A fórmula da minha felicidade:
Você decide ir ao cinema. Sai de casa e quando percebe,
imerso em seus pensamentos, está fazendo o caminho convencional para ir ao trabalho
e que coincidentemente é diametralmente oposto. Depois de enfrentar um belo
trânsito, acerta o passo e chega ao shopping. Vasculha os três pisos para obter uma vaga
no estacionamento. Logo mais, encontra uma agradável fila para comprar os ingressos. Na
boca do caixa descobre que a sessão está esgotada. Outra, só duas horas e quinze
minutos depois.
Impossível? Improvável? Com você não? Pense bem antes de responder. Se
você ainda não passou pelo ciclo completo descrito acima, uma boa parte dele já lhe
visitou num final de semana destes. O mal é o mesmo que afeta profissionais e empresas no
mundo corporativo: a ausência de metas definidas.
Cinco Passos para uma Meta
Vamos partir de um
pressuposto. Você sabe o que quer, para onde deseja ir. Se está em uma empresa que não
lhe agrada, buscará outra. Se está disponível, sabe qual o perfil da vaga que lhe
interessa. Se está satisfeito em sua posição atual, almeja alcançar um cargo mais
elevado.
Uma meta, qualquer que seja ela, só pode ser assim conceituada quando
traçada segundo cinco variáveis. A primeira delas é a especificidade. Seu objetivo deve
ser muito bem definido. Assim, não adianta declamar aos quatro cantos do mundo
Quero trabalhar na multinacional ABC Ltda.. Desculpe-me a franqueza, mas acho
que você não será contratado a menos que pense Vou trabalhar como Gerente
Comercial, na Divisão Alfa, da companhia ABC Ltda., atuando na coordenação e
desenvolvimento de equipes de vendas para a Região Sul. Quanto mais específica for
a definição de seu propósito, mais direcionado estará seu caminho.
A segunda variável é a mensurabilidade. Sua meta deve ser quantificável,
tornando-se objetiva, palpável. Em nosso exemplo anterior, você teria que definir, por
exemplo, a faixa de remuneração desejada. Uma outra situação bem ilustrativa desta
variável é a aquisição de bens materiais. Pretendo comprar um carro, é um
desejo. Vou comprar um veículo da marca XYZ, modelo Beta, com motor 2.0, dotado dos
seguintes opcionais (relacioná-los) com valor estimado em R$30.000,00, é uma
quase-meta.
A próxima variável é a exeqüibilidade. Uma meta tem que ser
alcançável, possível, viável. Voltando ao exemplo inicial, o objetivo de integrar o
quadro da ABC Ltda. como Gerente Comercial não será alcançável se você tiver uma
formação acadêmica deficiente, experiência profissional incompatível com o perfil do
cargo e dificuldades de relacionamento interpessoal.
Chegamos à relevância. A meta tem que ser importante, significativa,
desafiadora. Você decide como meta anual elevar o faturamento de seu departamento em 5%
acima da inflação. Porém, seu mercado de atuação está aquecido e este foi o índice
definido e atingido nos últimos dois anos. Logo, é preciso ousadia,
coragem, para determinar um percentual superior a este, capaz de motivar a equipe em busca
do resultado. Lembre-se de que o bom não é bom onde o ótimo é esperado.
Finalmente, o aspecto mais negligenciado: o tempo. Muitas metas são bem
definidas, mensuráveis, possíveis e importantes, mas não estão definidas num horizonte
de tempo. Aquela oportunidade de negócio tem que ser concretizada até uma data limite.
Aquela reunião tem que ocorrer entre 14h00 e 16h00. Aquele filme no cinema tem início
às 21h30 e sairá de cartaz na sexta-feira próxima. Procrastinar, nome feio dado à
mania de adiar compromissos, cabe como uma luva aqui e confere um golpe mortal a qualquer
meta proposta.
No mundo das corporações
as coisas nem sempre funcionam assim. Observamos o reinado do auto-engano.
Metas são estabelecidas para justificar investimentos, agradar acionistas. São fixados
objetivos com base em expectativas irreais, prevendo crescimento da ordem de dois dígitos
independentemente de incertezas políticas e econômicas. Poderiam até ser alcançáveis
dentro de um espaço de tempo adequadamente delimitado. Mas como não se pretende mexer
nas variáveis tempo e exeqüibilidade, alteram-se as variáveis mensurabilidade (daí os
balanços maquiados, ou melhor, a contabilidade criativa) e relevância (daí
qualquer meio ser justificável, inclusive rasgar a Carta de Valores, praticar downsizing
a qualquer custo, desviar o foco do negócio, promover fusões e joint ventures
desprovidas de fundamentação).
As pessoas buscam realização. Mais do que um ato, um estado de espírito.
Mais importante do que o fato concretizado, a satisfação de tê-lo feito.
As empresas, por sua vez, buscam resultados. Mais do que a conclusão, o
fim de algo em si mesmo. Estes resultados podem ser representados por mais lucro, mais
espaço no mercado, mais clientes. Ou seja, invariavelmente deve significar
mais, embora não raro acabe por tornar-se menos.
Decorre deste estado de coisas que acabamos por ter um grande teatro onde
planejamentos são criados, estratégias inventadas, profissionais desmotivados, valores
corrompidos. A verdade é mascarada, a integridade é volatilizada.
Há, infelizmente, uma distância quase incompatível entre metas
corporativas e metas pessoais. Salvo exceções, conciliá-las pode não passar de
retórica barata. O executivo pretende vigiar sua saúde, assistir à sua família e obter
realizações palpáveis em seu ambiente de trabalho. A empresa diz que o apóia, mas
exige-lhe pesada carga de trabalho, impõe-lhe a necessidade de resultados expressivos,
cultiva-lhe o stress e a insegurança.
A Meta deve ser Você
Particularmente, não compactuo desta ditadura. Resultados não são tudo, assim
como não é o cliente quem manda na empresa. Resultados devem ser buscados com
persistência, assim como clientes devem sem atendidos com maestria. Mas o fim de tudo
deve ser o sentimento de realização, a satisfação de dever cumprido. Ainda que a
contabilidade diga que você trocou seis por meia dúzia...
Por isso, estabeleça e
mantenha o foco. Parafraseando os Irmãos Pedro Lopes, várias flechas não garantem
o acerto do alvo, e vários alvos confundem o arqueiro. Esteja preparado para os
tombos um obstáculo é apenas uma das etapas do seu plano. Use a vaidade e o
dinheiro como bons estímulos, mas jamais como objetivos. Redija suas metas de forma
nítida, cuidando para que elas sejam específicas, mensuráveis, alcançáveis,
relevantes e temporais. Dê-lhes todo seu esforço e imaginação.
E, finalmente, lembrando Richard Carlson, pense no que você tem, em
vez do que gostaria de ter. A felicidade não pode ser atingida quando estamos o tempo
todo desejando novas metas. Quando você focaliza não o que se deseja, mas o que tem,
termina obtendo mais do que gostaria.
abril/2.003
Tom Coelho,
Graduado em Economia pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP
e especialização em Marketing pela MMS/SP, é empresário, consultor, escritor e
palestrante, Diretor da Infinity Consulting, Diretor do Simb/Abrinq e Membro Executivo do
NJE-Fiesp.
tomcoelho@tomcoelho.com.br
ICQ # 170 841 177
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