Formação Logística Integrada
1. O presente texto resume a última lição
oficial do signatário, na qualidade de professor do Ensino Superior, ministrada na Escola
Náutica Infante D. Henrique (ENIDH).
É porém um pouco mais do que isso, uma vez que representa uma reflexão
no sentido de considerar muitos dos conceitos e até a metodologia da Logística, com os
quais tomámos contacto ao longo dos anos, e procurar aplicá-los à própria formação
em Logística, em que nos encontramos também há muito envolvidos.
Nesse sentido, o texto, que resolvemos denominar de Formação
Logística Integrada, talvez até pudesse intitular-se A Logística dos Logísticos.
A Logística, como se sabe, aplica-se às
empresas, aos países, aos hospitais, aos exércitos, às escolas, e a tantas outras
instituições, grupos ou espaços organizacionais onde se fabricam produtos ou fornecem
serviços, constituindo o presente texto justamente uma tentativa da sua aplicação à
Escola Náutica Infante D. Henrique, e em particular ao Curso de Gestão de Transportes
Marítimos, Portos e Logística, que por seu turno forma gestores logísticos.
2. Na Logística, é desde logo essencial o
conceito de cadeia de fornecimento (supply chain) que se configura como
segue:
Fornecedores | ----> | Aprovisionamento | ----> |
|
----> | Distribuição Física | ----> | Clientes |
No caso da Escola Náutica, cuja última oferta de ensino é o
referido Curso de Gestão de Transportes Marítimos, Portos e Logística que, como se
disse, produz ou fabrica na Escola os logísticos (gestores
logísticos), a aplicação do conceito começa pelos Fornecedores de alunos, passando
pela Angariação de alunos, Apoio à formação logística, Colocação de alunos nas
saídas profissionais(*),
terminando nas Instituições ou empresas que carecem de logísticos para as suas
actividades.
Mais esquematicamente:
Fornecedores de Alunos | ----> | Angariação de Alunos | ----> |
|
----> | Encaminhamento dos Alunos | ----> | Instituições Empresas |
Significa esta aplicação do conceito de cadeia de fornecimento
que, assim como a Empresa, modernamente e em termos logísticos, não se limita a ter em
conta apenas o que se passa no seu interior, mas tende a apreciar tudo aquilo que ocorre
ou acontece ao longo da cadeia de fornecimento, desde os fornecedores até aos clientes,
também a Escola não pode nem deve limitar-se exclusivamente a formar os alunos em
Logística, importando que se preocupe complementarmente com a sua angariação, a
montante, e com a colocação dos alunos formados nas saídas profissionais, a jusante,
num processo logístico verdadeiramente integrado.
Saliente-se que estas
tarefas, a montante e a jusante, não constituem presentemente uma obrigação legal da
Escola, embora no caso em consideração tenham sido já objecto de particular
atenção por parte do Departamento de Gestão e Logística da ENIDH e em particular do
seu Presidente.
A ideia é que, tendencialmente, e aos poucos e poucos, venha a
fazer parte das preocupações dos responsáveis pela Escola e pelo produto em questão (o
Curso de Gestão de Transportes Marítimos, Portos e Logística), não apenas a formação
dos alunos e o suporte a essa formação, mas também a angariação dos alunos, em
contacto, a montante, com os respectivos fornecedores, que serão as escolas
secundárias, escolas técnicas ou outras que proporcionem formação a nível de 10º,
11º e 12º anos de escolaridade, e, além dessa angariação, ainda a colocação
profissional dos alunos nas saídas previsíveis, em diálogo, a jusante, com os consumidores
finais dos alunos formados, que serão os sectores de actividade económica e as
empresas com aptidão e em condições de receberem tais alunos.
Interessa, no sistema logístico de formação integrada, ou
processo específico de formação logística integrada, a localização geográfica dos
alunos e das empresas ou outras entidades que os hão-de receber, havendo que ter em conta
de permeio o posicionamento da Escola, fazendo naturalmente parte do processo o
dispositivo de armazenagem em que se traduzem os alojamentos da Escola
Náutica.
Por outro lado, o dimensionamento da formação deve ser
articulado com as condições da angariação, mais ou menos favoráveis, que se
verificarem, e com a capacidade de escoamento, melhor ou pior, que se registar para as
saídas profissionais.
3. A subcontratação, as alianças,
a produção para a encomenda em lugar da produção para o mercado, os participantes
primários e especializados, e tantos outros aspectos, constituem diversas abordagens
logísticas genéricas com aplicação ao caso em estudo.
