O comércio exterior precisa de uma logística adequada para a colocação de produtos nos mercados demandantes. Além disso, os meios de transportes influenciam na formação dos preços e na competitividade dos produtos que são comercializados. Diante disso, apresentaremos uma breve análise da distribuição dos modais no comércio exterior brasileiro, apontando os mais utilizados em termos de valores e de quantidades transportadas.
MODAL AQUAVIÁRIO - A minha primeira abordagem será com relação às exportações do 1º quadrimestre de 2007, que apresenta a seguinte configuração.
Tabela 1 - Modais de Transportes das Exportações
Brasileiras - 1º Quadrimestre de 2007
Código da Via | Descrição da Via de Transporte | Kg Líquido | US$ |
0 | LINHA DE TRANSMISSAO | 8.628.314,00 | 71.737.992,00 |
1 | MARITIMA | 134.034.385.656,00 | 38.251.871.501,00 |
2 | FLUVIAL | 3.339.213.739,00 | 284.563.823,00 |
4 | AEREA | 268.841.767,00 | 2.874.485.262,00 |
5 | POSTAL | 33.012,00 | 285.350,00 |
6 | FERROVIARIA | 199.183.623,00 | 119.167.759,00 |
7 | RODOVIARIA | 1.622.599.425,00 | 3.188.512.627,00 |
9 | MEIOS PROPRIOS | 400.492.159,00 | 1.657.876.764,00 |
Fonte : Sistema ALICE do MDIC
Vês-e pelos dados da tabela que o modal marítimo
exerceu a liderança de utilização no 1º quadrimestre de 2007. Do ponto de vista das
quantidades exportadas, a via marítima transportou 95,83%; já do ponto de vista dos
valores, o modal marítimo enviou 82,35% das exportações brasileiras. Estudos recentes
do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior já indicam que o
transporte marítimo é o mais utilizado no comércio internacional. Vê-se portanto, que
os portos desempenham um papel importante como elo de ligação entre os modais terrestres
e marítimos.
Algumas características apontam as vantagens que colocam o modal marítimo na liderança
de uso das exportações brasileiras, a exemplo de algumas vantagens fundamentais como:
maior capacidade de carga, carrega qualquer tipo de carga e tem o menor custo de
transporte. Mas este modal também apresenta algumas desvantagens, como : necessidade
transbordo nos portos, distância dos centros de produção e menor flexibilidade nos
serviços aliados e freqüentes congestionamentos nos portos.
Quando analisamos as exportações do ano de 2006, conforme dados da tabela 3, verifica-se
que os resultados de 2007, apontam uma continuidade do ocorrido em 2006, quando o modal
marítimo representou 95,78% das quantidades exportadas e 82,77% dos valores exportados.
Analisando uma série maior ainda, do período de 1996 a abril de 2007, conforme dados da
tabela 4, verifica-se que o modal marítimo transportou 94,95% das quantidades exportadas
e do ponto de vista de valor o marítimo, enviou 79,29% das exportações brasileiras. Na
análise deste período mais amplo, podemos indicar uma hierarquia dos modais, com base
nos valores de exportações que foram exportados. O principal modal foi o marítimo, o
segundo foi o modal rodoviário com 7,93%, em terceiro lugar ficou o modal aéreo com
7,01% das exportações, na quarta posição ficou o modal denominado de meios próprios,
que geralmente é o rodoviário e ficou com 4,24% das exportações, em quinto lugar ficou
o modal fluvial com 1,02%, na sexta posição tem-se o modal ferroviário com 0,27% das
exportações, na sétima posição ficou o modal postal com 001% e na oitava posição o
modal lacustre com 0,0003%.
Na análise das importações brasileiras no 1º quadrimestre de 2007, o modal marítimo
também ficou na liderança de utilização, com um percentual de 88,05% das quantidades
importadas e 69,03% dos valores importados, vê-se portanto, que a influência do modal
marítimo é maior nas exportações em relação às importações brasileiras. Do ponto
de vista das quantidades transportadas para o exterior, o modal fluvial ocupa a 2ª
posição, porém nos valores fica apenas na 5ª posição. Com isso, confirmam-se as
considerações do MDIC de que o transporte fluvial ainda tem uma utilização muito
pequena no Brasil, considerando-se o potencial das bacias hidrográficas brasileiras. Nas
quantidades que chegam do exterior, ou seja, as importações, o modal fluvial ocupa
apenas a 6ª posição entre os modais utilizados, já nos valores a posição é a 7ª,
ou seja, o modal fluvial também é mais utilizado nas exportações do que as
importações.
