A Carta de Genebra e as Negociações Agrícolas
A Carta de Genebra é um
documento apresentado pelo Ministério das Relações Exteriores que enfoca a visão geral
das negociações internacionais na OMC - Organização Mundial do Comércio. É em
suma, uma espécie de informativo que demonstra a agenda da Rodada de Doha e o seu
conteúdo é de responsabilidade do Chefe da Missão do Brasil em Genebra, Embaixador Luiz
Felipe de Seixas
Corrêa, e de sua equipe de colaboradores nas negociações da OMC.
Apresentarei adiante alguns pontos importantes do referido documento e que possuem
conectividade com as negociações agrícolas do Brasil na OMC.
Segundo a carta de Genebra, as negociações na agricultura avançam muito modestamente,
em função do decepcionante desempenho das delegações européias, japonesa e coreana,
cujas atitudes não se coadunam com o nível de ambição delineado no mandato de Doha.
Assim, considera-se que o processo negociador no setor agrícola ainda não
descarrilhou em relação ao cronograma de trabalho estabelecido pelos ministros na
Declaração de Doha. Veja-se que já ultrapassamos março e não tivemos o resultado
previsto, conforme cronograma da Rodada de Doha.
Resultado disso é que o ministro Roberto Rodrigues afirmou no dia 20/06/2003, durante a
reunião bilateral de cúpula Brasil-Estados Unidos, em Washington, que o adiamento da
reforma da Política Agrícola Comum da União Européia (PAC) reforça o ceticismo em
torno das negociações agrícolas na Organização Mundial do Comércio (OMC), para o
ministro pouco se avançará nas negociações das questões agrícolas.
Estas questões da negociações agrícolas, passam pelos desafios que o governo
brasileiro tem enfrentado no decorrer deste ano (2003), a exemplo de criação de
condições efetivas e equilibradas para as negociações agrícolas, sem que o pacote de
Doha tenha perda de razão e sentido; necessidade de assegurar a liderança institucional
do Diretor-Geral da OMC - Dr. Supachai Panitchpakdi na condução do processo negociador
e; evitar que haja um crescente predomínio de negociações bilaterais e regionais de
livre comércio que possam afetar negativamente o multilateralismo.
Neste momento em que ocorre uma reunião Mini-Ministerial da OMC, como preparatório
para a conferência do organismo em Cancún (México), em setembro de 2003; é
imprescindível a discussão da abertura do mercado agrícola mundial, como o principal
foco das discussões. Precisamos aprofundar o debate da proposta de redução dos
subsídios e apoios internos da União Européia feita pelo presidente do Comitê de
Agricultura da OMC, Stuart Harbison. No Brasil as propostas são consideradas
tímidas, curioso é que os Estados Unidos têm posição semelhante.
O Presidente do Grupo Negociador sobre Agricultura, Stuart Harbinson, quando da última
reunião do ano passado (2002) do Comitê de Negociações Comerciais - CNC, relatou
discussões produtivas sobre créditos a exportação e administração de quotas
tarifárias, porém apresentou o seu lamento com a falta de flexibilidade nas posições
dos países nas negociações agrícolas.
Na carta de Genebra, é dito que a posição do Brasil no Comitê de Negociações
Comerciais - CNC, foi de ressaltar a importância dos prazos estipulados em Doha,
assinalando a preocupação da necessidade de se avançar, de forma equilibrada e
gradativa, em todas as áreas das negociações. O Brasil reafirmou a centralidade das
negociações agrícolas para o nosso País, sublinhando a expectativa de que haja
conformidade do grau de ambição na abertura contida no mandato de Doha.
O capítulo da Agricultura na Carta de Genebra é muito rico e merece diversas reflexões,
face a clareza das dificuldades que norteiam as relações geopolíticas da agricultura
brasileira com o resto do mundo, tendo como centralidade os três pilares do Acordo sobre
Agricultura : competitividade na exportação, acesso a mercados e apoio interno. A Carta
de Genebra, deixa bem claro que na realidade, o processo negociador da agricultura na
Rodada de Doha não diferenciou significativamente das negociações mandatadas sob o
Artigo 20 do Acordo sobre Agricultura, ao longo do anos de 2000 e 2001.
O Brasil na condição de integrante do Grupo de Cairns, necessita alterar a vertente
protecionista que impera na Europa, Japão e Estados Unidos que tanto faz surgir
disputas comerciais na agricultura, indicando sempre mais negociações, a exemplo de
acordos como : cláusula da paz, caixa verde,
acordo fitosanitários e outros. Para isso é importante elaborar propostas
negociadoras, isso envolvendo os países do Grupo de Cairns, facilitando o surgimento de
um sistema mais justo de negociação agrícola internacional, evitando-se que as
políticas protecionistas continuem perpetuando a pobreza, a fome e a degradação
ambiental no mundo em desenvolvimento. Por isso julgo que a leitura da Carta de Genebra é
essencial para bem conduzir este desafio.
junho/2.003
Saumíneo da Silva Nascimento,
Especialista em Comércio Exterior, Economista, Pós-Graduado em Comércio
Exterior pela Universidade Católica de Brasília, Doutor em Geografia pela Universidade
Federal de Sergipe, pós-Doutorando em Comércio Exterior pela American World University -
AWU e Diretor de Planejamento e Articulação de Políticas da Superintendência do
Desenvolvimento do Nordeste - SUDENE.
ssn@sudene.gov.br
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