A revista
Exame em sua edição de 01/Outubro/2003, publicou interessante reportagem sobre o
potencial de consumo das classes de renda mais baixas no Brasil. A reportagem partia
de estudos que apontavam que as classes C D e E
representam 72% dos lares e a sua capacidade de compra é estimada em 372,5 bilhões de
reais. Muito mais do que dispõe as classes A (212.8 bilhões) e B
(301,5 bilhões). Apesar desse fato, boa parte das empresas durante muito tempo torceu o
nariz para esse público, preferindo se limitar ao competitivo mercado composto pela ponta
da pirâmide social. Obviamente não todas, porque organizações como grupo Silvio Santos
e Casas Bahia sempre souberam ganhar dinheiro nesse mercado. Mas a reportagem mostra que a
visão está mudando e que agora, muitas empresas estão voltando os olhos para o
público de baixa renda e cita vários exemplos de grandes corporações como o do
Restaurantes Mcdonalds que constrói quiosques de sorvetes na favela da Rocinha; a empresa
de cosméticos Avon que abaixa o preço de seus produtos e vende tanto para a patroa
quanto para a empregada doméstica e a industria de eletrodomésticos Multibrás que
desenvolveu um novo modelo de lavadora mais econômica visando exclusivamente a classe
C. A estratégia faz sentido, afinal, parodiando a música do Milton
Nascimento, toda empresa tem que ir onde o povo está. Mas a questão
que vem a mente é a seguinte: será que essa estratégia poderia também ser aplicada na
Internet? Ou seja, pode-se tentar atingir o público de baixa renda através do canal de
comercialização Internet? Uma comparação entre o perfil do brasileiro e do
o comprador on-line vai possibilitar uma resposta mais conclusiva. A última pesquisa
nacional de domicílios do IBGE PNDA com dados de 2002, mostra que nada menos
que 54% dos domicílios tem renda abaixo de 720 Reais, já no caso do e-consumidor, dados
da empresa e-Bit mostram que apenas 6% dos consumidores on-line ganha menos do que 1.000
Reais por mês. Se quisermos ver por outro ângulo, a diferença continua gritante: 43%
dos e-consumidores ganha mais do que 3.000 Reais por mês, renda que é atingida por
pouco mais de 2,5% dos domicílios brasileiros. É quase que uma realidade invertida, uma
suíça incrustada na índia. É importante ressaltar que estamos comparando a população
brasileira com os consumidores on-line, a parcela mais elitizada dos internautas e que
representa pouco mais de 10% desta.
A conclusão que pode ser extraída desses números, no que se refere ao
e-commerce, é que a Internet funciona como uma grande peneira retendo apenas o público
de maior renda. O que significa que a Internet é o canal ideal para se buscar aqueles
consumidores de maior poder aquisitivo e, pelo menos no horizonte de curto prazo, os
produtos consumidos majoritariamente pelas classes mais baixas dificilmente terão sucesso
através desse canal. Devemos fazer a ressalva que a tendência ao longo do tempo é uma
maior penetração da Internet junto a essas classes, o que deverá aproximar o perfil do
consumidor on-line do consumidor tradicional. Embora, quase que certamente, eles nunca
serão semelhantes.
outubro/2003
Dailton Felipini ,
Mestre em Administração pela Fundação Getúlio Vargas. Consultor
e Professor de Comércio Eletrônico na Universidade Ibirapuera. Editor
dos sites: www.e-commerce.org.br
profdailton@e-commerce.org.br
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