Sobre o modal fluvial, cabe comentar o porte dos portos brasileiros, que segundo
metodologia de estudo elaborada pelo IPEA - Carlos Álvares da Silva Campos Neto
(Brasília, 2006), classificam-se em :
Pequeno porte - são portos que apresentaram, em 2003,valores de comércio internacional
(exportações e importações) até US$ 500 milhões.
Médio porte - são portos que apresentaram, em 2003, valores de comércio internacional acima de US$ 500 milhões, até US$ bilhões.
Grande porte - são portos que apresentaram, em 2003, valores de comércio internacional acima US$ 5 bilhões.
A abordagem no modal aquaviário merece um destaque
especial, pois o seu nível de utilização na corrente de comércio brasileiro é alto,
portanto, necessita ter uma sintonia com as ocorrências de modernização global, pois a
intensificação do comércio mundial, com respectivas modificações nas práticas
mercantis, com destaque para o comércio internacional, estão a requerer um maior grau de
competitividade. Uma novidade neste aspecto é a utilização extensiva de contêineres
para o transporte de carga. Hoje no Brasil, as mercadorias conteineirizáveis são
transportadas através de modernos navios porta-contêineres, prática já existente nos
principais países com forte atuação no comércio internacional. Mas mesmo com este
exemplo, têm-se que o Brasil ainda necessita avançar no acompanhamento das mudanças
globais de tratamento de suas cargas, como é o caso da necessidade de modernização dos
equipamentos utilizados na movimentação dos terminais.
MODAL FERROVIÁRIO Este tipo de modal é muito utilizado na ligação de países
limítrofes, porém não tem flexibilidade de percurso, pois possui caminho único. Além
disso o intercâmbio ainda é baixo, só existe de forma efetiva com Argentina, Bolívia,
Chile Paraguai e Uruguai.
Os dados do 1º quadrimestre de 2007 revelam que este modal foi responsável por apenas
0,26% das exportações em termos de valores e, do ponto de vista de quantidade, o modal
ferroviário transportou 0,14% das mercadorias. Do ponto de vista de classificação no
1º quadrimestre de 2007 nas exportações, o modal ferroviário fica apenas na 6ª
posição.
Esta baixa utilização do modal ferroviário no comércio exterior brasileiro pode ser
explicada por alguns aspectos que retratam a situação do setor no Brasil, a exemplo de:
ativos operacionais com contínuo processo de degradação, incapacidade de investimento,
pouca atenção na exploração empresarial do patrimônio não operacional e baixo nível
de satisfação dos usuários. Vê-se portanto, que há uma necessidade de integração
das ferrovias e criação de corredores operacionais de transportes para atendimento das
exportações e da nossa demanda interna, melhorando a produtividade do sistema e
possibilitando a otimização dos recursos operacionais com vistas à redução dos custos
de transportes e aumento da capacidade de cargas. Além disso, outras ações são
necessárias para que o sistema melhore como: integração das ferrovias com os demais
modais de transportes com reduções de custos logísticos, ampliação da integração
entre as malhas ferroviárias e ampliação da utilização do modal.
A análise dos dados das exportações do ano passado (2006), mostram que a utilização
do modal ferroviário ficou em 0,26%, ou seja, o mesmo nível de utilização do 1º
quadrimestre de 2007. No período mais ampliado (janeiro de 1996 a abril de 2007), o
nível de utilização do modal ferroviário nas exportações foi de 0,27%, ou seja, sem
nenhuma alteração e com baixíssimo nível de utilização.
Do ponto de vista das importações o percentual de utilização do modal ferroviário é
menor ainda, no 1º quadrimestre de 2007 foi de 0,13%, no ano passado (2006), o percentual
de utilização do modal ferroviário nas importações brasileiras foi de 0,17% e, no
período ampliado de janeiro de 1996 a abril de 2007 foi de 0,20%. Neste modal os
principais produtos transportados no mercado interno são : minério de ferro, produtos
siderúrgicos e carvão, grãos e fertilizantes e outros granéis.
O transporte ferroviário é considerado um dos mais adequados para o transporte de
mercadorias de baixo valor agregado e grandes quantidades, porém o modal ferroviário
não é tão eficiente em agilidade como o rodoviário, em face de menor flexibilidade no
trajeto e a maior necessidade de transbordo. Mas o Brasil como um país continental,
poderia explorar bem mais este modal que é recomendado para grandes distâncias.
