LIDERANÇAS
EMERGENTES:
COMO SERÃO E COMO AGIRÃO?
Sem liderança suficiente, a mudança fica paralisada e vencer
num mundo em rápida mudança se torna problemático
(John Kotter, "Liderando Mudança")
O modelo de liderança vem apresentando significativas mudanças, nestes tempos que nos
aproximam do final do século XX. É evidente que essas mudanças vêm carregadas de forte
componente tecnológico, e os arautos da nova visão vêm batendo na tecla do modelo das
novas lideranças, falando em líderes de líderes, equilíbrio entre os enfoques para
resultados e nos enfoques do desenvolvimento do homem.
Existe, todavia, um outro ponto que me parece mais singular. Na política mundial,
atravessamos um período em que lideranças carismáticas, fortes, consistentes (onde
pontificaram Thatcher, Reagan, Gorbatchev, Mitterand, dentre outros), foram substituídas
por lideranças inexpressivas, ou sem carisma (Major, Clinton, Yeltsin, Chirac, etc...). E
mais recentemente o processo parece ter-se agravado (com Bush, os novos líderes do
Oriente Médio, substituindo seus carismáticos pais, a Coréia do Norte, alguns exemplos
de nossa América Latina)
As fortes lideranças do passado deixaram estruturas que sobreviveram às ações pouco
expressivas de seus sucessores que, de certa forma, não conseguiram manter-se por
mais tempo à tona no cenário mundial. Hoje, o que se percebe é o aparecimento de
lideranças com algum carisma, mas onde o comportamento heróico e enigmático não parece
ter vez.
O mundo de hoje comporta líderes (embora alguns, da safra passada, pouco expressiva
permaneçam, percebe-se que sua ação, mesmo recheada de acordes bombásticos, tem
repercussão incipiente) com um perfil carismático associado a um comportamento onde os
pecados acontecem normalmente (apresentam pecadilhos do passado, têm mulheres que
trabalham e com atividades próprias, não se apresentam como heróis), e é necessário
que desenvolvam um trabalho eficaz à frente de suas responsabilidades, para que se
sustentem e se consolidem em seu papel de efetivos líderes.
Nas organizações, percebe-se um movimento de mudança, onde as figuras associadas ao
passado, embora ainda atuantes e vivas, começam a dar lugar a uma nova geração, com um
enfoque de atuação fortemente calcado em dois pontos: um traço de conservadorismo, no
que diz respeito ao seu comportamento pessoal, e uma dose de ética em níveis acima do
que estamos acostumados a perceber na classe.
Recentes declarações, entrevistas e posturas adotadas em eventos nos quais tive
oportunidade de conviver com representantes dessa nova geração, me fazem refletir sobre
os impactos a serem sentidos, no momento da ação consolidada dos novos profissionais,
tão logo se sintam livres e desimpedidos de agir profissionalmente.
A visão dessa nova liderança mostra um aspecto claro, no que diz respeito à busca de
resultados, onde os processos bem definidos, a qualidade da reputação e a visão do
negócio se dão sob uma ótica onde caminhos tortuosos serão abandonados, em nome de uma
postura límpida, ecológica, num ambiente onde convivem o produtor, o vendedor, o
cliente, o consumidor, com seus direitos preservados, e a qualidade é um princípio e
não um fim.
Já há algum tempo vimos percebendo uma evolução na relação entre líderes e
liderados, onde, segundo Drucker, o líder é alguém que tem seguidores e gera
resultados; no enfoque de Katayama associa-se à busca de resultados, à autoconfiança,
ao autodesenvolvimento e à automotivação dos liderados.
Os novos conceitos de organização levam a perceber que, antes do controle e do aspecto
econômico, a empresa tem um valor social forte - o lucro está associado ao crescimento
dos indivíduos.
É fundamental, para o sucesso da organização, o desenvolvimento e a real consolidação
dos níveis de eficácia de seu público interno, e a neutralização, senão a
eliminação dos sinais de ineficiência e fraqueza.
Os sinais recentes da globalização vêm colocando de joelhos nações até então tidas
como verdadeiros modelos de competitividade e com futuro promissor. E o percebido é o
desmanche de um cenário irreal, onde o autoritarismo exacerbado, o oportunismo
irresponsável, o nepotismo pouco inteligente, no momento da crise, deixam entrever as
verdadeiras cores da insipiência interna.
A partir desta perspectiva, a visão mencionada no parágrafo em que se aborda o novo
conceito de organização coloca nos ombros das novas lideranças o cuidado com o
crescimento do indivíduo, como peça fundamental na geração de resultados efetivos,
capazes de agregar valor ao negócio.
O líder emergente deve colocar em sua lista de pontos a observar o cuidado com o
conhecimento do potencial e da capacidade de resolução de problemas e consecução de
resultados de seus seguidores - gerenciar com atenção seus perfis, suas características
básicas de atuação, suas reações diante do inusitado e do imprevisto, e sua visão de
sucesso.
O líder complementa, não substitui. O líder emergente deve se autodirigir, no sentido
de rever constantemente seus sinais de manifestação da ação de liderança - sua
assertividade, sua clareza, sua integridade. Líderes não são iguais aos outros, pelo
contrário, são diferentes, e por isso, são líderes.
Negociadores permanentes devem ser capazes de estabelecer uma linha constante de crítica
a métodos e processos superados, ou que não sejam capazes de agregar valor ao resultado
esperado.
As lideranças emergentes seguramente percebem que a negociação, além de
ser um excelente instrumento para obtenção e consecução de resultados, caracteriza-se
por ser uma ferramenta complementar da liderança, bem como um agilizador eficaz do
comprometimento nos negócios.
Diante desse quadro, parece-nos confortador e tranqüilizador o perfil dessas lideranças
mais novas que se avizinham no quadro empresarial brasileiro. Um perfil que exala
credibilidade, mostra transparência e não deixa entrever um falso democratismo
exacerbado, populista, que agrada a princípio, mas que não leva a lugar algum.
Talvez percebamos até um modelo um tanto mais autoritário - não confundir com o modelo
autocrático, onde o uso da autoridade é exacerbado e, portanto, disfuncional. O uso da
autoridade pressupõe a consolidação da liderança, a clarificação da segurança aos
liderados e a definição clara das responsabilidades nas equipes ditas produtivas.
A definição de um contrato de convivência entre os líderes e seus liderados, no qual
todos os papéis - as responsabilidades - são claros e indiscutíveis, onde os resultados
a serem alcançados estão bem definidos e, principalmente, os mecanismos de
acompanhamento e avaliação dos desempenhos foi previamente negociado, deve permitir a
cada um, uma reflexão sobre a qualidade do impacto de suas ações nos resultados.
São fatores imprescindíveis para a efetivação de uma liderança de impacto,
compatível com a realidade atual.
Modelos improvisados, vulnerabilidade aos imprevistos do ambiente, exposição ao risco
desconhecido, parece-nos uma forma de agir que não encontra eco na realidade
contemporânea, onde os passos, para serem vividos com prazer, são acompanhados de forte
dose de prevenção, não pelo medo, mas pelo sabor da qualidade.
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