A desaceleração das vendas ao exterior é um fato
que tem sido noticiado com freqüência no noticiário econômico dos últimos meses
e as reações oficiais a respeito, pouco ou nada tem sido ouvidas.
Será por acaso que as autoridades encarregadas de acompanhar o desempenho do setor
externo de nossa economia não estão enxergando os problemas que certamente ocorrerão
num futuro não muito distante de continuar o setor a continuar a operar em um marco de
completa insegurança já que não existe política cambial que ofereça previsibilidade
as operações?
A sobrevalorização do Real é um fato inconteste que esta jogando por água abaixo
o grande esforço exportador empreendido por numerosas pequenas e médias empresas que,
atendendo em parte a discursos anteriores do tipo exportar ou morrer fizeram
da atividade parte importante de seu dia a dia de negócios. Esforço exportador que
frutificou inserindo no mercado internacional centenas de empresas que nunca antes
tinham se aventurado nesta área e que, após um período de namoro prolongado estão
tendo que enfrentar uma lua de mel espinhosa e complicada.
A perda de negócios, a quebra de contratos, os prejuízos não esperados terão
certamente um efeito devastador na animosidade empresarial para continuar no jogo
exportador. A imagem do País, por outro lado, também será igualmente afetada, visto que
a comunidade internacional de negócios já está ao tanto e devidamente informada do
desarranjo que prevalece no nosso Comércio Exterior.
Na frente comercial, propriamente dita, o estrago será ainda maior, já que contratos
não honrados, ou renegociados ad nauseam no quesito preço (elevação de
valores em moeda conversível) tem o mérito também de estremecer as relações pessoais
dos negociadores intervenientes nas operações de comércio internacional.
Pareceria que o Governo Brasileiro e as autoridades responsáveis do Comércio Exterior
estão somente enxergando os números (até agora favoráveis) da balança comercial,
que é positiva pelo fato de que os grandes fluxos de nossas exportações se mantiveram
em alta em função de combinação de fatores favoráveis dos mercados
internacionais, elevação de preço de determinadas commodities minerais e também
em função de fatores inerciais e de compromissos assumidos pelas grandes exportadoras,
muitas delas multinacionais, que são obrigadas a vender ao exterior conforme
decisão de suas casas matrizes, já que as contabilidades dos grandes grupos
internacionais tem o mérito e a possibilidade de minimizar os prejuízos ocasionados por
paridades cambias desfavoráveis com a realização de lucros nos destinos da efetiva
comercialização.
Notamos que novamente o setor prejudicado e o genuinamente nacional para o qual toda a
política governamental teria que necessariamente e prioritariamente estar
orientada, nunca ao contrário como a pratica tem demonstrado. A anunciada liberalização
ainda em grau maior de nossas importações, em um contexto de faz de conta ,
já que as quotas e entraves burocráticos a atividade tem aumentado significativamente,
terminarão por finalmente anunciar o colapso do setor externo de nossa economia, que se
manterá unicamente ativo em função das commodities agrícolas e minerais nas quais
o mundo compra do Brasil.
Na importante e essencial atividade de manufatura, com incorporação
de valor agregado, o que veremos será uma progressiva perda de espaços nos mercados
internacionais em detrimento de outras economias emergentes que estão sabendo aproveitar
o crescimento do mercado mundial em forma mais sábia, adequada e consistente.
Não é possível deixar a situação como esta e é responsabilidade das entidades
atuantes no setor de Comércio Exterior fazer ouvir sua voz e exigir do Governo a
correção de rumo.
Não é possível deixar que a especulação cambial, e as forças provenientes do setor
financeiro sejam as que predominantemente ditem a política do setor externo de nossa
economia, que é importante demais para ser negligenciada.
março/2.006
Gustavo G. Schiuma
gschiuma@terra.com.br
Esta página é parte integrante do www.guiadelogistica.com.br
ou www.guialog.com.br .