MODAL AÉREO este é o modal de transporte mais
adequado para as mercadorias de alto valor agregado, em pequenos volumes e com urgência
de entrega. Pois este é o modal de transporte mais rápido, porém tem uma menor
capacidade de carga e em geral o frete é o mais caro em relação aos demais modais.
No comércio exterior brasileiro, muitos ainda imaginam que o modal aéreo ainda é muito
pouco utilizado, porém os dados das importações de janeiro de 2006 até abril de 2007
revelam que é o segundo modal mais utilizado nas importações brasileiras em termos de
valor, ficando atrás somente do modal marítimo e apresentando um índice de 24,80% em
termos de valor, porém quando analisamos as quantidades de mercadorias trazidas pelo
modal aéreo, percebe-se um percentual de apenas 0,20%. Esta é a prova de que o modal
transportou produtos de alto valor agregado.
Do lado das exportações o modal aéreo apresenta-se na 3ª posição, considerando-se o
período de janeiro de 1996 a abril de 2007, com um percentual de uso de 7,01% na base de
valor, mas de apenas 0,14% das mercadorias em termos de peso, revelando que é o modal que
utilizamos para enviar mercadorias mais nobres. Registre-se que o modal aéreo também
apresenta a vantagem de possuir um processo de movimentação e armazenagem em áreas
alfandegadas mais eficientes, conseguindo possuir o menor ciclo logístico entre os
modais.
MODAL RODOVIÁRIO o modal rodoviário no Brasil
apresenta um quadro precário que implica no aumento dos custos de manutenção e
perdas de tempos nos processos logísticos, porém ainda é um modal muito utilizado no
transporte interno e também bem utilizado no comércio exterior brasileiro. Do lado
das importações brasileiras no período de janeiro de 2006 até abril de 2007 revela que
o modal rodoviário responde por 6,48 das importações brasileiras e 5,30% em termo do
peso das mercadorias. É o modal que ocupa a 3ª posição no perfil logístico de
importações. Já nas exportações (no período de janeiro de 1996 a abril de 2007), o
modal rodoviário ocupa a 2ª posição entre os modais de exportações do Brasil, o
modal transporta em termos de valor 9,73% das mercadorias brasileiras comercializadas para
o exterior e apenas 1,31% do ponto de vista de peso, com isso, percebe-se que também no
modal rodoviário, do ponto de vista de cenário internacional, existe um maior valor
agregado das mercadorias transportadas. Além disso, podemos destacar algumas vantagens do
modal rodoviário, a exemplo de ter simplicidade no atendimento de demandas e com
agilidade no acesso às cargas, um menor manuseio de carga e menor exigência de
embalagem, é um modal que pode ser interligado facilmente com outros modais, facilitando
e possibilitando a intermodalidade e multimodalidade, possibilidade de entrega direta ao
comprador ou vendedor, possibilitando uma maior comodidade para os exportadores e
importadores.
Mas o Brasil por ser um país continental vem perdendo competitividade pelo uso mais
intensivo deste modal, pois ele é menos competitivo em longas distâncias e, em alguns
casos, possui um frete mais caro. Neste modal, o veículo mais utilizado é o
caminhão tradicional ( o chamado veículo fixo com carroceria aberta em forma de gaiola
ou fechados com a forma de baú. Além dos caminhões também são utilizadas carretas,
cegonheiras, treminhões, etc.
MODAL DUTOVIÁRIO este é um modal muito
pouco conhecido e utilizado no comércio exterior brasileiro. No período de janeiro de
1996 a abril de 20007, nas importações brasileiras, este modal foi responsável por
0,63% das importações em termos de valor e por 3,25% das importações do ponto de vista
de peso. Já nas exportações o uso do dutoviário não existe.
Este é um modal que utiliza a força da gravidade ou pressão mecânica, para através de
dutos realizar o transporte de granéis, vale registrar que é um transporte que não
causa poluição, não congestiona e é relativamente barato.
De acordo com estudos do MDIC Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior, no Brasil, os principais dutos existentes são os seguintes :
Gasodutos para o transporte de gases, destacando-se a recente construção do gasoduto Brasil-Bolívia, com quase 200 Km de extensão, para o transporte de gás natural
Minerodutos aproveita a força da gravidade para transportar minérios entre as regiões produtoras e as siderúrgicas e os portos e.
