Durante
longos anos esperamos para ver o atual quadro de exportação do nosso país, em especial
chegarmos àquela emblemática cifra de US$.100 bilhões. Sempre criticado pela baixa
inserção mundial, com uma participação permanente nos últimos anos de cerca de 0,8%
(o que significa exportar US$.0.80 a cada US$.100.00 de exportação mundial), o país
parece estar reagindo e mudando o quadro histórico de importância diminuta. Histórico
apenas dos últimos anos, pois já representamos cerca de 1,5% há 2 décadas e 2% num
passado um pouco mais distante.
Vamos precisar trabalhar muito para retomarmos aqueles percentuais do
passado, o que é pouco provável que ocorra nesta década mas estamos tentando. Em
especial considerando o crescimento do comércio mundial e mais especialmente ainda, o de
alguns países que tem apresentado números fantásticos.
Vide a China, que em 2003 cresceu quase a cerca de 40% tanto na
importação quanto na exportação, atingindo nesse ano uma corrente de comércio de 850
bilhões de dólares norte-americanos, quase o dobro do PIB-produto interno bruto do
Brasil. É isso mesmo, em cada via, quase o equivalente a um PIB nosso.
A mesma China que repentinamente tornou-se nosso terceiro maior comprador
externo, e que chegou a terceiro importador mundial e quarto exportador, no calcanhar do
Japão, com participação de cerca de 5,5% do comércio mundial.
A China é o exemplo a ser seguido, pelo menos na área econômica e de
comércio exterior, pelo trabalho que vem realizando.
Está bem que se diz que há problemas, que os salários são baixos e o
trabalho quase escravo. Tudo bem, mas não há trabalho escravo no Brasil e nem baixos
salários? A FGV acaba de divulgar que há 56 milhões de miseráveis no Brasil, 1/3 da
nossa população. Miserável é todo aquele que tem renda abaixo de R$.79,00 por mês, o
equivalente a cerca de US$.27,00, ou menos de US$.0.90 por dia.
Assim, não adianta criticarmos a China por esses motivos. Até porque, na
distribuição de renda estávamos em 2002, segundo a ONU, na posição 197 entre 200
países avaliados. Estávamos à frente apenas da Suazilândia, República Centro-Africana
e um terceiro país que fugiu, sem minha autorização, da minha memória. O que quer
dizer que estávamos, também, até atrás da China.
O que se deseja questionar aqui é a tradição brasileira no comércio
exterior, que sabemos que é quase nula, e cuja prova está nos números históricos.
Será que, conforme já aconteceu no passado, e nem tão distante assim, o
nosso crescimento no comércio exterior não sucumbirá à retomada do crescimento de
consumo do mercado interno? Será que dessa vez a história será diferente e manteremos o
crescimento nos dois mercados, interno e externo? Esperamos que sim, e que a vocação
exportadora finalmente prevaleça dessa vez.
Além do problema do mercado interno, acredito que devamos ficar
apreensivos com o fato de estarmos tornando a China um de nossos maiores parceiros
comerciais, com clara tendência de alcançar o primeiro lugar. Vide, por exemplo, o
enorme crescimento das nossas vendas de soja e minério de ferro à China.
Porque a apreensão se a China é um país a ser seguido na economia, e que vem crescendo
há duas décadas há cerca de 9,1%?
Justamente por isso, já que não há paralelo a esse crescimento e não é
normal crescer tanto assim. Vide a questão dos fretes marítimos internacionais que
dispararam, e os navios e containers que desapareceram. Tudo em face da grande demanda
chinesa, que está impondo novos padrões mundiais. Os estaleiros estão abarrotados de
encomendas de navios para suprir a demanda, e até os estaleiros brasileiros estão
renascendo. Ainda bem, finalmente.
Temos lido que as autoridades chinesas pretendem reduzir o crescimento da
economia local, visto que não há como suportar mais o crescimento de quase 10% ao ano.
Parece haver uma flagrante dissociação entre crescimento e infra-estrutura para
suportá-lo.
As autoridades pretendem reduzir o crescimento em 2004 para máximo de 7%.
O problema é que, mesmo contra a vontade de todos, o crescimento tem sido maior e foi,
segundo divulgado, de 17% no primeiro trimestre deste ano.
Se parece que a China pode ter problemas, o que poderá acontecer ao Brasil
e à economia mundial, especialmente ao comércio exterior, se isso vier realmente a
ocorrer? Nesse sentido é que parece estar ficando perigoso o fato da China estar se
convertendo em nosso principal importador.
Toda concentração é maléfica, e no comércio exterior pode trazer
problemas graves. Já temos esses problemas internos, que podem ser agravados pelos
externos, já que tivemos o seguinte em 2003:
- apenas 17.743 empresas exportadoras no total;
- apenas 117 delas responderam por 59% da nossa exportação;
- apenas 264 responderam por 71% da nosso exportação.
maio/2004
Samir Keedi
Professor de graduação e pós-graduação e autor, entre outros, dos livros
Transportes, unitização e seguros internacionais de carga-prática e
exercícios e Logística de transporte internacional e tradutor do
Incoterms 2000 para o Brasil
samir@aduaneiras.com.br
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