Importância da Gestão Portuária: O caso que deu certo -
Porto de Suape-PE
Devido às exportações, o
Brasil se encontra na rota do desenvolvimento com sustentabilidade, permitindo um PIB em
crescimento, graças ao fortalecimento e melhor preparo das instituições. Em se tratando
de exportação, equilíbrio da balança comercial dentre outros assuntos do gênero
"o desenvolvimento do comércio internacional está ligado diretamente à questão
portuária, uma vez que a maioria das mercadorias comercializadas no mundo transporta-se
em navios e são movimentadas em portos ". Assim, faz-se necessário atentar para a
definição do plano de gestão a ser implementado no porto, bem como as estratégias que
serão adotadas no intuito de gerir com êxito o empreendimento.
Estratégia
O termo "estratégia" foi criado pelos antigos gregos, que para
eles significava magistrado ou comandante-chefe militar e foi absorvida pelo vocabulário
inglês em 1.688. Já na primeira metade do século XIX havia uma descrição de que
"enquanto táticas...(envolvem) o uso de forças armadas na batalha, a estratégia
(é) o uso de batalhas para o objetivo da guerra ".
Assim, Taylor afirma que "as principais questões estratégicas devem
surgir quando a gerência identifica as defasagens entre a visão corporativa e as
estratégias sugeridas pelo vários negócios da empresa".
Em sua obra Estratégia Competitiva de 1.980, Porter atacou a questão de como as
organizações / empresas, neste estudo, os portos, podem obter vantagem competitiva a
longo prazo. De um lado, as organizações podem obter vantagem competitiva adaptando-se
às suas circunstâncias específicas; de outro, a vantagem competitiva baseia-se no
princípio simples de que quanto mais sintonia e consciência do mercado, elas possuírem,
mais serão competitivas (através de preços mais baixos e maior fatia de mercado). Com
isso, Porter sugere que sejam analisadas as cinco forças competitivas, as quais têm
influência direta na organização: clientes, fornecedores, substitutos, concorrência e
novas empresas.
O porto de Suape (PE)
Na década de 50, o pesquisador econômico e social, Padre Louis Joseph
Lebret idealizou e sugeriu a construção do Porto de Suape. Em abril de 1.984, aconteceu
o primeiro embarque de álcool, dando início as operações. A partir de 1.991, entrou em
operação o Cais de Múltiplos Usos, movimentando cargas em geral conteinerizada.
Em 1.994 foi concedido um financiamento de R$ 15 milhões para a
construção de um terminal para armazenamento de combustíveis no Porto de Suape, o qual
aumentaria em 83% a capacidade de armazenamento de combustíveis. Mais uma vez, o fator
decisivo na escolha do local de instalação foi devido à boa infra-estrutura de Suape e
do nível de profundidade que permite a operação de navios com capacidade de 60 mil
metros cúbicos. Além disso, a localização de Suape é estratégica para importação
de produtos da Europa, Caribe e EUA, bem como para a distribuição nas regiões Norte e
Nordeste.
Percebendo a importância de um porto bem organizado, o Governo do Estado de Pernambuco
desde 1.990, passou a considerar o complexo de Suape como prioridade básica de sua
administração. O governador Joaquim Cavalcanti decidiu adotar o modelo dos países
desenvolvidos, - o europeu, em particular - deixando que os serviços, áreas de
operação e armazenagem ficassem sob cuidados de empresas privadas, ficando apenas com a
responsabilidade da infra-estrutura. Deste modo, o projeto do Complexo Industrial
Portuário de Suape foi revigorado pelo Governo estadual, passando a ser um hub-port
(concentrador e distribuidor de cargas) e atraindo a instalação de indústrias, empresas
portuárias, e armadores internacionais.
O porto de Suape dispõe de três condições naturais que contribuem para sua melhor
performance: águas profundas junto à costa; quebramar natural formado por uma linha de
arrecifes e extensa área plana disponível para instalações. Ainda para maior
proteção foi construído um molhe em forma de L de quase 3 km que forma a bacia onde se
ergueu o cais de acostagem dos navios.
Semelhante ao sistema europeu, a Administração do porto conta com reduzido número de
funcionários, cuidando apenas da movimentação de navios, segurança e manutenção,
cabendo às empresas privadas as operações com as cargas, como dito anteriormente. Este
sistema de gestão recebe o nome de landlord port (praticamente toda a movimentação de
cargas está concessionada a empresas privadas, cabendo à Administração do porto o
papel de assegurar o bom funcionamento do porto, controlando e garantindo o cumprimento da
existência do serviço público, para além do acompanhamento e fiscalização das
próprias concessões).
Devido a maioria dos produtos exportados por Suape ser proveniente da região e terem como
destino os EUA, a inspeção sanitária é feita ainda na fazenda por uma representação
da Vigilância Sanitária do governo Americano. Assim, os contêineres já saem das
regiões vistoriados e lacrados, não podendo ser mais abertos no porto. A movimentação
de cargas é realizada exclusivamente por operadores portuários pré-qualificados que
liberam o contêiner vazio com destino à fazenda dos produtos, fazendo o recebimento do
contêiner cheio, sua pesagem e armazenagem no terminal.
