Desde o início da década
de 90, a terceirização dos transportes se consolidou entre as empresas brasileiras
(principalmente na indústria) como forma de aumentar a competitividade. Além de manter o
foco nas atividades principais (no caso, o desenvolvimento, produção e venda de
mercadorias), esse recurso permitiu que os fabricantes deixassem de se preocupar com a
administração de caminhões (envolvendo salários, causas trabalhistas, horas-extras,
controle de combustível, manutenção e pneus), reduzindo custos e aumentando o grau de
eficiência nas entregas.
Por outro lado, as transportadoras tiveram de investir maciçamente na
modernização e diversificação de sua frota para atender a grande demanda e conquistar
novos clientes. Tomando emprestada uma expressão da informática, tratou-se de um
verdadeiro upgrade do setor de transportes. E foi o que se viu ao longo da última
década. O resultado é que hoje podemos nos orgulhar de ter transportadoras com qualidade
em serviços iguais aos encontrados nos Estados Unidos e países da Europa. Ao mesmo
tempo, um novo segmento, o de operadores logísticos, vem se desenvolvendo rapidamente ao
oferecer também a administração da armazenagem, formação da carga e roteirização
das entregas.
Como se pode perceber, a evolução do transporte rodoviário de cargas
apresenta benefícios muito claros, mas agora também começa a mostrar as suas
deficiências. O alto custo dos fretes talvez seja a maior delas.
Não se quer aqui questionar o valor cobrado pelas transportadoras, muito
pelo contrário. Esse valor se justifica plenamente pelo alto investimento dessas empresas
em manter uma frota de caminhões constantemente renovada (incluindo os já citados custos
de manutenção, combustível, encargos trabalhistas, etc.), assim como os cuidados com os
produtos a serem transportados e respeito aos prazos de entrega estipulados pelo cliente.
Porém, a volta da inflação e a nova estratégia dos fabricantes em aumentar a
distribuição própria vêm fazendo com que o custo torne inviável o transporte de
várias categorias de produtos, principalmente os de commodities.
Diante desse quadro, uma solução que começa a ganhar corpo é a
contratação de microempresários de transporte, proprietários de caminhões
que sejam eles próprios condutores do veículo. Conforme mostram as experiências
práticas realizadas com grandes fabricantes, a contratação dessa mão-de-obra no
transporte de cargas de baixo valor agregado (como óleo comestível, arroz, papéis
descartáveis) tem mostrado resultados surpreendentes. O nível de produtividade média
aumentou em 30% em relação à frota própria, enquanto a redução de custos chegou a
28%.
Cabe destacar que os resultados só foram obtidos após um criterioso
processo de treinamento, qualificação, gerenciamento e motivação dos microempresários
do transporte. Como critérios de contratação, por exemplo, levou-se em conta o tipo de
caminhão, a rota realizada com mais freqüência (se o destino da carga é o Nordeste,
procura-se um pequeno transportador que esteja acostumado a fazer essa rota e que até
possa voltar com a outra carga de outro cliente para compensar a viagem) e sobretudo
perfil empreendedor. Some-se a esses critérios o gerenciamento da atividade, com o
emprego de indicadores de desempenho para monitorar o nível de serviço e satisfação
dos clientes.
Só preenchendo esses requisitos e se mantendo dentro dos indicadores o
microempresário é contratado. Por esse motivo, evitou-se utilizar a expressão
caminhoneiros ou motoristas autônomos para designar esses
profissionais, que na verdade representam uma nova categoria em formação dentro do
setor.
Destaque-se novamente que o objetivo aqui não é apresentar essa nova
solução como o futuro do transporte de cargas rodoviárias. Trata-se simplesmente de
expor uma alternativa diante das novas necessidades apresentadas pelo mercado e que tendem
a aumentar no futuro. Tomando novamente o exemplo da informática, em que em um
determinado momento os fabricantes de computadores perceberam a necessidade de fazer um
downgrade, lançando computadores menos potentes para atender a uma determinada faixa de
consumidores, as transportadoras e as empresas embarcadoras, como a indústria, precisam
ter alternativas de downgrade no mercado.
março/2003