas
semelhantes aparecem nas fábricas paranaenses da Renault e VW/Audi (ambas em São José
dos Pinhais), onde além da montadora estão plantas de fornecedores de bancos, motores e
chassis. Na planta destinada à produção do Classe A em Juiz de Fora-MG, a MBB
estabeleceu em seu próprio terreno um (parque industrial interno) onde já instalados
cinco de seus fornecedores diretos. Numa área adjacente (parque industrial externo),
outros cinco fornecedores estão presentes, vide figura abaixo:
Na Figura abaixo são demonstradas as localizações dos fornecedores e a rota usada na
distribuição entre o Parque de Fornecedores externo e a linha de produção.
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As movimentações Inter-Plantas Externas são feitas com
plataformas sider tracionadas por trator diesel. Estas plataformas acomodam três racks
que sobem nas mesmas através de rampas não sendo necessário o uso de empilhadeiras. Os
racks, possuem rodízios, engates e rampas para carga e descarga sem a utilização de
empilhadeiras e os mesmos carregam embalagens contendo as peças produzidas pelos
fornecedores. Após chegar na linha de montagem, os racks são engatados em rebocadores
elétricos para que as peças, acomodadas em embalagens específicas, sejam distribuídas
nos pontos de consumo.
No movimento da plataforma, inicia saindo do parque, até a linha de
montagem e seu retorno com os racks vazios para o local de
origem para serem reabastecidos. Estes não são utilizados no translado externo, evitando
que se leve sujeira até o chão de fábrica. As plataformas não são dedicadas, passando
nas fábricas de acordo com o cronograma de produção previamente fornecido pela
montadora. A comunicação entre os operadores da Cardoso Minas (motoristas e tratoristas)
e os coordenadores logístico do parque de fornecedores é feita via rádio-freqüência,
com monitoramento pela Logística que disponibiliza dois ramais para contato entre
Fornecedores, Cardoso Minas e Logística.
Na formação de distritos industriais marshalianos Langlois e Robertson (1995), por
exemplo, onde a localização também é um aspecto chave, a instalação de plantas
próximas às montadoras é uma decisão do fornecedor, através de uma análise de
viabilidade do investimento, que pode incluir análises das condições de
infra-estrutura, qualificação de mão-de-obra, facilidade de obtenção de
matéria-prima. Dessa forma, qualquer fornecedor pode, a priori, vir a instalar-se no
distrito, podendo-se inclusive estabelecer uma concorrência entre diversas firmas.
No condomínio industrial, ao contrário, existe toda essa análise de viabilidade quanto
à localização, quem a faz é a montadora. Os fornecedores são convidados,
ou pressionados a se estabelecerem segundo as condições que a montadora apresenta. Os
condomínios industriais atuais, entretanto, não são tão novos quanto as plantas
citadas acima. Na realidade, em plantas inauguradas já há algum tempo, como a da VW em
Taubaté e a Ford em São Bernardo do Campo, após a reforma para o lançamento do Fiesta,
encontramos várias características do condomínio: fornecimento em sub-conjuntos,
plantas de alguns fornecedores localizadas nos arredores da montadora ou galpões de
certos fornecedores presentes dentro do terreno da montadora. Em alguns casos, dentro da
própria planta da montadora existem áreas dedicadas a alguns fornecedores é o que
ocorre, por exemplo, na Ford, em São Bernardo do Campo, onde, em um pequeno espaço anexo
à linha de montagem principal, quatro funcionários de uma empresa fornecedora de bancos
realizam a montagem de seu produto no veículo. Sob o ponto de vista analisado, o
condomínio industrial é uma configuração que resulta da associação de vários
conceitos: desverticalização, concentração no core business, fornecimento em
subconjuntos, just in time externo seqüenciado cuja implantação conjunta foi factível
devido à possibilidade, em termos de perspectivas de mercado, de construção de novas
plantas, do acirramento da disputa pelo fornecimento direto na cadeia automotiva, do
conseqüente aumento de poder de barganha das montadoras e das facilidades oferecidas
pelos governos locais, que estimularam os agrupamentos.
Nos condomínios estudados neste artigo, o grau de participação da
montadora na agregação de valor no produto final varia de acordo com a empresa e com a
definição de seu core business, conforme discussão feita anteriormente. A montagem
final dos veículos está sob a responsabilidade das montadoras em todos os casos. Segundo
a terminologia de Porter (1986), os condomínios são esquemas de quase-integração. Os
fornecedores, por sua vez, tendem a diminuir a existência desses ativos específicos,
buscando obter economia de escala quando for possível e diminuindo os riscos através de
uma estratégia de desmembramento da produção, concentrando numa planta
principal as atividades centrais, como a fabricação propriamente dita dos componentes, e
localizando próximo à montadora, ou no condomínio, somente as partes finais do
processo, tipicamente as atividades de montagem, que necessitam menos investimentos em
ativos fixos. Em termos de quais produtos devem estar presentes nessas novas
configurações, uma rápida análise de alguns mostra que a grande maioria dos produtos
possuem em comum a característica de apresentarem custos logísticos elevados, seja
porque possuem volume espacial considerável em relação ao seu valor agregado (caso dos
painéis, bancos, tanque de combustível, escapamentos, pára-choques), seja porque
apresentam risco de deterioração quando do transporte (como para estampados, bancos,
revestimentos, peças pintadas em geral). Mesmo nas empresas onde existe algum embrião de
condomínio, como é o caso da VW em Taubaté, os fornecedores localizados nas
proximidades possuem essas mesmas características
No processo de escolha de quais produtos estarão localizados nessas novas
configurações, não está em jogo somente a questão dos custos logísticos devido ao
transporte de componentes com altos volumes espaciais ou risco de danos. O problema da
proximidade é mais complexo e passa por pelo menos mais dois aspectos: a prestação de
serviços e as entregas just in time seqüenciadas. A proximidade é um fator otimizante
do sistema de entregas just in time, já que, dado um certo tempo de atravessamento,
quanto mais próximo, mais freqüentes podem ser as entregas, menor pode ser o lote e o
espaço destinado a ele no fornecedor e na montadora e maior o giro do capital.