Oleodutos utilizam o sistema de bombeamento para o transporte de petróleos brutos e derivados aos terminais portuários ou centros de distribuição.
No comércio exterior que envolve o transporte internacional com os seus desdobramentos em pré-transporte (frete interno e na origem), o transporte internacional propriamente dito e o pós-transporte (frete interno no destino), o grande desafio é a implementação da multimodalidade nos transportes, possibilitando que os serviços de consolidação e desconsolidação e movimentação das cargas sejam mais eficientes, possibilitando uma redução do custo Brasil e oferecendo um novo cenário nas dificuldades logísticas enfrentadas pelos empresários que participam das relações comerciais internacionais, convivendo com outras dificuldades externas aos problemas logísticos locais, o desafio está lançado e que a multmodalidade possibilite também uma melhor distribuição na utilização dos modais de transpor do comércio exterior brasileiro.
Tabela 2 Modais de Transportes das Importações Brasileiras 1º Quadrimestre de 2007
Código da Via | Descrição da Via de Transporte | Kg Líquido | US$ |
0 | LINHA DE TRANSMISSAO | 2.862.823,00 | 10.759.608,00 |
1 | MARITIMA | 31.588.113.535,00 | 23.100.855.644,00 |
2 | FLUVIAL | 52.305.605,00 | 39.793.385,00 |
3 | LACUSTRE | 6.911.642,00 | 1.532.185,00 |
4 | AEREA | 76.344.803,00 | 7.783.695.472,00 |
5 | POSTAL | 13.753,00 | 2.164.208,00 |
6 | FERROVIARIA | 95.416.849,00 | 44.455.073,00 |
7 | RODOVIARIA | 1.708.962.306,00 | 1.841.861.318,00 |
8 | TUBO-CONDUTO | 2.342.709.511,00 | 446.772.459,00 |
9 | MEIOS PROPRIOS | 2.593.669,00 | 191.447.179,00 |
Fonte : Sistema ALICE do MDIC
Tabela 3 Modais de Transportes das Exportações Brasileiras 2006
Código da Via | Descrição da Via de Transporte | Kg Líquido | US$ |
0 | LINHA DE TRANSMISSAO | 14.508.925,00 | 147.916.938,00 |
1 | MARITIMA | 406.465.824.035,00 | 114.061.213.273,00 |
2 | FLUVIAL | 10.656.184.161,00 | 888.499.003,00 |
4 | AEREA | 665.531.790,00 | 8.875.686.078,00 |
5 | POSTAL | 151.913,00 | 19.607.148,00 |
6 | FERROVIARIA | 637.862.283,00 | 358.431.036,00 |
7 | RODOVIARIA | 4.786.037.151,00 | 8.946.976.099,00 |
9 | MEIOS PROPRIOS | 1.163.313.255,00 | 4.509.139.956,00 |
Fonte : Sistema ALICE do MDIC
Tabela 4 Modais de Transportes das Exportações Brasileiras 1996 a Abril/2007
Código da Via | Descrição da Via de Transporte | Kg Líquido | US$ |
0 | LINHA DE TRANSMISSAO | 276.527.415,00 | 1.933.419.510,00 |
1 | MARITIMA | 3.169.743.641.665,00 | 671.072.639.376,00 |
2 | FLUVIAL | 97.836.984.482,00 | 8.641.327.270,00 |
3 | LACUSTRE | 9.573.203,00 | 2.654.112,00 |
4 | AEREA | 4.681.202.051,00 | 59.370.679.939,00 |
5 | POSTAL | 107.093.989,00 | 86.881.169,00 |
6 | FERROVIARIA | 4.216.433.760,00 | 2.257.129.897,00 |
7 | RODOVIARIA | 43.787.574.296,00 | 67.136.595.838,00 |
9 |
MEIOS PROPRIOS | 17.709.879.760,00 | 35.902.775.346,00 |
Fonte : Sistema ALICE do MDIC
junho/2.007
Saumíneo da Silva
Nascimento
Especialista em Comércio Exterior, Economista, Pós-Graduado em Comércio Exterior pela
Universidade Católica de Brasília, Doutor em Geografia pela Universidade Federal de
Sergipe, pós-Doutorando em Comércio Exterior pela American World University - AWU e
Diretor de Planejamento e Articulação de Políticas da Superintendência do
Desenvolvimento do Nordeste - SUDENE.
ssn@sudene.gov.br
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