Panorama do Transporte Rodoviário de Cargas no Brasil
Não é novidade para
ninguém que no Brasil o modal rodoviário prevalece sobre os demais modais de transport
Na década de 50 o modal rodoviário respondia por cerca de 40% do total
transportado no Brasil e a sua participação na matriz de transporte se elevou
consideravelmente a partir da década de 60, estimulado pela vinda das indústrias
automobilísticas e pelo subsídio no preço dos combustíveis. Também colaboraram para
isso o histórico de serviço e a capacidade insuficiente dos outros modais e a falta de
regulamentação do setor de transportes.
O Estado de São Paulo, responsável por 33,4% do PIB brasileiro apresenta
uma matriz de transporte ainda mais distorcida, com 93,3 % de sua riqueza econômica sendo
transportada pelas rodovias, 5,5% pelas ferrovias e 1,2 % pelos outros modais. Em São
Paulo são 200 mil quilômetros de rodovias contra apenas 5,1 mil quilômetros de
ferrovias e 2,4 mil quilômetros de hidrovias.
Países de dimensões continentais como a do Brasil, como Estados Unidos,
Austrália, Canadá e Rússia possuem matrizes mais equilibradas, estimulando o uso dos
modais alternativos e a prática da intermodalidad
No Brasil o modal
rodoviário enfrenta diversos problemas estruturais, dos quais destacamos:
· excessivo número de empresas no setor, o que provoca acirramento da
competição e perda no poder de barganha junto aos Clientes
· comoditização do produto transporte
· má conservação das estradas
· roubo de cargas
· idade da frota dos caminhões
· pesada carga tributária
· pouca carga de retorno
· altos tempos de espera para carga e descarga
A última pesquisa
realizada pelo IBGE em 2001 apontava a existência de 47.579 empresas de transportes,
número 37% superior ao apurado na pesquisa realizada em 1999, que contabilizava a
existência de 34.586 empresas. Esta mesma pesquisa apurou que em 1992 eram 12.568
empresas, portanto, houve um aumento de 279 % no número de empresas em menos de 10 anos!
Estima-se que sejam cerca de 72.500 empresas atualmente, sendo 12.000 delas com mais de 5
funcionários.
O mercado está saturado; estima-se que 85% das cargas existentes esteja
terceirizada. E como não há barreiras legais ou econômicas para a entrada de novos
competidores, a situação tende a piorar. Muitas empresas do setor sucumbirão diante dos
desafios, mas outras novas empresas surgirão numa velocidade muito maior!
Os serviços de transporte passam por um processo de comoditização,
ou seja, praticamente não existem diferenças significativas entre as opções existentes
e as decisões da grande maioria dos Clientes baseiam-se única e exclusivamente no custo.
A degradação da malha rodoviária acarreta aumentos de custos
operacionais de até 40%, gastos adicionais com combustíveis de até 60% e tempos de
viagem maiores em até 100 %. A pesquisa CNT 2004 realizada em aproximadamente 75.000 km
de rodovias em todo o Brasil apontou que 74,7% da extensão avaliada apresentava algum
tipo de imperfeição. Nos EUA, numa malha de 6.406.296 km, este mesmo índice não chega
a 5%!
No Brasil, de uma malha rodoviária de 1.744.433 quilômetros, apenas 9,4%
encontra-se pavimentada. O Brasil que já investiu cerca de 2,0% do PIB em infra-estrutura
de transportes, gastou míseros 0,1% em 2004!
Em 1992 o prejuízo com o roubo de cargas era de R$ 25 milhões e
atualmente vem alcançando cifras ao redor de R$ 1 bilhão. Em 2003, segundo a CNT
(Confederação Nacional dos Transportes), foram 11mil roubos a caminhões, significando
prejuízos em torno de R$ 700 milhões. O item gerenciamento de risco passou de 5% para
15% da receita bruta das empresas de transportes, envolvendo algo em torno de R$ 1,5
bilhão / ano. E apesar de todo aparato criado para prevenir o roubo de cargas, as
quadrilhas inovam a cada dia, impondo novos desafios às autoridades e às empresas de
transport
76% da frota de caminhões no Brasil tem mais de 10 anos; especialistas
americanos recomendam a utilização máxima de 8 anos. A idade média da nossa frota é
de 18,8 anos e nas pesquisas realizadas foram constatados veículos com mais de 40 anos de
uso. São mais de 800.000 caminhões com mais de 20 anos de uso, quase a metade da frota
brasileira de caminhões, estimada em 1.850.000 veículos. A média americana não
ultrapassa os 7 anos!
A questão tributária é outro ponto relevant
Com 57,1% do PIB brasileiro concentrado nos Estados da Região Sudeste e
outros 17,8% nos Estados da Região Sul, torna-se praticamente impossível equilibrar o
fluxo de carga nas viagens de ida e volta, comprimindo ainda mais a já pequena margem da
empresa de transporte de cargas. A rentabilidade sobre a receita das grandes empresas de
transporte de carga varia de 2% a 4%, conforme apresentado no ranking das maiores empresas
do setor publicado pela Revista Transporte Moderno em Novembro/2004. É muito pouco para
tanto esforço!!!
O cenário atual é preocupante e o futuro assustador. Há uma dependência
muito grande das autoridades públicas para que os principais problemas sejam resolvidos,
porém, na prática, há pouquíssimos sinais de que algo realmente concreto ocorra.
Enquanto isso, as empresas de transporte terão que apertar ainda mais os
seus cintos e torcer para que alguma alma iluminada possa valorizar devidamente um setor
importante e estratégico da nossa economia!
fev/2.005
Marco Antonio Oliveira Neves,
Diretor da Tigerlog Consultoria, Hunting e Treinamento em Logística Ltda
marcoantonio@tigerlog.com.br
www.tigerlog.com.br
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