Temos notado, finalmente,
que o comércio exterior brasileiro tem sido objeto de mais atenção nos últimos tempos.
Em especial a exportação, de tal modo que se tornou o principal tema de nossa economia,
e visto como uma das mais eficientes armas da salvação da lavoura e da retomada do nosso
desenvolvimento.
No entanto, muito se fala mas pouco tem sido feito de concreto, e o crescimento e
superávit ficam mais por conta do próprio empresariado. O atual quadro deve-se,
claramente, à errônea política econômica que vimos praticando ao longo dos últimos
anos, para não dizer em nossa história, e que nunca deu a merecida atenção ao
comércio exterior.
Nossos empresários também sempre trataram a exportação como uma
oportunidade temporal, mudando o foco quando o mercado interno apresenta melhoras,
esquecendo que a recuperação de clientes é muito mais complicada do que a sua
conquista, principalmente num mundo milenar e visivelmente globalizado.
Considere-se também que somos campeões mundiais de carga tributária e de
taxa de juros, considerando nosso (sub)desenvolvimento, o que sempre tem complicado
sobremaneira o desejo de exportação, pois não é fácil exportar estes dois
componentes.
Desse modo, nossa participação no comércio mundial regrediu nas últimas
duas décadas, passando de 1,5% para pífios menos de 1%, sem contar que exportamos muito
pouco em relação ao PIB, enquanto o resto do mundo pratica percentuais muito maiores,
portanto, estando muito mais integrados ao mundo.
A participação global no comércio exterior é de 40% do PIB mundial, nas
2 vias, exportação e importação. Precisamos aumentar nossa participação, o que
parece que pode começar a ocorrer a partir de agora, pelo menos se levarmos em conta o
ano de 2003 isoladamente. Esperamos que 2004 isso tenha continuidade.
Ao longo do tempo temos falado muito em consórcios de exportação, uma
eficiente maneira de aumentarmos nossas vendas externas, principalmente através de
pequenas e médias empresas que não conseguem fazer isto sozinhas. Felizmente, eles
estão merecendo mais atenção, muito embora não estejam sendo criados da maneira como
julgamos que deveriam ser, e que trariam muito mais resultados.
Gostaria de colocar à nação mais uma opção, que espero que um dia
encontre o mesmo respaldo recebido pelos consórcios, que é a idéia de um Banco de
Negócios.
O que seria esse banco? Já não os temos em número suficiente no país?
Esse banco, conceitualmente, é totalmente diferente do banco normal e formal que
conhecemos, cuja função no comércio exterior é comprar e vender câmbio.
Esse Banco de Negócios seria uma mistura de banco e empresa, cujo objetivo
principal seria o comércio exterior, mas não da maneira tradicional com financiamentos e
contratações de câmbio, mas com compra e venda de produtos, portanto, respaldando as
nossas exportações através das importações.
Sabemos que o comércio exterior é um via de duas mãos e, portanto, um
aumento nas vendas pressupõe uma contrapartida nas compras. Só que isso nem sempre é
possível através da mesma empresa, além do fato de que os produtos do país comprador
podem não interessar diretamente ao nosso.
A idéia, então, é que nossas empresas exportadoras vendam os seus
produtos e o Banco de Negócios, se preciso, entra comprando desse país os seus, em
valores ou volumes necessários a permitir nossas vendas, revendendo-os, posteriormente, a
outras empresas brasileiras ou a terceiros países.
Como se vê, não seria um banco comum, nem um banco de financiamentos ou
empréstimos, mas um Banco de Negócios, isto é, de apoio às nossas exportações. Seria
um banco efetivo de exportação e importação.
Em certos aspectos teria uma semelhança bastante grande com as operações
de uma Trading Company, porém, com o objetivo de respaldo ao aumento de nossas
exportações, o que não é o escopo de atuação das Tradings.
Como esse banco poderia não se viabilizar apenas com esses negócios,
visto que estaria implícito a perda de algum dinheiro em determinadas operações, ele
poderia ser uma agência especial do governo funcionando como incentivo à exportação.
Também está implícito, nesse caso, o apoio de nossas embaixadas,
consulados e escritórios comerciais no exterior, na identificação de oportunidades de
negócios que possam alavancar as nossas vendas externas, e as áreas em que o Banco de
Negócios poderia entrar comprando para permitir as vendas de nossos produtos.
O nosso Ministério das Relações Exteriores, como pode ser notado,
passaria a ter uma ação fundamental no comércio exterior brasileiro, o que nem sempre
ocorre, salvo algumas exceções louváveis.
Dessa maneira, sim, o governo brasileiro estaria trabalhando, efetivamente,
em mais uma frente, na direção do crescimento de nossas exportações, e aumentando as
chances de tornar viável o sonho do país de apresentar-se como um player de peso a
nível mundial, o que a nação, penhorada, agradece.
janeiro/2.004
Samir Keedi,
Professor de graduação e pós-graduação, consultor da Aduaneiras, autor, entre
outros, do livro ABC do comércio exterior abrindo as primeiras
páginas e tradutor do Incoterms 2000.
samir@aduaneiras.com.br
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