- O benchmarking tem sido descrito como uma das maiores revoluções
de gestão da década de 90, com uma popularidade cada vez maior á medida que outras
ferramentas e técnicas de gestão vão sendo descartadas como meras modas num
prazo muito curto (Prof. Zairi Univ. de Bradford)
O
benchmarking baseia-se numa comparação estruturada de desempenhos e dos processos que
estão na sua base, funcionando como um importante instrumento para melhorar o desempenho
através da aprendizagem das best practices (melhores práticas) e do entendimento dos
processos para as atingir.
Esta é a essência do benchmarking, ou seja, compreender os processos
mediante os quais os nossos concorrentes, atingem níveis de desempenho reconhecidamente
mais elevados, identificando assim as melhores práticas de forma a poder
adaptá-las ao contexto concreto em que nos situamos.
Um exercício de benchmarking pressupõe a total adesão na análise
comparativa, assumindo que este se traduzirá em benefícios mútuos para todas as
entidades intervenientes. Neste sentido, o benchmarking traduz-se num meio de fomento de
práticas de cooperação, fruto do espírito de confiança necessário para a partilha de
informação inter-empresarial.
Importa no entanto salientar que a selecção dos parceiros de benchmarking
pode constituir a tarefa mais difícil de todo o processo, dado que a má selecção irá,
inevitavelmente, produzir maus resultados, bem como os parceiros tidos como referência
poderem não estar dispostos a realizar esse exercício, visto não vislumbrarem nenhum
potencial benefício da realização dessa actividade.
Nesse sentido, importa definir claramente quais os benchmarks que uma
organização pretende alcançar (embora por vezes a similaridade da expressão induza
alguma confusão, os benchmarks são as medições utilizadas para determinar o desempenho
e para identificar uma diferença de desempenho).
Um estudo da Coopers and Lybrand (1994), identificou os seguintes benefícios
potenciais associados a um processo de benchmarking, nas empresas que conseguiram
adoptá-lo:
Benefícios do Benchmarking |
Define objectivos significativos e
realísticos Melhora a produtividades Ajuda as empresas a perceber melhor certos aspectos da respectiva actividade Identifica, atempadamente, as desvantagens concorrenciais Motiva o pessoal mostrando que é possível realizar |
93% |
Embora os benefícios associados a um processo de benchmarking sejam múltiplos e
variados, os resultados do benchmarking apenas poderão melhorar o desempenho quando se
traduzirem em alterações nos processos preexistentes, limitando-se até esse momento, a
um mero exercício de recolha de dados.
Avaliação do Desempenho Portuário
Ao
estabelecermos a analogia para a Logística Portuária, tendo em consideração o
carácter dinâmico associado a um exercício de benchmarking, a avaliação do desempenho
portuário não se pode limitar, tal como até aqui tem acontecido, a uma análise
retrospectiva do desempenho global do sistema logístico, com base em dados históricos e
estatísticos relativos à evolução do volume de cargas movimentadas anualmente pelo
porto. Não é igualmente compatível com uma mera análise de sensibilidade, através da
auscultação da opinião dos diferentes intervenientes na passagem portuária,
acompanhada de recomendações pontuais visando a melhoria da performance logística.
Neste
sentido, a avaliação do desempenho portuário implica uma concepção diferente da
problemática e cultura portuária, traduzida no redesenho e concepção de um sistema
logístico integrado, numa perspectiva dinâmica e de contínua auto-regulação, assente
em indicadores de performance logística que permitam a permanente avaliação e controlo
do desempenho dos diferentes subsistemas e fluxos logísticos portuários.
Nesta óptica de
logística integrada, torna-se necessário:
- A definição de
indicadores de eficiência directa para a avaliação da performance logística de cada um
dos subsistemas e fluxos logísticos, de modo a permitir a sua comparação com
indicadores de performance logística de portos concorrentes;
- A partir dos indicadores de performance logística de eficiência directa
é possível a definição de indicadores de eficiência integrada que permitam avaliar
permanentemente o desempenho conjunto dos diferentes subsistemas e fluxos logísticos;
- A definição de indicadores de desempenho global do sistema permitirá a permanente
retroacção - feedback - do sistema logístico implementado.
A partir dos indicadores de performance logística (eficiência directa, eficiência
integrada, indicadores de desempenho global do sistema) é possível a sua comparação
com outros portos concorrentes. Este exercício de benchmarking procura comparar a
situação do porto analisado com portos concorrentes, revelando factores críticos de
sucesso e best practices que permitam um melhor desempenho portuário.
Benchmarking Portuário
Apresenta-se seguidamente,
de forma esquemática, um exercício de benchmarking, no qual é efectuada uma análise
comparativa (a partir de uma plataforma comum para avaliação do desempenho da actividade
portuária), em termos de preços, custos e indicadores de performance portuária.
