EADI: custos e faturamento de serviços, uma abordagem
estrutural
Introdução
Há várias metodologias para apuração de custos na manufatura, algumas
de recente elaboração, e muita controvérsia a respeito da interpretação dos dados
para tomada de decisões. As principais decisões seriam o balizamento do preço de venda
e alterações no processo e estrutura de produtos para melhoria de rendimento e
produtividade. Nos serviços, não há metodologias consagradas, principalmente pela
intangibilidade, pois parte importante deles são resultantes do conhecimento sem qualquer
transformação física ou alteração de natureza.
Particularmente na EADI (Porto Seco), há dificuldades na conceituação
dos serviços, na associação deles a determinados eventos, na escolha das unidades de
controle e, principalmente, no necessário reconhecimento do valor deles pelos
depositantes. Se isso não bastasse, apontá-los ainda é fonte de imprecisão, ao
contrário da manufatura onde as máquinas, cada vez mais, passam a registrar sua própria
produção ou sensores que permitem acompanhar o processo produtivo em tempo.
Este texto visa descrever algumas diretrizes para um sistema de apuração
de custos e faturamento dos serviços de um Porto Seco.
Porto Seco como depósito de uso público
Porto Seco é uma concessão pública, isto o impede de recusar
armazenamento de um depositante devidamente autorizado. Neste caso, ainda que
excepcionais, não há qualquer negociação de preço, obrigando que o Porto Seco
disponha de um padrão para cobrança dos serviços. Normalmente, os depositantes são
muito disputados, assim, o controle de fatores como qualidade e preços dos serviços são
referências básicas para a continuidade da organização.
Ocorrências
Chamemos de ocorrência a realização de um determinado serviço pelo
Porto Seco para um de seus depositantes.
Agregadores de serviços
Todas as ocorrências devem ser associadas a uma referência documental
básica que tenha ligação com documentos do depositante. Esta referência é o lote em
seu amplo sentido tanto para importações (conhecimento) quanto para exportações (nota
fiscal). As transformações ou fracionamento dos lotes carregam as ocorrências
anteriores.
Serviços
Tal como numa indústria, todos as ocorrências devem ser registradas
principalmente para que o custo integral de cada lote seja conhecido possibilitando que a
direção saiba a margem real de cada operação com os depositantes.
É indiscutível que deve-se controlar o que se pode cobrar, porém nem
todas as ocorrências sobre um lote podem ser cobradas do depositante, seja pela
dificuldade em apontá-las seja pela dificuldade em serem reconhecidas pelo depositante.
Entre as EADI, há um padrão de serviços cobráveis a ser respeitado - caso contrário
seria muito difícil a comparação de preço entre as EADI -, bem como há diferentes
situações de mercado (abundância ou escassez de capacidade de armazenagem) que obrigam
as EADI a calibrarem seus preços.
Entre os serviços prestados pelo Porto Seco, o importante é saber quais
deles são passíveis de serem apontados com precisão, ou seja, para cada um deles
deve-se considerar o custo do apontamento e a relevância do serviço.
A título de exemplo seguem alguns dos serviços: Registro da DA,
Admissão, Registro de Documento de Saída, Liberação RF, Pesagem Entrada Carga,
Liberação para Carga, Preparação da Coleta, Coleta, Carregamento Carga Solta, etc.
Objeto da ocorrência
As ocorrências sempre referenciam um objeto (ex. documentos, veículos,
conteiner, movimentação de mercadorias, contagem de itens e armazenagem) podendo ser
gerados automaticamente pelo sistema ou manualmente inseridos. A geração automática de
ocorrências constitui um diferencial muito relevante para o controle das operações
basicamente por obedecer as regras comerciais negociadas, pela consonância com a
realidade e por reduzir custos administrativos. Apontamentos paralelos ao sistema, para
serem exatos, devem ser severamente conferidos o que tende a elevar custos e não serem
oportunos.
Quantificação dos serviços
Os serviços devem ser expressos em mais de uma unidade de controle ao
mesmo tempo: unidade de peso, de volume, monetárias, mera ocorrência etc. Esta forma
flexível de quantificar as ocorrências dos serviços facilita a negociação com os
depositantes em função da variação do acondicionamento (na entrada e na saída), da
natureza da mercadoria, regimes aduaneiros, volume de documentação e movimentação.
Recursos usados nas ocorrências dos serviços
Um mesmo serviço pode ocorrer com diferentes recursos variando o número
de pessoas, o tipo de equipamento usado na operação e a estrutura de armazenagem usada.
Assim, o custo, além de depender do serviço em si, depende também da quantidade e
natureza dos recursos necessário. Esta característica dificulta o apontamento das
ocorrências pois exige informações complementares.
Log das ocorrências
Um bom sistema de custo deve gerar a ocorrência como sub-produto do
registro do fato gerador correspondente. Este automatismo, coerente com os eventos, evita
duplicidade ou omissão de seu registro, além de eliminar apontamentos manuais. Neste
sentido, procedimento de registro é análogo a contabilização automática tão
vulgarmente utilizados nos sistemas corporativos, exigindo rígido controle paramétrico.
O registro correto e automático das ocorrências pelo sistema permite ao
Porto Seco cobrar o que não cobrava devido à impossibilidade em comprovar os
lançamentos. Além do conhecimento dos custos, obtidos através do registro de todas as
ocorrências, o sistema abre novas possibilidades de comercialização.
Estrutura da ocorrência
É fundamental que toda ocorrência seja datada, associada a um documento
do depositante que o justifique, aponte o local e o responsável pela sua execução pois,
tão importante quanto apontar a ocorrência é comprovar sua veracidade ao depositante.
Não deve ser esquecido que, sendo o valor uma das unidades de controle, há necessidade
da conversão de moeda pois os documentos são para uso internacional.
Eventos disparam o faturamento
Quando faturar o depositante? As EADI(s) têm um padrão de disparo para o
faturamento dos serviços - na entrepostagem ou na saída de um documento - e regras
consagradas para a cobrança de estadia. Todavia, é importante que haja flexibilidade em
relação ao evento que autoriza o faturamento considerando todos os serviços até então
realizados. O sistema também deve atender uma das solicitações mais freqüentes dos
gerentes de ambas as partes: conhecer o potencial de faturamento, ou seja, os serviços
realizados e ainda não faturados.
Tabela de preço dos serviços
O que deve ser cobrado do depositante, quais devem ser as regras de
cálculo para valorizar cada um deles e quais seriam os eventos de disparo do faturamento?
Estas questões devem ser respondidas por um contrato entre o Porto Seco e o depositante,
que é conhecido como tabela de preço. A capacidade da tabela de preço em absorver novas
regras comerciais é uma das características mais importantes a serem observadas pelo
sistema, sob pena de se ter necessidade de trabalhos adicionais em planilhas sem qualquer
controle sistemático.
Faturamento dos serviços
O serviços realizados devem ser valorizados através da conveniente tabela
de serviços associada ao depositante e sintetizados por grupo de serviços para a
emissão da nota fiscal. Não se deve perder de vista algumas particularidades na nota
fiscal tais como contribuições com base de cálculo especial. O depositante tem
necessidade de receber um demonstrativo detalhado dos serviços cobrados.
julho/2004
Fernando Di Giorgi
Uniconsult Sistemas e Serviços
fernando@uniconsult.com.br
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