Obviamente, limitantes a essa política são problemas relativos ao aumento do tráfego e
da poluição e o custo associado a cada viagem, conforme (Scott, 1994; Mair, 1993).
A existência de just in time externo faz com que estejam presentes, nos
condomínios, empresas fabricantes de produtos como vidros e pneus que possuem no
condomínio basicamente estoques de produtos acabados e prontos para serem entregues à
montadora. Não é viável, para essas empresas, inaugurar plantas completas para
fabricação desses componentes. Por outro lado, esses produtos apresentam custos
logísticos e riscos de danos elevados, que continuam a existir se no condomínio estão
presentes somente os estoques. Nesses casos, a vantagem do condomínio, para a montadora,
é passar esses estoques ao fornecedor e continuar tendo a garantia de fornecimento just
in time com menores riscos de interrupção. A entrega seqüenciada, ou seja, a entrega de
um sub-sistema ou componente na ordem correta em que deve entrar na linha de montagem
final do veículo, o chamado just in sequence (JIS), uma radicalização do just in time
é uma tendência forte nas montadoras, uma vez que traz vantagens consideráveis do ponto
de vista da economia de custos associados à armazenagem tanto de estoques iniciais quanto
intermediários e de produto final e à embalagem dos componentes. O just in
sequence é viabilizado, na prática, por dois fatores: primeiro, a troca de informações
eletrônicas on line (via sistemas de Electronic Data Interchange, ou EDI,
O JIS é viável pela proximidade física da unidade do fornecedor em
relação à montadora, justamente devido a esse horizonte de tempo restrito. Nesse
sentido, podemos citar a diretoria da VW, época final de conclusão do projeto VW/Audi em
S. José dos Pinhais, que a montadora está (...) preparando uma área especial para
nossos fornecedores que será vizinha à planta. Isso começará com uma área inicial de
250.000 metros quadrados; e nós esperamos que ela hospede todos os nossos fornecedores de
montagens e pré-montagens principais, especialmente quando o conceito logístico
necessário torna essencial que ambas as partes estejam próximas entre si
(Automotive Sourcing, 1997: 169 ). Também nesse caso somente
alguns fornecedores são envolvidos, isto é, o just in sequence é adotado para alguns
componentes ou sub-sistemas e não para outros. Aqui, o importante é a influência do
componente em questão na diferenciação do produto final, em relação a versões, cores
e acessórios. Ou seja: componentes comuns a todos os produtos que são fabricados em
determinada linha não necessitam serem entregues just in sequence; ao contrário,
componentes que diferenciam os produtos entre si: bancos, revestimentos, painel de
instrumentos, motor, módulo de porta devem ser entregues de forma seqüenciada,
conforme o veículo especificado na ordem de produção correspondente. Colocados esses
fatores, pode-se dizer que quanto maiores forem os pesos dos custos logísticos na
estrutura de custos de um produto e quanto maiores as economias advindas da adoção de um
sistema de entregas seqüenciado, maior a chance do fornecedor desse produto se instalar
nessas novas configurações. Assim, por exemplo, no caso do condomínio da MBB em
Juiz de Fora, partes como embreagens, motor e caixa de câmbio, que não apresentam volume
espacial elevado em relação ao valor agregado nem muitos riscos de deterioração no
transporte, serão fornecidos a partir de plantas localizadas em São Paulo e, para os
dois últimos componentes, que serão produzidos pela própria MBB, na Alemanha.
O fato é que num esquema de condomínio, o risco compartilhado
Arbix e Zilbovicius (1997) é maior, já que o desempenho da planta do fornecedor é muito
mais dependente do desempenho da planta da montadora do que num esquema de fornecimento
tradicional, onde o fornecedor conta com uma carteira maior de clientes e, dessa forma,
dificuldades eventualmente apresentadas por um deles não prejudica tanto seus resultados.
Os fornecedores, por sua vez, tendem a diminuir a existência desses ativos específicos,
buscando obter economias de escala quando for possível e diminuindo os riscos através de
uma estratégia de desmembramento da produção, concentrando numa planta
principal as atividades centrais, como a fabricação propriamente dita dos componentes, e
localizando próximo à montadora, ou no condomínio, somente as partes finais do
processo, tipicamente as atividades de montagem, que necessitam menos investimentos em
ativos fixos. No Brasil, a Magneti Marelli é fornecedora do Classe A em Juiz de Fora;
recentemente, está investindo cerca de R$ 50 milhões em uma fábrica em Contagem,
próximo a Betim, que fornecerá escapamentos e outros componentes para a Fiat, localizada
nesse município, e para a MBB em Juiz de Fora. A empresa também realizará investimentos
em sua planta de Hortolândia, município a 120 km de S. Paulo, onde serão produzidos os
instrumentos de painel. Ao mesmo tempo, a Marelli investirá cerca de R$ 1 milhão em suas
instalações no condomínio da MBB. A planta de Contagem será uma planta central, que
produzirá e fornecerá componentes também para a planta de Juiz de Fora, onde serão
realizadas as montagens finais do escapamento e painel de instrumentos e a entrega dos
módulos na linha da MBB, mostrando ser esse o caminho entre montadoras e seus
fornecedores no aspecto de inovação das configurações.
Délvio Venanzi,
Doutorando em Engenharia de Produção UNIMEP Piracicaba-SP
Consultor industrial.
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