Indicadores Analisados |
Perfil de Desempenho |
||||||||||||||||||||||||||||||
|
|
Porto X |
Porto Y |
No entanto, numa perspectiva de logística integrada e face ao alargamento
do conceito de hinterland geográfico a um conceito mais abrangente de hinterland
económico, a avaliação do desempenho portuário não poderá apenas incidir nos
subsistemas e fluxos logísticos que se estabelecem na área de jurisdição portuária,
mas terá que necessariamente incluir a análise das diferentes combinações modais que
se organizam a partir da interface portuária, visando a optimização da relação nível
de serviço/custo da cadeia logística, perspectivada como um todo, desde o expedidor ao
consumidor final.
Nesta mesma lógica de benchmarking aplicado à cadeia logística
perspectivada como um todo desde o expedidor até ao consumidor final, decorre
presentemente um projecto para promoção do TMCD (Transporte Marítimo de Curta
Distância), elaborado pelo Conselho Europeu de Carregadores em estreita coordenação,
com o Ministério dos Transportes Alemão e Holandês e com a Administração Marítima
Sueca. Este projecto visa a implementação de SPIs (Service Performance
Indicators), em cadeias logísticas de TMCD entre Gotemburgo e Roterdão.
O relatório preliminar concluiu a existência de 79 diferentes actividades
na cadeia logística porta-a-porta desde o expedidor até ao recebedor final, as quais
envolvem transferências de carga, informação ou documentação. Foram igualmente
identificadas 6 interfaces nas cadeias logísticas associadas ao TMCD, nas quais se
verifica uma transferência física das mercadorias (expedidor/transportador terrestre;
transportador terrestre/operador portuário; operador portuário/embarque da mercadoria;
desembarque da mercadoria/ operador portuário; operador portuário/transportador
terrestre; transportador terrestre/recebedor).
De acordo
com o Secretário Geral do Conselho Europeu de Carregadores, o próximo desafio consiste
na detecção com recurso aos SPIs (Service Performance Indicators) de pontos
críticos e estrangulamentos dos fluxos logísticos a nível das diferentes 79 actividades
identificadas na cadeia logística porta-a-porta. Em função do grau de desagregação da
informação pretendida, é ainda possível a partir destes indicadores de desempenho uma
maior acuidade da informação, resultado de um nível de segmentação mais fino.
A definição de standards nas cadeias logísticas de TMCD, em
termos de qualidade, custo, flexibilidade e fiabilidade, assumir-se-á como um importante
instrumento para melhorar o desempenho através da assimilação de best practices e do
entendimento dos processos para as atingir.
Estudo da Logística do Porto de Lisboa
A nível
nacional, a APL Administração do Porto de Lisboa, tem assumido algum protagonismo
nesta matéria, nomeadamente com o desenvolvimento do Estudo da Logística do Porto
de Lisboa.
Infelizmente, nem todos os intervenientes na passagem portuária têm
compreendido o espírito de cooperação subjacente a um exercício de benchmarking, o
qual, inevitavelmente, se irá traduzir em benefícios mútuos para todas as entidades
portuárias envolvidas.
A ausência de informação disponível para a correcta avaliação da
performance logística portuária, tem-se assumido como a principal limitação à
implementação de um sistema de monitorização e controlo do desempenho portuário.
Importa pois fomentar uma nova cultura portuária, assente num espírito de cooperação e
confiança entre todos os intervenientes na passagem portuária.
O benchmarking portuário poderá assumir-se como um importante contributo
na prossecução deste desiderato.
agosto/2003
Fernando José
da Cruz Gonçalves,
Oficial da Marinha Mercante, Bacharel em Pilotagem (ENIDH - Escola Náutica Infante D.
Henrique), Licenciado em Gestão e Tecnologias Marítimas (ENIDH - Escola Náutica Infante
D. Henrique), Licenciado em Administração e Gestão Marítima (ENIDH - Escola Náutica
Infante D. Henrique), Pós-graduado em Gestão do Transporte Marítimo e Gestão
Portuária (ISEG - Instituto Superior de Economia e Gestão), Pós-graduado em Gestão do
Transporte Rodoviário de Mercadorias e Gestão Logística (ISEG - Instituto Superior de
Economia e Gestão).
Professor Adjunto do Departamento de Gestão e Logística da Escola Náutica Infante D.
Henrique, sendo responsável pela docência de disciplinas na área da Economia Marítima
e Portuária.
Consultor em Transportes, Portos e Logística em diversos projectos e
estudos realizados no âmbito de programas co-financiados pela Comissão Europeia.
Autor e co-autor de diversas publicações na área da Economia dos
Transportes.
fcgoncalves@oninet.pt
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