Logística de distribuição de alimentos perecíveis
Genericamente
os alimentos perecíveis são aqueles sensíveis a qualquer tipo de deterioração, seja
biológica, física ou química e que podem ter prejudicadas as suas qualidades para
comercialização e consumo se não forem devidamente acondicionados na origem,
conservados, transportados, dispostos adequadamente nos pontos de venda e nos locais de
utilização.
No atual contexto de competitividade dos mercados, nos quais os agentes da
cadeia de abastecimento pressionam por preços e impõem pedidos (lotes) e prazos cada vez
menores (just-in-time) e os exigentes consumidores cada vez menos fiéis às marcas clamam
por preço, qualidade e disponibilidade, não é possível elaborar uma análise simplista
sob risco de obtenção de resultados totalmente distorcidos.
Para
uma análise adequada da logística de distribuição de alimentos perecíveis deveremos
considerar no mínimo os seguintes aspectos:
-
Visão sistêmica da logística;
-
Caracterização das restrições e condições para preservação;
-
Acondicionamento (embalagem e unitização);
-
Armazenagem (movimentações, estocagens, transferências e transbordos); e
-
Transporte.
Um
equívoco muitas vezes percebido é a análise isolada de apenas um componente da
logística sem levar em consideração os demais e a interdependência que há entre eles.
Daí a importância da visão sistêmica da logística, quando da análise de qualquer dos
seus elementos.
Logística é um processo abrangente que integra o fluxo de materiais e informações,
desde a fase de projeto e planejamento de um produto, recebimento de matérias-primas e
componentes, produção, armazenagem, distribuição e transporte, de forma atender às
necessidades do cliente. Por sua vez, o ciclo descrito é apenas de um dos elos da cadeia
de abastecimento (supply chain), de somente uma das empresas envolvidas.
Se por um lado é importante a visão sistêmica, por outro é necessário
o estudo individual das características, inter-relações e custos dos elementos,
os quais descreveremos sucintamente:
Logística
de suprimentos - caracteriza o início de um ciclo a partir do projeto do produto e da
previsão de demanda: lotes, compras, recebimento, estocagem de matérias-primas e
insumos;
Logística
de produção - tem início com o planejamento, programação e controle da produção
(PPCP), lotes, produção, manuseio, movimentação interna e estoques em processo.
Logística
de armazenagem - recebe os fluxos da produção e providencia a movimentação e estocagem
de produtos acabados, unitização, processamento e expedição de pedidos.
Logística
de distribuição e transporte - efetua o planejamento da distribuição (centralizada,
CDs, atacadistas, varejistas, representantes, etc.), define as modalidades e rotas de
transporte, sendo responsável desde a retirada dos estoques, expedição até a entrega
no local designado pelo cliente.
Fluxo
de informações - é fundamental na logística, contando com modernas ferramentas de TI
(Tecnologia de Informação) como: ERP (software corporativo), EDI (intercâmbio
eletrônico de informações), WMS (gerenciamento de armazém), código de barras,
roteirizadores, rastreadores, etc.
Custo
logístico - é soma dos custos de todos os elementos da cadeia logística, inclusive os
relativos à administração do fluxo de informações.
Além
dos custos dos elementos descritos acima, existem os custos de estocagem nos armazéns, em
processo, centros de distribuição externos, em trânsito, etc., que devem ser detalhados
em custos de: inventário, financeiro de estoque, seguros e segurança, equipamentos,
mão-de-obra, obsolescência, etc.
A partir do exposto acima e entendendo o caráter sistêmico da logística,
poderemos analisar de forma criteriosa e tangível a logística de distribuição de
alimentos perecíveis.
Caracterização das restrições e condições para preservação
Para evitar a deterioração dos alimentos perecíveis devemos entender as
restrições relativas às suas características biológicas, físicas e químicas para
que possamos criar um ambiente favorável à sua preservação.
Algumas
condições que devem ser avaliadas para uma adequada preservação:
-
Biológica e química: contaminação, umidade, ventilação, iluminação, prazo/tempo
(*1), temperatura (*2), exigências sanitárias, etc.;
-
Física: acondicionamento/embalagem/unitização, armazenagem, empilhamento, manuseio
(transbordo), tempo (*1), vibração, impacto, etc.;
(*1)
O tempo normalmente é um fator agravante para as condições de preservação.
(*2)
Normalmente a situação é mais crítica quando o alimento depende de baixas temperaturas
para a sua preservação, neste caso todas as etapas da chamada cadeia do frio
devem ser rigorosamente controladas pois qualquer alteração na qualidade do produto é
acumulativa e não é recuperada.
Para
um correto processo logístico de distribuição de alimentos perecíveis todas as
condições citadas devem ser avaliadas para cada uma das etapas que passaremos a
descrever.
Acondicionamento
(embalagem e unitização)
Acondicionamento, na sua forma mais abrangente, é um item fundamental para preservação
dos produtos em toda a logística de distribuição, principalmente porque normalmente é
especificado em conjunto com o desenvolvimento do produto, tornando difícil qualquer
adaptação durante o processo, desde o momento da embalagem, armazenagem e transporte,
até o ponto de venda e utilização pelo consumidor final.
Além de ser importante para a preservação do produto é vital sob o
aspecto do custo logístico, principalmente da produtividade operacional em todas as
etapas da cadeia de abastecimento.