Quer a montante, quer a jusante, quer no interior da Escola,
poderá ter lugar a subcontratação. Por exemplo, poderia haver agências que, por
conta da Escola, promovessem a angariação de alunos ou assegurassem a sua colocação.
No interior da Escola, já se subcontratam, por exemplo, os serviços de limpeza ou de
segurança.
Também se admite a possibilidade de levar a cabo alianças
(protocolos) entre a Escola Náutica e os potenciais fornecedores
de alunos, sejam escolas secundárias ou técnicas, ou entre a Escola Náutica e as
empresas ou outras entidades que recebem os logísticos (consumidores finais
de alunos).
A produção para a encomenda traduz-se, no caso em
estudo, em realizar a formação em logística, tanto quanto possível, com base no
conhecimento das necessidades de gestores logísticos manifestadas pelos consumidores
finais, em vez de se deixar essa formação à mera contingência do mercado.
Os participantes primários e especializados pressupõem
um intenso relacionamento, quer entre os primeiros, quer entre os segundos, quer entre uns
e outros. Participantes primários são fundamentalmente a própria Escola Náutica, os
seus fornecedores (escolas secundárias e técnicas) e os seus clientes
(empresas e outras entidades que recebem os alunos formados). Participantes especializados
são as empresas ou entidades que se ocupam do transporte, da armazenagem, da
informação, etc., portanto, operadores logísticos, que no caso em estudo se vislumbra
com menor aplicação.
4. A descrição anterior respeita ao fluxo que
se estabelece entre os fornecedores e os clientes, o chamado fluxo
de materiais ou fluxo de inventário de valor acrescentado, que, no caso em
apreciação, se traduz no fluxo de alunos que acorrem à Escola para o Curso de Gestão
de Transportes Marítimos, Portos e Logística e que acabam por ser gestores logísticos
certificados.
Mas haverá no sentido oposto, o fluxo de informação dos
requisitos ou simplesmente fluxo de informação, pressupondo um contacto via
informática entre as empresas ou entidades susceptíveis de receber os alunos formados e
a Escola Náutica, por um lado, e entre a Escola Náutica e os seus fornecedores
de alunos (escolas secundárias, técnicas, etc.), por outro.
5. A terminar, falaremos do conceito de inventário
e da metodologia do stock zero que pressupõe a filosofia do just
in time.
Em Logística, o inventário configura o tempo de imobilização
que os materiais gastam a percorrer a cadeia de fornecimento, e que portanto deve ser o
menor possível.
A metodologia do stock zero interliga-se com a
filosofia do just in time na medida em que os materiais devem aceder à cadeia
de fornecimento no momento exacto em que são necessários, prescindindo-se assim da
constituição de stocks para o efeito.
A aplicação destes conceitos ao caso em estudo suscita a ideia
de que é preciso que não haja tempo excessivo, gasto entre a angariação dos alunos
para a formação, e a sua colocação nas respectivas saídas profissionais.
Complementarmente, não será conveniente que fiquem formados
por colocar ou necessidades de logísticos por satisfazer.
6. Ficou feita uma primeira (ao que julgamos)
reflexão, sobre a aplicação da Logística à formação em Logística, ou seja sobre a
Logística dos Logísticos, tema este cujo aprofundamento determinará porventura
consequências com maior ou menor validade que o futuro se encarregará ou não de
confirmar.
(*) Faz-se a seguir a
enumeração de algumas actividades de gestão em terra, nos sectores marítimo,
portuário e logístico, que constituem saídas profissionais do Curso de
Transportes Marítimos, Portos e Logística da Escola Náutica Infante D. Henrique:
Companhias
de Navegação; Operadores Portuários; Agentes de Navegação; Administrações
Portuárias; Administração Marítima; Peritos Marítimos; Seguradoras Ramo
Marítimo; Estaleiros Navais; Empresas de Dragagens; Agentes de Fretamento (brokers);
Fornecedores de Navios (Shipchandlers); Operadores Logísticos; Agentes Transitários;
Empresas Petrolíferas; Projectistas e Consultores.
Além
disso, os formados em gestão logística pela ENIDH terão lugar em Departamentos de
Logística de empresas e outras instituições, quer do sector privado, quer do sector
público.
maio/2003
A. Figueiredo Sequeira,
Professor e Consultor de Transportes, Portos e Logística
figsequeira@mail.telepac.pt
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