Assim, frutos dessa auspiciosa experiência já vêm sendo colhidos desde 1.991 quando os
resultados apresentados pelo Suape foram de crescimento de 15% na movimentação de cargas
e de 30% no número de navios, se comparados com o ano anterior. Se analisado o período
entre 1.992 e 1.998, o salto no total de cargas movimentadas foi de 300%, passando a
operar com superávit, visto que até então só operava com déficit - sua receita só
cobria 30% das despesas. Com isso, confirmando-se que o porto é o estímulo às
exportações, iniciou-se também o crescimento das plantações de frutas na região, bem
como em parte da Bahia, Maranhão e Piauí sendo que neste mesmo ano, 30% dos US$ 120
milhões de frutas secas exportados pelo Brasil foram embarcados pelo porto de Suape.
O resultado desta estrutura contribuiu diretamente à redução dos custos portuários,
sendo o menor custo do país. Enquanto ali se pagava US$ 92 (a média internacional), pela
movimentação de um contêiner, em Santos, a mesma operação custava US$ 200.
No ano de 2.005 novos empreendimentos foram divulgados como o grupo coreano têxtil Kabul,
cujo investimento previsto era de US$ 200 milhões entre 2.005 e 2.009, podendo gerar até
cinco mil empregos diretos, contribuindo ao mesmo tempo para o desenvolvimento da região.
Em 2.004 foram anunciados projetos como o pólo petroquímico desenvolvido pelo grupo
italiano Mossi & Ghisolfi - M & G (o qual estará inaugurando a maior fábrica de
resinas PET do mundo até fevereiro de 2.007) e pela Petrobrás (cujo investimento poderia
chegar a R$ 3,3 bilhões), um parque do grupo argentino Arcor, orçado em US$ 100
milhões, e uma fábrica da PepsiCo, com previsão de investimentos de R$ 70 milhões.
Recentemente, o porto de Suape realizou sua primeira operação de drawback (importação
de matéria-prima e exportação de produto acabado), pois é um porto estratégico e a
sua infra-estrutura permitiu o transporte dessa carga de uma única vez, dando início à
operação de drawback no Estado", além de possuir tecnologia e o sofisticado
sistema de controle nos aparelhos portuários que permitiram a operação em menos de duas
horas.
Segundo Goebel (BNDES), em termos de geração de cargas pesam a favor do porto a área
para a instalação de indústrias, o fato de ser o mais importante centro logístico do
Norte/Nordeste e a proximidade com os portos da América do Norte e da Europa.
Portanto, é preciso considerar que há relativamente pouca carga gerada nos portos do
Nordeste, o que acaba resultando em custos elevados para o transshipment (no sentido de
exportação, os contêineres são descarregados das embarcações de cabotagem para o
porto, sendo posteriormente, carregados em embarcações de longo curso; e no sentido de
importação, no sentido inverso) da carga que seguiria para os portos do Sul e do
Sudeste.
Quanto aos preços médios praticados nos principais portos nacionais entre os anos de
1.997 e 2.000, Suape esteve, com relação aos menores custos, em 3º lugar no ano de
1.997, 2º lugar em 1.998, 3º lugar em 1.999 e 1º lugar em 2.000. Tal posicionamento
contribuiu fortemente para que as movimentações de cargas, neste mesmo período,
aumentassem.
Percebe-se que o porto de Suape tem identificado as defasagens no ramo portuário e
aplicado algumas estratégias contribuintes para o seu bom funcionamento, como por
exemplo, tem atentado para as 5 forças competitivas de Porter: clientes, fornecedores,
substitutos, concorrência e novas empresas.
A gestão do porto de Suape desenvolve projeto que tratam da questão
ambiental e também dos serviços sociais, onde são desenvolvidos programas de apoio ao
desenvolvimento sustentável, fornecimento de infra-estrutura educacional à comunidade
(doação de roupas e alimentos, por exemplo), no intuito de manter o crescimento das
atividades portuárias sem agredir o meio ambiente, conscientizando a população sobre a
importância da atividade.
Como Porter afirma que as organizações podem obter vantagem competitiva adaptando-se às
circunstâncias, Suape assim o fez ao aproveitar a profundidade das águas para
construção do porto naquele devido local. E, quando defende que a vantagem competitiva
baseia-se no simples fato de estar em sintonia e consciente do mercado, a gestão do porto
de Suape é mais outro exemplo de que o corpo gestor analisou o mercado, detectou as
necessidades de serviços, os clientes e, elaborou um plano de trabalho onde a redução
de custos foi fator preponderante para tornar o porto atrativo e mantê-lo com
estabilidade.
Foi muito relevante o Governo do Estado de Pernambuco ter considerado o complexo
portuário como prioridade básica de sua administração a partir de 1.990, destinando
verba para a sustentação do projeto, divulgando-o internacionalmente e ao mesmo tempo
buscando investimentos para a região e o porto. Caso o Governo Estadual usasse da
estratégia de esperar somente o apoio do Governo Federal, 6 anos mais tarde, com o
Programa Brasil em Ação, poderia ter perdido a oportunidade de alavancar os negócios de
Suape, retardando seu desenvolvimento e competitividade.
Espera-se ter conseguido após essa leitura, uma visão global do serviço portuário
nacional, bem como analisar que com a implantação de estratégias bem elaboradas é
possível obter sustentabilidade do sistema, dado que este sistema portuário, tem grande
importância econômica ao Brasil como um todo.
maio/2.007
Vanina Macowski Durski Silva,
Engª de Produção Agroindustrial, Mestranda em Engª de Produção na área de
Logística e Transporte pela UFSC ( vaninadurski@gmail.com)
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