Funções
Secundária:
é o acondicionamento (bandeja, filme, etc) das embalagens primárias (dúzia, fardo,
etc), normalmente utilizada para disposição no ponto de venda no varejo;
Terciária:
contentores de materiais resistentes (papelão, plástico, madeira, etc) para contenção
das embalagens secundárias, movimentação manual e transporte. Normalmente é a unidade
de atacado;
Quaternária:
unitização das embalagens terciárias (palete) para armazenagem e transporte; e
Quinto
nível: para preservação especial ou envio a distância (contêineres ou embalagens
especiais). É múltipla da quaternária e assim sucessivamente são múltiplas umas das
outras até a primária.
Além das funções citadas acima as embalagens devem se adequar a alguns padrões, por
exemplo: os contentores devem ter um desenho ergonômico e não devem pesar mais de 15kg
com carga; os paletes devem seguir o padrão PBR (para o Brasil) e os contêineres o
padrão ISO (universal).
No caso dos contêineres, além das suas conhecidas características dimensionais (20
e 40), que têm como função principal a unitização (para facilitar as
operações de carregamento e descarregamento) e a preservação física da carga, existem
outras menos aparentes que visam o controle da temperatura, que podem ser:
Refrigerados:
são equipados com sistema de refrigeração (dependem de conexão elétrica externa que
devem ficar ligadas em todas as etapas), e podem manter até 30C negativos.
Normalmente
nos referimos aos contêineres padrão ISO para uso marítimo, ferroviário e rodoviário,
porém, apesar de menos usados, existem os contêineres aéreos que também podem ser
refrigerados.
Um
caso de sucesso de integração produto e embalagem: A Cooperativa Central Mineira de
Laticínios (CEMIL) realizou a primeira exportação mundial de leite líquido longa vida
em embalagem Tetra Pak, que até então era somente em pó. É um fornecimento para a
China de 1,5 milhão de litros por mês.
Armazenagem
Alguns
fatores e atividades que devem ser considerados:
Recebimento
e expedição: é nessa fase que ocorrem as transferências e transbordos, que são menos
problemáticos quando o material está paletizado, porém o manuseio poderá gerar danos
à embalagem e ao produto. Outro aspecto relevante são as instalações físicas pois
esta área tem aberturas que podem contaminar o ambiente (sujeira e temperatura) no
momento da transferência do caminhão, na conferência, quando ficam expostos e pode
ocorrer algum tipo de deterioração. Para agilizar o processo devem ser utilizados
sistemas de código de barras e softwares de gerenciamento de armazéns (WMS);
Estocagem:
conforme já comentado acima não se deve priorizar exclusivamente o aproveitamento de
espaço (densidade), devendo ser o mesmo balanceado com a seletividade (possibilidade de
acesso direto) e freqüência (quantidade de vezes que o produto é acessado).
Instalações
prediais e equipamentos: estes devem ser especificados de forma a otimizar os aspectos
logísticos (densidade, seletividade, freqüência e custos) e os relativos à
preservação do produto (temperatura, contaminação, ventilação entre os paletes,
etc);
Seqüência
de entradas e saídas: como foi visto acima o tempo normalmente é um fator agravante para
as condições de preservação, portanto devem ser tomadas as precauções necessárias
para que os produtos fiquem o menor tempo estocados. Para tal devem ser operacionalizados
os conceitos de FIFO (primeiro que entra é o primeiro que saí) ou o FEFO (primeiro que
expira a validade é o primeiro que sai). Para assegurar com maior acuracidade tal
operação devem ser utilizados sistemas de gerenciamento de armazéns (WMS) e sistemas de
código de barras.
Picking
(separação de produtos para atendimento do pedido): assim como o recebimento e a
expedição essa também é uma área com alta incidência de manuseio e maior
probabilidade de danos à embalagem e ao produto, portanto quando possível deverá ficar
segregada do estoque, tanto para otimizar as atividades logísticas quanto para garantir a
preservação dos produtos. Para agilizar o processo devem ser utilizados sistemas de
código de barras.
Transportes
Fatores
e atividades que devem ser considerados:
Embarque
e desembarque: tem problemas semelhantes aos apresentados na fase de recebimento e
expedição, quando ocorre o transbordo, da mesma forma é menos problemático quando o
material está paletizado (*), e também fica exposto à contaminação externa (sujeira e
temperatura) no momento da transferência de/para o caminhão. Para atenuar o problema é
necessária a existência de instalações adequadas de recebimento e expedição, e para
agilizar o processo devem ser utilizadas docas niveladoras;
(*)
Boa parte do investimento em unitização/paletização e equipamentos de carga e descarga
serão absorvidos pela economia de manuseio e tempo de carga e descarga do veiculo de
transporte.
Transporte:
Como já citado esta é a fase na qual o produto está sujeito às maiores restrições
quanto à manutenção das condições para preservação de produtos perecíveis, sejam
elas biológicas, químicas ou físicas;
Entrou
em vigor em 29 de junho de 2002 a norma NBR 14701, para regulamentar o transporte de
produtos alimentícios refrigerados com procedimentos e critérios de temperatura. Seu
objetivo é manutenção da temperatura adequada ao longo de toda a cadeia de
abastecimento, desde os armazéns frigorificados do produtor até a entrega ao varejo.
Conclusões
2010
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